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Easy to Love

Antologia - Poesia Beat Feminina

Este livrinho é uma bela antologia em português das principais vozes femininas da geração beat norte-americana. Ideal pra ouvir junto de “Easy to Love” da Billie Holiday, do álbum Solitude.

  1. Denise Levertov 🇺🇸 (1923-1997)
  2. Lenore Kandel 🇺🇸 (1932-2009)
  3. Elise Cowen 🇺🇸 (1933 – 1962)
  4. Diane Di Prima
  5. Hettie Jones
  6. Joanne Kyger
  7. Ruth Weiss
  8. Janine Pommy Vega
  9. Mary Norbert Körte 🇺🇸 (1934-2022)
  10. Anne Waldman

Denise Levertov 🇺🇸 (1923-1997) foi uma poeta, tradutora e escritora naturalizada americana, nascida na Grã-Bretanha. Ligada à Geração beat. Foi fortemente influenciada pelos Poetas da Montanha Negra e pelo contexto político da Guerra do Vietnã, que explorou em seu livro de poesia The Freeing of the Dust (1975). Outras publicações: Here and Now (1956), To Stay Alive (1971), The Poet in the World (1973), Oblique Prayers: New Poems (1984), Candles in Babylon (1982), Breathing the Water (1987), The Sands of the Well (1996), This Great Unknowing: Last Poems (2000). Recebeu o Prêmio Literário Lannan de Poesia.


Lenore Kandel 🇺🇸 (1932-2009) conheceu Kerouac em São Francisco e este imortalizou-a numa cena de Big Sur: “é inteligente, leu muito, escreve poesia, estuda o Zen, sabe tudo…” Publicou dois livros: The Love Book (1966) e Love Alchemy (1967), antes de sofrer um acidente de moto em 1970 (com o seu marido na altura, o poeta e membro dos Hells Angels, Billy Frisch) que lhe deixou graves sequelas na coluna. O seu primeiro livro foi acusado de obscenidade e foi confiscado das livrarias; Lenore respondeu ao crescimento das vendas doando uma percentagem à associação de polícias aposentados. Foi a única mulher que leu no mítico Festival Human Be-In em São Francisco.


Elise Cowen

Elise Cowen 🇺🇸 (1933 – 1962) nascida em Nova York, foi amante de Allen Ginsberg. Ambos se conheceram em hospitais psiquiátricos. Elise sofreu de problemas psiquiátricos durante grande parte da sua vida e acabou suicidando-se ao saltar pela janela da casa dos seus pais. Estes, depois tentaram destruir os escritos temendo referências a drogas e lesbianismo. Restaram apenas alguns poemas soltos em revistas literárias. A Ahsahta Press editou os poemas encontrados no único caderno que sobreviveu sob o título Elise Cowen: Poems and Fragments (2014).


Mary Norbert Körte

Mary Norbert Körte 🇺🇸 (1934-2022) nasceu na Califórnia, Mary Norbert Körte foi uma eco-poeta americana ativista, associada ao movimento Beatnik. Ex-freira religiosa católica da região da Baía de São Francisco, na década de 1960 tornou-se poetisa, professora e ativista social. Sua obra publicada inclui vários volumes de poesia. Alguns trabalhos: Hymn to the Gentle Sun (1967), The Generation of Love, (1969), The Midnight Bridge (1970), Mammals of Delight: Poems (1978)

Antologia Poética

Alejandra Pizarnik

Coleção de Poesia, coordenada por Pedro Mexia, tradução de Fernando Pinto do Amaral.

Esta é a mais completa e transversal antologia poética de Alejandra Pizarnik alguma vez publicada em português de Portugal, percorrendo sete livros de poesia e 17 anos de uma criação que teve tanto de breve como de intensa. Envolvido por uma aura mítica, aqui se apresenta o universo noturno, melancólico, oblíquo, sensual e meticuloso da poeta argentina, com seleção de Anna Becciu e Patricio Ferrari.


Alejandra Pizarnik 🇦🇷 (1936—1972) escritora argentina nascida em Avellaneda, Buenos Aires. Estudou filosofia, jornalismo e literatura. Em 1955, publicou o seu primeiro livro, La tierra más ajena, a que se seguiram La última inocencia (1956) e Las aventuras perdidas (1958). Entre 1960 e 1964 viveu em Paris, onde colaborou em revistas, traduziu e contactou Julio Cortázar e Octavio Paz. Este prefaciou-lhe o livro Árbol de Diana (1962). Pizarnik publicou ainda: Los trabajos y las noches (1965), Extracción de la piedra de locura (1968) e El infierno musical (1971). Em 1972, aos 36 anos, internada num hospital psiquiátrico, suicidou-se. Deixou inéditos muitos poemas e prosas, em castelhano e em francês.

Antologia Poética

Cecília Meireles

Esta antologia, publicada pela primeira vez em 1963, revela um precioso auto-retrato da escritora. Além de ser a sua primeira coletânea, foi também a única em que ela própria selecionou todos os poemas, retirados de diversos livros seus, além de poemas inéditos até aquela época. O livro é ótimo para quem nunca leu nada da autora e deseja conhecer os seus escritos mais importantes, pois contém poemas de 13 obras publicadas e mais alguns inéditos, sendo organizados como segue:

  • Viagem
  • Vaga Música
  • Mar Absoluto
  • Elegia (1933-1937)
  • Retrato Natural
  • Amor em Leonoreta
  • Doze Noturnos da Holanda
  • O Aeronauta
  • Romanceiro da Inconfidência
  • Pequeno Oratório de Santa Clara
  • Canções
  • Metal Rosicler
  • Poemas Escritos na Índia
  • Inéditos

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?


Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
— depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…


Canção Excêntrica

Ando à procura de espaço
para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
protejo-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre meu passo,
é distância perdida.

Meu coração, coisa de aço,
começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
– saudosa do que não faço,
– do que faço, arrependida.


Monólogo (p.50)

Para onde vão minhas palavras,
se já não me escutas?
Para onde iriam, quando me escutavas?
E quando me escutastes? – Nunca.

Perdido, perdido. Ai, tudo foi perdido!
Eu e tu perdemos tudo.
Suplicávamos o infinito.
Só nos deram o mundo.

De um lado das águas, de um lado da morte,
tua sede brilhou nas águas escuras.
E hoje, que barca te socorre?
Que deus te abraça? Com que deus lutas?

Eu, nas sombras. Eu, pelas sombras,
com minhas perguntas.
Para quê? Para quê? Rodas tontas,
em campos de areias longas
e de nuvens muitas.


Amém (p.54)

Hoje acabou-se-me a palavra,
e nenhuma lágrima vem.
Ai, se a vida se me acabara
também!

A profusão do mundo, imensa,
tem tudo, tudo – e nada tem.
Onde repousar a cabeça?
No além?

Fala-se com os homens, com os santos,
consigo, com Deus… E ninguém
entende o que se está contando
e a quem…

Mas terra e sol, luas e estrelas
giram de tal maneira bem
que a alma desanima de queixas.
Amém.


Apresentação (p.100)

Aqui está minha vida — esta areia tão clara
com desenhos de andar dedicados ao vento.

Aqui está minha voz — esta concha vazia,
sombra de som curtindo o seu próprio lamento.

Aqui está minha dor — este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.

Aqui está minha herança — este mar solitário,
que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.


Canção do Amor-Perfeito (p.118)

O tempo seca a beleza.
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.


Coração de pedra (p.241)

Oh, quanto me pesa
este coração, que é de pedra!
Este coração que era de asas
de música e tempo de lágrimas.

Mas agora é sílex e quebra
qualquer dura ponta de seta.

Oh, como não me alegra
ter este coração de pedra!

Dizei por que assim me fizestes,
vós todos a quem amaria,
mas não amarei, pois sois estes
que assim me deixastes, amarga,
sem asas, sem música e lágrimas,

assombrada, triste e severa
e com meu coração de pedra!

Oh, quanto me pesa
ver meu próprio amor que se quebra!
O amor que era mais forte e voava
mais que qualquer seta!


Canto aos bordadores de Cachemir (p.289)

Finos dedos ágeis
como beija-flores,
voais sobre as sedas,
sobre as lãs macias,
com finas agulhas,
ó bordadores,
semeais primaveras
recolheis primores.

Os jardins do mundo
aos vossos bordados
não são superiores
ó bordadores,
e voais, finos, dedos,
para longe, sempre
para novas sedas,
como beija-flores,
com o bico luzente
de finas agulhas,
ó bordadores,
atirando fios,
aos fios do arco-íris,
recolhendo cores,
desenhando pontos,
inventando flores
que não morrem nunca,
ó bordadores,
de sol nem de chuva
nem de outros rigores.


Humildade (p.298)

Tanto que fazer!
livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis…
até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás de grades de chuva.
E os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos,
nem pra quê.


Família

Temos uma família desfeita na terra:
(Ó ternos corações, ó fechados olhos onde costumávamos habitar!)
mas dessa não temos notícia:
e o nosso amor é uma rosa sobre muros de sombra.

Temos uma família muito distante,
em aposentos que não vemos, em países que jamais iremos visitar!
Dessa temos notícias, eventualmente:
mas o nosso amor é uma rosa que murcha incomunicável.

Temos uma família próxima, algumas vezes,
que se move, e nos fala, e nos vê,
mas entre nós pode não haver notícias:
e o nosso amor é um muro sem rosas.

Temos muitas famílias, havidas e sonhadas.
São as nuvens do céu que levamos sobre a alma,
as espumas do mar que vamos pisando.
Nós, porém, continuamos viajantes solitários:
e a rosa que levamos no coração, comovida,
também se desfolha.

(Ou pode ser que, afinal, a rosa seja unânime
e eterna
em sobre-humana família.)


P. S.: O poema Motivo, de Cecília Meireles foi musicado pelo cantor Fagner.

 


Cecília Meireles 🇧🇷 (1901-964), foi poetisa, jornalista e professora, nascida no Rio de Janeiro e considerada umas das maiores escritoras do Brasil. Escreveu sobre educação e fundou a primeira biblioteca infantil do país. Publicou mais de 50 obras. Em 1938, recebeu o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras. Lecionou Literatura na UFRJ e na Universidade do Texas. Foi Doutor Honoris Causa pela Universidade de Delhi. Sua obra poética é um a busca do eterno, um trabalho do luto, com essências e valores transcendentais.