Esta é uma das mais famosas pinturas do brasileiro Almeida Júnior. Temos nessa composição, uma mulher que é a figura central e também a presença de uma janela, elemento tão comum nos quadros do pintor, que tinha predileção por retratar ambientes do dia a dia, tornando assim um mestre na pintura narrativa. Através da janela aberta entra a luz, vê-se apenas uma parte dela. Todo o ambiente é simples, com a parede à esquerda necessitando de reparos, levando o observador a imaginar que se trata de um ambiente rural. As cores da casa, do local se harmonizam com os tons de pele da mulher mostrando que ela pertence a este local.

Saudade. Almeida Júnior. 1899. Óleo sobre Tela (101 x 197) – Pinacoteca do Estado de São Paulo

Uma luz em perpendicular entra pelo primeiro quadrante, passa pelo chapéu, brincos, boca, lágrima, documento, livro e termina no baú entreaberto que conduz nosso olhar na obra.

A postura da mulher voltada para dentro indica introspecção ignorando o universo externo. Com vestimenta preta, de costas para a janela de madeira, e de frente para o observador, com a cabeça baixa e cabelos despencando pela face esquerda, com lágrimas a escorrer-lhe pelo nariz, segura uma foto na mão esquerda, enquanto com a direita cobre a boca com um xale preto. Seu rosto, com os olhos comprimidos, denota uma expressão de grande saudade. Mais do que isso, atente para a fotografia que a mulher traz em sua mão esquerda e para seu braço direito cuja mão cobre o rosto usando o xale, com o intuito de abafar qualquer soluço. É preciso ressaltar no modo como o artista compõe sua obra numa rica estruturação que está diretamente vinculada ao centro de atenção da narrativa.

O chapéu de palha, pendurado na parede, leva a um segundo personagem, ausente da cena, provavelmente o marido. Um baú entreaberto, onde se vê, acima de sua tampa, um velho livro de fotografias, coberto com um véu, reforça o sentimento de solidão e tristeza.


Almeida Júnior (1850-1899), nasceu em Itu, foi pintor da escola realista, na fase madura de sua obra aborda temas nacionais, retratando principalmente cenas rurais paulistas. Em 1869 ingressa na Academia Imperial de Belas-Artes. Viaja para Paris em 1876, com uma pensão dada por dom Pedro II, e aperfeiçoa-se. Pinta obras tipicamente acadêmicas. Volta ao Brasil e exibe na Exposição Geral de Belas-Artes, em 1884. Segue a tendência do retrato clássico, tornando-se conhecido por ser um dos primeiros nomes do academicismo brasileiro a valorizar a temática nacional – mais especificamente a paulista. Recebe a medalha de ouro do Salão Nacional de Belas-Artes em 1898. É assassinado por razões passionais em Piracicaba.