Roteiro do Silêncio(1959), foi a obra que levaria Hilda rumo ao berço dos poetas essenciais no Brasil: porque descobre na própria delicadeza um diferente sistema poético que transforma sua voz e influência a próxima geração.

“O vocábulo se desprende em longas espirais de aço”.

Roteiro do Silêncio é dividido em cinco elegias (É tempo de parar as confidências), seis sonetos (Sonetos que não são) e mais outros nove poemas (Do amor contente e muito descontente). Inicia sua enunciação poética percorrendo as elegias, no tempo em que “(…) o poeta/ assombrado com as ausências/ resolveu:/ fazer parte da paisagem/ e repensar convivências.” (I), propondo-nos que “ajustemos a mordaça” (II), pois, é necessário silenciar, vivendo intensamente a natureza – como uma própria natureza, sendo parte do que são a terra, as árvores, os pássaros, as pedras, a paisagem, enfim, pois viver e morrer, no tempo presente da farsa é transição; só assim o poeta é transmutação (II):

[…] Porque no tempo presente
Além da carícia,
É a farsa
Aquela que se insinua.
Faço parte da paisagem.
E há muito para se ver
aquém e além da colina.
Há pouco para dizer,
quando a alma que é menina
Vê de um lado o que imagina,
Do outro o que todos vêem:
O sol, a verdura fina
Algumas reses paradas
No molhado da campina.
Ventura a minha, a de ser
Poeta e podendo dizer
Calar o que mais me afeta.
Ventura ter o meu mundo. 

Assim, pelo silêncio, “é tempo para escolher/ o anoitecer nas planuras/ e o contemplar luaceiros/ e é tempo para calar/ a estória dos meus roteiros” (V) para revelar-se o mistério.

Após a renúncia feita às próprias confidências, em Sonetos que não são, Hilda fala do universo do amor como pena, entrega e salvação e há algo de estonteante na construção dos sonetos. Primeiro, por ser a primeira vez que ela publica sonetos, e segundo, porque há neles uma tentativa de libertação das amarras mais fixas, numa construção de sonetos hildianos.