O Pobre Tolo, escrito em 1923 e reescrito sete anos mais tarde, sob a designação de “elegia satírica”, é, segundo Tolentino de Mendonça, no seu prefácio a esta obra, uma “fantasia ao crepúsculo”, um “drama sonhado na ponte de S. Gonçalo”.

No meio da ponte de S. Gonçalo, em Amarante, tendo, de um lado, a rua do Cuvelo e, do outro, o Largo, entre as duas margens do Tâmega, esse “rio de verdes sombras liquefeitas”, encontra-se um pobre tolo que, “parado e pasmado”, contempla o rio. “Não vou nem fico, não me decido”, afirma, não conseguindo resolver-se quanto ao rumo a tomar. Parece estar condenado a permanecer no mesmo local, convivendo com os fantasmas que passam, discutindo a existência consigo mesmo.


Teixeira de Pascoaes, O Pobre Tolo, ed. Assírio & Alvim


Teixeira de Pascoaes 🇵🇹(1877-1952), pseudônimo de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, nascido em Amarante, foi um poeta, escritor e filósofo português e um dos principais representantes da Renascença e do Saudosismo. De família da aristocracia rural, foi uma criança introvertida e sensível, propensa à contemplação nostálgica. Em 1901 se forma em Direito pela Universidade de Coimbra, mas não participa da boemia coimbrã, passando o seu tempo, monasticamente, no quarto, a ler, a escrever e a refletir. Teve muitos contatos no exterior e foi um bibliografista notável. Publicou, entre outros, O Doido e a Morte (1913), Elegia da Solidão (1920), Versos Pobres (1949).