Se em Persépolis Marjane Satrapi empreendeu um relato autobiográfico, em Frango Com Ameixas não é sua própria vida que está em foco, mas a de seu tio. Artista como ela, Nasser Ali começa a narrativa com uma tragédia pessoal – durante uma briga, sua mulher destrói o antigo e precioso tar (um instrumento de cordas da tradição persa) que o celebrizara como um dos maiores músicos do país. Nasser Ali sai em busca de um novo instrumento, mas parece impossível encontrar um que tenha o som tão perfeito como o que ele herdara na juventude, durante seus anos de formação. A procura pelo tar o leva a conflitos com a família, os amigos e sua própria identidade de artista – é como se ela tivesse se rompido junto com o instrumento. Começam a vir à tona, então, as escolhas que ele poderia ter feito e as conseqüências das opções que fez, como a de se casar com a mulher que viria a destruir o seu maior bem. O que pode parecer uma história bastante específica se mostra universal. Sobreposta à biografia de Marjane – uma artista que só encontrou seu meio de expressão ao enfrentar os conflitos políticos e culturais de seu país -, a história pode ser lida como um manifesto pela liberdade de criação artística e pela arte como sinônimo máximo da individualidade. O tom predominante, marcadamente triste, não impede que o humor se infiltre.