“O souvenir é a relíquia secularizada. O souvenir é o complemento da “vivência”. Nele reflecte-se a crescente auto-alienação do indivíduo que faz o inventário do seu passado como haveres mortos. No século XIX a alegoria abandonou o mundo exterior para se instalar no mundo interior. A relíquia vem do cadáver, o souvenir vem da experiência morta que, eufemisticamente, se designa vivência.”
— Walter Benjamin, in: Parque Central
Sobre o pintor Benjamin Walter Spiers, pouco parece ser conhecido. Tudo o que pude encontrar sobre ele é que esteve ativo entre 1875-1893. Ele pintou algumas naturezas-mortas bastante detalhistas, com diversidade de objetos que, de fato, podem ser considerados como souvernirs, uma memorabília que parece à oferta, à venda e à vista.

Benjamin Walter Spiers
“Old armour, prints, pictures, pipes, China (all crack’d),old rickety tables, and chairs broken back’d”
— Thackeray


Benjamin Walter Spiers
Neste quadro me chama a atenção a forma como o artista trabalhou a luz, a memória e a interação. O espelho redondo central nos fazer circular a a vista e retornar espiralados sempre a ele, que parece ser o único objeto capaz de mostrar quem vê, ainda que ali não mostre nada. É com o reflexo ou imagem dele que podemos entrever o espaldar de uma poltrona, uma estante, um quadro, três vasos sobre um móvel, e o mais importante: o cavalete e a tela do pintor. Este quadro me remeteu à clássica obra O Casal Arnolfini (1434) de Jan Van Eyck, que também traz um espelho circular em sua composição.
