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Roma

Daniel Jonas

Roma
é como as ruínas

de uma relação amorosa

restos de
beleza

a céu aberto


Daniel Jonas, CÃES DE CHUVA, edição Assírio & Alvim

O cavaleiro inexistente

Italo Calvino

Nessa espécie de romance de cavalaria às avessas, Italo Calvino põe em marcha toda a sua habilidade construtiva e capacidade alegórica, mas também a sua verve humorística, para contar as aventuras e desventuras de Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura, o cavaleiro inexistente da corte de Carlos Magno. Circundado por uma galeria de personagens que compõem um verdadeiro exército brancaleônico, Agilulfo serve com fé a causa da cristandade. De permeio, tem de lidar com uma querela em torno de sua nobre reputação, espelhada na armadura trazida sempre imaculadamente alva, embora paradoxalmente vazia. Como nos demais romances da trilogia Nossos antepassados, Calvino mergulha nos tempos heróicos da cavalaria medieval, vistos aqui em chave burlesca, utilizando como narrador uma freira confinada no convento, cuja penitência é justamente escrever a história desse cavaleiro sui generis. Afinal, como nos lembra O cavaleiro inexistente, só se pode ser senhor gerente de tudo a própria pessoa que for vazia e sem substância.

“Como era possível aquele fechar de olhos, aquela perda de consciência de si próprio, aquele afundar num vazio das próprias horas e depois, ao despertar, descobrir-se igual a antes, juntando os fios da própria vida, Agilulfo não conseguia saber.”


Italo Calvino 🇮🇹 (1923—1985) formado em Letras, iniciou o curso de Agronomia, mas abandonou e foi participar da resistência ao fascismo durante a II Guerra Mundial. Depois conheceu diversos militantes comunistas, passou a trabalhar no jornal L’Unità e na editora Einaudi. Foi membro do Partido Comunista Italiano até 1956, tendo se desfiliado um ano depois. A sua carta de renúncia ficou famosa. Sua primeira obra foi Il sentiero dei nidi di ragno (1947). Uma de suas obras mais conhecidas é Le città invisibili (1972). Por que ler os clássicos?

Um deus passeando pela brisa da tarde

Mário de Carvalho

Lúcio Valério Quíncio é o magistrado de Tarcisis, cidade romana da Lusitânia no século II d. C. Como dirigente máximo, cabe-lhe tomar todas as decisões, enquanto tumultuosos acontecimentos conduzem a pequena cidade ao descontentamento geral. No exterior, notícias de uma invasão bárbara iminente, proveniente do Norte de África, obrigam-no a drásticas medidas, enquanto, no interior das muralhas, uma nova seita, a Congregação do Peixe, põe em causa os valores da romanidade, evocando os ensinamentos de um obscuro crucificado. No plano íntimo, a paixão devastadora por uma mulher, Iunia Cantaber, perturba-o e confunde-o, mas sem o afastar do cumprimento do dever.

“Os mais notáveis nada tomavam a sério;
a plebe não tomava a sério os notáveis.”

Neste romance em que a ficção se sobrepõe à História, traduzido em nove línguas e galardoado com o Prémio de Romance e Novela da APE, o Prémio Fernando Namora, o Prémio Pégaso de Literatura e o Prémio Literário Giuseppe Acerbi, Mário de Carvalho reconstitui as características culturais, políticas e quotidianas do Império Romano, sem nunca esquecer a “intercessão de certo deus que, nos primórdios, ao que parece, passeava num jardim pela brisa da tarde…”

“Não se apagam as realidades destruindo-lhes os símbolos.”

 


Mário de Carvalho 🇵🇹 (1944–) nasceu em Lisboa, fez Direito e viu o serviço militar interrompido pela prisão. Desde muito cedo ligado aos meios da resistência contra o salazarismo, foi condenado a dois anos de cadeia, tendo de se exilar após cumprir a maior parte da pena. Depois da Revolução dos Cravos, em que se envolveu intensamente, exerceu advocacia em Lisboa. O seu primeiro livro, Contos da Sétima Esfera, causou surpresa pelo inesperado da abordagem ficcional e pela peculiar atmosfera, entre o maravilhoso e o fantástico.