A Teus Pés parece ser o livro mais conhecido da poeta, professora e crítica brasileira Ana Cristina Cesar, pertencente à chamada geração mimeógrafo. Originalmente publicado pela editora Brasiliense em 1982, um ano antes do suicídio de sua autora, a obra reúne, na verdade, três livros de edições anteriores, intitulados Luvas de Pelica, Correspondência Completa e Cenas de Abril.

“Inventar o livro antes do texto. Inventar o texto para caber no livro.”

Comprei este volume de bolso ao puro acaso, na obrigação (meio que assim) de ler qualquer coisa que fosse da autora homenageada, já que eu estava confirmada de ir a Flip deste ano e já que o livreto pulara nas minhas mãos. Ela era ótima, eu deveria tê-la conhecido na minha época de PUC-SP (ela também fez PUC, no Rio). Mas isso não aconteceu, só agora, na mesma idade fatídica da autora, é que resolvi participar desse encontro com sua obra mais importante.

“O terapêutico não se faz de inocente ou rogado.”

Mas a verdade é que esse tipo de leitura marcada, com data pra terminar, com sugestão exterior, nunca deu certo pra mim. E eu ainda decidi ler o livreto de carreira, como se diz, crente que seria rápido, forte, fácil. Mas poesia não se lê assim, já sabemos bem. Pra piorar eu estava em viagem, sem tempo livre para ler, muito menos sentir a poesia. Então, a leitura foi um pouco penosa, preciso admitir. Mesmo me identificando com cada letra, com cada vão, eu não conseguia fluir.

“…canteiro de taquicardias…”

Como Ana Cristina César era muito crítica, como lembram amigos da autora, ela mesma demorou e relutou em publicar seus escritos, voltando-se para edições duplicadas através de mimeógrafos, como outros colegas da época. Isso permitiu que ela experimentasse bastante a arte de editar suas próprias obras, o que é comum na literatura, mas sempre muito especial e curioso para mim.

“Vergonha ricocheteia.”

Misturando prosa e poesia e gêneros de prosa (carta e diário), A Teus Pés possui poemas fragmentados, com uma linguagem íntima e confessional, que relatam o cotidiano de maneira desconstrutiva. Retrata com dor e elegância as vivências e impressões cotidianas de uma poeta densa e delicada.

“Sonsa do bom-senso.”

O texto aparentemente é desconexo, repleto de saltos e versos que não se completam. Passagens de seu diário e de correspondência também nos dão a impressão de que as entrelinhas trazem silêncios, reticências que suspendem o entendimento. Mas não se trata de uma literatura de entrelinhas, esses vazios e espaços seriam apenas o não-dito, trazendo não só o aspecto coloquial da linguagem, mas também a interação entre o lírico e o leitor implícito.

“As aparências desenganam.”

Na Flip 2016 havia uma passagem com várias fotografias de Ana Cristina César em suas viagens, que foram várias. No livro ela traz muitas referência a essas viagens, trazendo partes eme inglês e francês, além de alusões diretas aos lugares que visitou. Ana Cristina César não é da água, mas do ar. E em muitos momentos eu não consegui me jogar, como ela, com ela, nas ideias dela.