Neste livro, José Gil, filósofo português contemporâneo, trata da convergência de pensamento entre Deleuze e Fernando Pessoa.
- Nota introdutória: Pessoa com Deleuze
- O que é ver?
- O Egito e a escrita heteronímica
- Da diferença à negação
- A infância no devir-outro
- O Fora absoluto
- A construção do plano de imanência
- Nota sobre ontologia e metafísica na poesia de Pessoa
Enfim, cabe interrogar-nos sobre a extraordinária convergência de pensamento entre Pessoa e Deleuze. Creio que ambos visavam os mesmos objetivos: acabar com a transcendência metafísica (pelo menos num certo Pessoa), pensar e escrever (produzindo multiplicidades) na imanência. Como é que este projeto, concebido e realizado em dois campos diferentes, o da poesia e o da filosofia, foi possível, tem certamente a ver com as tendências especulativas de Pessoa, e o amor de Deleuze pela literatura. Mas há talvez uma razão mais funda: se os dois convergiram para o mesmo plano de imanência do pensamento, foi porque um e outro levaram ao seu limite extremo o projeto (poético e filosófico) da modernidade. Do que o modernismo realizou em arte e na literatura, Pessoa foi, de certo modo, e ao lado de tantos outros, Joyce, Eliot, Khlébnikov, Pound, o representante mais radical, mais sistemático e rigoroso, que não só escreveu, mas que teorizou constantemente a sua experiência