Os almoços de família na casa da avó de Marjane Satrapi, em Teerã, terminavam sempre com o mesmo ritual – enquanto os homens iam fazer a sesta, as mulheres lavavam a louça. Logo depois começava uma sessão cujo acesso só era permitido a elas – o ‘bordado’. O ‘bordado’ iraniano seria equivalente ao brasileiríssimo ‘tricô’, não fosse uma acepção bastante particular – a expressão designa também a cirurgia de reconstituição do hímen, uma decisão pragmática para as mulheres que não abrem mão de ter vida sexual antes do casamento, mas sabem que precisam corresponder às expectativas das forças moralistas do país. O grupo que se reúne na casa da avó de Marjane é uma amostra de mulheres com moral e experiência bastante variadas, mas sempre às voltas com o machismo e a tradição. Casamentos malfadados, virgindades roubadas, adultérios, frustrações, golpes e autoenganos, mostram que no Irã amar e desamar pode ser ainda mais complicado do que podemos supor.