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às vezes se deseja escapar da estupidez

Boris Pasternak

Como às vezes se deseja escapar da estupidez sem sentido da eloquência humana, de todas essas frases sublimes, para refugiar-se na natureza, aparentemente tão inarticulada, ou na falta de palavras de um longo trabalho árduo, de um sono profundo, de uma música verdadeira, ou de uma compreensão humana, emudecida pela emoção.

[…] E assim se concluiu que somente uma vida semelhante à vida daqueles ao nosso redor, mesclando-se a ela sem murmúrio, é vida genuína, e que uma felicidade não compartilhada não é felicidade. E isso era o mais perturbador de tudo.

In: Doutor Jivago


How one wishes sometimes to escape from the meaningless dullness of human eloquence, from all those sublime phrases, to take refuge in nature, apparently so inarticulate, or in the wordlessness of long grinding labor, of sound sleep, of true music, or of a human understanding, rendered speechless by emotion.

Dr. Zhivago


Boris Pasternak 🇷🇺 (1890-1960) Prêmio Nobel,

Enfin seule!

Jean-Louis Forain

“Sometimes the remembrance in tranquility is better than the event.”
Wordsworth

Ahh! Estar sozinha – existe algo mais doce no mundo? Bom, há coisas melhores… Mas, estar sozinha, ficar sozinha é um presente precioso às vezes. Por isso que a aquarela “Enfin seule!”  (1890) de Jean-Louis Forain do Musée d’Orsay me atrai. A aquarela mostra uma mulher tranquila em ambiente intimista, vestida com roupas íntimas e meias pretas, recostada na cama com os pés para cima, fumando um cigarro, em devaneios. O estilo combina com o clima despreocupado, é tão vago que parece mais um esboço do que uma pintura devidamente acabada. A paleta de cores é simples, além do cinza e do preto, o roxo e o marrom-amarelado dos cabelos. O uso da cor nas fases preliminares é comum na obra de Forain. Adoro como a fumaça do cigarro é desenhada a caneta. A obra também mostra domínio do manuseio da caneta e aquarela. Liberdade e rapidez de execução bem como o encurtamento bem sucedido do corpo a demonstrar a precisão da observação de Forain e sua capacidade de transcrever, com um grande economia de meios, uma imagem complexa.

Uma citação do diário de Anais Nin:

“Quero fugir só para ficar a sós com meus sentimentos por você”

Forain in Le Courrier Francais


Jean-Louis Forain 🇫🇷 (1852-1931) foi um pintor e gravador impressionista francês, trabalhando em mídias que incluem óleos, aquarela, pastel, água-forte e litografia. Comparado com muitos dos seus colegas impressionistas, ele teve mais sucesso durante a sua vida, mas sua reputação hoje é muito menos exaltada.

Esfumaçar bordas

Adriana Lisboa

Esfumaçar bordas
destituir centros
incendiar matrizes
um instante de indulto:

estar só no mundo.


In: Adriana Lisboa, in Deriva


Adriana Lisboa (1970–) nascida no Rio de Janeiro, ficcionista, poeta, ensaísta e tradutora, publicou, entre outros livros, os romances Sinfonia em branco (Prêmio José Saramago), Um beijo de colombinaRakushishaAzul-corvo (um dos livros do ano do jornal inglês The Independent), Hanói (um dos livros do ano do jornal O Globo) e Todos os santos; os poemas de Parte da paisagem, Pequena música (menção honrosa do Prêmio Casa de las Américas, um dos livros do ano da revista Bravo!), Deriva e O vivo; o ensaio autobiográfico Todo o tempo que existe (um dos livros do ano da Folha de São Paulo); os contos de Caligrafias e O sucesso.