🎭 Teatro

Hammer, uma noite inteira em dois atos

Alexander Ekman

Bailado do multipremiado coreógrafo sueco

Uma comunidade harmoniosa compartilha um estilo de vida altruísta inspirado na era hippie. Correm, brincam, cantam e aproveitam a vida. Mas, lentamente, a comunidade avança em direção à era moderna com a sua vigilância omnipresente. O comportamento do grupo torna-se cada vez mais egoísta e individualista. O segundo ato, passa-se num lugar diferente. Encontramos um grupo de pessoas autoconscientes em bolhas solitárias. Eventualmente, incapazes de lidar com as falsas pretensões, são forçadas a abandonar a fachada da sua imagem consciente e a regressar a uma existência altruísta. O multipremiado coreógrafo sueco Alexander Ekman é ousado, imprevisível e inovador, assim como a Göteborgs Operans Danskompani. O seu trabalho visualmente poderoso destaca a autoimagem da sociedade contemporânea, muitas vezes com um toque humorístico. Ekman criou cerca de 50 obras, que foram apresentadas por quase o mesmo número de companhias de dança em todo o mundo. Hammer, uma noite inteira em dois atos, com música de Mikael Karlsson, é o seu terceiro trabalho para Göteborgs Operans Danskompani.

Para Lá da Terra

GEFAC

Para Lá da Terra é um espectáculo do GEFAC, que reune todas as vertentes artísticas do grupo – música, dança e teatro – em torno do tema da Morte na cultura popular portuguesa. O tratamento da morte pelo povo português nas perspectivas comunitária e individual está envolto de manifestações de grande diversidade entre as regiões do país. Se para poder morrer basta existir, o quotidiano e imaginário português estão repletos de ritos e ditos que libertam os vivos da sua morada terrena, encomendam almas para que atravessem a suspensão do purgatório, trazem de volta, de tempos a tempos, a presença dos nossos mortos, para que ceiem connosco outra vez. Aqui se debruça o GEFAC para levantar do chão o nosso espetáculo.

1 a 3 de novembro de 2023 no Convento São Francisco, Coimbra, Portugal

TEMAS

  • Rosinha Costureira (Coutada, Covilhã)
  • Recordai (Alcoutim, Algarve)
  • Fandango (Minho)
  • Vira do Salto (Ponte da Barca)
  • Martirios (Beira Baixa)
  • A Vida do Jogador (Ervedosa, Vinhais)
  • Martírios do Senhor (Baleizão, Beja; Zebreira, Idanha-a-nova)

O começo dos tempos chegou predizendo o seu fim. É nesse entretanto a que chamamos agora, antes e depois, que vamos dando sentido às vidas para que se saiba que existimos. A morte é, afinal, renascimento – ou não haveria razão para dobrar os sinos pelos mortos ou para encomendar as almas – mesmo que a dor se revele no pranto das carpideiras ou em lamentação mais comum. É deles a voz, ainda que caiba aos vivos o anúncio dos renasceres.

“De tempos a tempos, a presença dos nossos mortos.
É por eles que os sinos dobram.”

@claudiamoraisphotography

Ti Coragem & Filhos Lda.

Teatrão

A criação teatral é uma adaptação da obra artística “Mãe Coragem e Seus Filhos”, de Bertolt Brecht, produzida em 1939. Com tradução de António Sousa Ribeiro e a dramaturgia de Jorge Louraço Figueira, a peça explora o papel da guerra como aliada do sistema capitalista pós-neoliberal em que vivemos. Os sete atores (Eva Tiago, Dinis Binnema, Hugo Inácio, Isabel Craveiro, João Santos, Margarida Sousa e Rui Damasceno) de “Ti Coragem & Filhos Lda.” vão distribuir-se por 30 personagens. A peça vai ser complementada pela atuação musical de três artistas sob a batuta de Vítor Torpedo.

Portugal, verão de 2024. Dirigindo-se à plateia está um grupo de especialistas do exército nacional, com a missão de assegurar o direito de todos a participar no esforço de guerra, e proporcionar o acesso de toda a gente à linha da frente, garantindo parte, claro, do respetivo soldo. O grupo é chefiado por um capitão, velho combatente da guerra colonial, e inclui homens que fizeram o tirocínio nas intervenções na ex-Jugoslávia. Os homens mostram o lado positivo da guerra, em especial como a microeconomia de guerra é o melhor modelo de desenvolvimento económico e social na atual conjuntura histórica, facilitando a integração na economia global, e promovem o acesso ao combate, incentivando as pessoas a criar a sua própria unidade, o seu próprio negócio, contribuindo para a economia local.

Um bom exemplo de parceria civil-militar é caso da conhecida empresa Ti Coragem, cuja tradição recua aos anos 1940, e que foi percursora do empreendedorismo de guerra, reinventando processos nos anos 1970 e 1980, e assim antecipando as tendências de gestão. O grupo de militares mostra num power-point a trajetória de Ti Coragem, que começou o negócio com uma velha carrinha recuperada, com um projeto autossustentado de comércio de bens indispensáveis que no calor da batalha providenciava aos militares de ambos os lados tudo o que era necessário para garantir o seu bem-estar e sobrevivência, e, deste modo, a continuidade da guerra. O projeto foi-se desenvolvendo aos poucos, tendo dado origem ao império que todos conhecem hoje em dia, e teve tal sucesso logo no início que de imediato os filhos foram recrutados pela administração militar, assumindo papéis de gestão e consultoria junto das forças armadas.

A Mãe Coragem, uma das figuras centrais, é personificada pela diretora do Teatrão, Isabel Craveiro, que retrata a empreendedora que “engorda da guerra que dá o pão”, mas a quem não quer entregar os seus filhos. No entanto, fica o alerta:

“se com a guerra quer ganhar, algo vai ter de lhe dar”.

Isabel Craveiro como Ti Coragem