Os Náufragos do Louca Esperança – Ariane Mnouchkine e o começo do Théâtre du Soleil

“Mesmo que nós não soubéssemos nada quando nós começamos (e nós não sabíamos nada) descobrimos que o que importava era sermos felizes juntos. E esse é o começo da companhia: um bando de amigos que encara uma aventura junto” explica Ariane sobre o início do Théâtre du Soleil. Este poderia também ser um resumo bem simplificado do espetáculo Os Náufragos do Louca Esperança, que passou pelo Brasil em 2011 e conta a história de um grupo de amigos que resolve fazer um filme às vésperas da primeira guerra mundial.

E o filme de verdade – captado em 16 semanas na Cartoucherie, sede da companhia francesa – se adapta mais um pouco: o mesmo roteiro da peça, adaptado para cinema, ganhou quatro personagens e perdeu uma hora de duração. “No cinema tem algo que acontece no presente, envolvendo os três personagens crianças e uma mulher, que escreve uma tese” explica Ariane. A tese escrita pela personagem cria uma nova fantasia, de que os acontecimentos narrados na peça de teatro tenham sido verdadeiros. São, portanto, 35 personagens e de acordo com Ariane esta multiplicidade foi algo um pouco difícil de transpor para a tela.

Mas a quantidade de pessoas não quer dizer que Ariane considera o Théâtre du Soleil uma grande companhia: “quando as pessoas falam bem do Théâtre du Soleil eu penso: pronto, fizemos alguns laços, mas jamais uma questão de ser grande ou pequeno. E de fato, nós nos imaginamos pequenos. Eu não preciso que nós sejamos grandes. Eu penso que nós somos úteis a um número máximo de pessoas.”

Os Náufragos do Louca Esperança será DVD triplo, com o espetáculo separado em duas partes e um DVD só com extras: um grande making of, entrevistas com todos os atores e técnicos envolvidos e memórias da turnê, tudo produzido por pessoas próximas à companhia francesa, totalizando quatro horas e meia de material.

Em tempo: os náufragos são, de fato, do navio Louca Esperança e não de uma louca esperança qualquer, que eles não perdem nunca.

Ariane Mnouchkine fundou em 1964 o Théâtre du Soleil, que, já na década de 1970, tornava-se uma das maiores companhias nacionais e internacionais. No Soleil, todos recebem o mesmo salário e o elenco definitivo só é decidido após os atores terem passado por diversos papéis. Lá, a abordagem universal das grandes questões políticas e humanas une-se à pesquisa de formas narrativas e à confluência das artes do Oriente e do Ocidente. Centrado em Ariane e seu trabalho com atores, este livro investiga suas convicções sobre questões fundamentais do teatro.
E é claro que não é só isso. O público pode assistir à toda movimentação da trupe como se estivesse no porão daquele cabaré: vê-se a preparação das cenas, mudança de cenários, caracterização dos atores, e a direção do filme.