🦆 Patrícia

Categoria dedicada a minha filha Patrícia, que viveu nove lindos meses no meu ventre e agora segue em meu coração, nos meus sonhos, no olhar do pai dela e nos detalhinhos bonitos que colecionamos em sua homenagem.

Les Etoiles

Grandville

J. J. Grandville é claramente um artista da era romântica francesa. Sua litografia “Métamorphoses dans le sommeil” e a série de ilustrações “Les Fleurs Animées”, nas quais as flores são retratadas como donzelas, são exemplos. Sua série “Les Etoiles” de 1849, das publicações de G de Gonet Editeur, é das que mais me fascinam. Afinal, a noite é muito mais romântica que o dia. As estrelas são mais misteriosas que o sol. E na maravilhosa imaginação romântica que beira o surrealismo de Grandville, as estrelas novamente são personificadas como belas criaturas celestiais, vestidas com a moda da época. Os detalhes das estrelinhas em tons pasteis são iluminados e celebrativos.


“One day, though it might as well be someday
You and I will rise up all the way
All because of what you are
The prettiest star…”

David Bowie
(The Prettiest Star)


“L’Étoile Filante” de J. J. Grandville é a ilustração que escolhi para a capa deste post, mostra dois amantes sentados em algum prado, à noite e no céu eles testemunham uma estrela cadente, que aparece por um momento, de modo intensamente brilhante e forte no céu noturno e depois desaparece em uma explosão de beleza. Brilhos verdinhos, lilases, castanhos… E é tão raro ver uma estrela cadente que ninguém se esquece do momento em que a viu, nem a pessoa com quem estava. Os longos cabelos da personificação da estrela lembra  o véu da noite e acompanham a camisola lisa.


“L’Étoile du Matin” de J. J. Grandville mostra a estrela da manhã personificada como uma mulher em um vestido da década de 1840 e uma capa preta curta. Cabelos macios dançam ao redor do rosto pálido e estrelas coloridas e brilhantes dançam acima de seu vestido e capa de uma forma descolada. Ela desliza pelo céu noturno em uma embarcação de nuvens subservientes. Ela parece uma deusa. Tão suave quanto as nuvens, inatingível, fugaz, pois anuncia um novo dia e a derrocada da noite… por um tempo. Do chão, ela é observada por camponeses e um galo curioso, retratado em cores, para provar sua importância.


 

“L´Étoile du Berger” de J. J. Grandville é uma estrela personificada como uma mulher muito elegante; seu cabelo é adornado com muitas, muitas estrelas e a estrela que ela usa como capacete é ainda mais grandiosa. Em contraste com o traje da moda, seus olhos parecem bêbados, ou pelo menos ela parece uma espécie de névoa; do amor, drogas ou alegria, quem sabe. Ela está sendo vigiada por pastores, um cachorro e algumas ovelhas. Quão mágica e etérea ela é comparada à vida pesada, séria e aborrecida lá embaixo.


 

“L’Étoile du Soir” de J. J. Grandville tem um clima mais  gótico. A ilustração mostra a estrela personificada como uma moça na varanda, não da torre de um castelo, mas de uma nuvem e olhando para a noite. Ela deveria se olhar no espelho, pois nada é tão lindo quanto a própria estrela da tarde! Há raios de poeira estelar dourada brilhando ao redor de sua cabeça e podemos ver a lua ao longe atrás dela. Na parte inferior da ilustração, na terra, há um castelo sombrio e isolado e morcegos voando de maneira ameaçadora. E, no entanto, a aura em torno da escada noturna é tão serena e pura que nem a escuridão do castelo ou a ameaça dos morcegos apagam a magia da estrela.


Jean Ignace Isidore Gérard 🇫🇷 (1803 –1847) foi um prolífico ilustrador e caricaturista francês que publicou sob o pseudônimo de Grandville e numerosas variações. Críticos o chamaram de “a primeira estrela da grande era da caricatura francesa”, e descreveram suas ilustrações como “elementos do simbólico, onírico e incongruente”, mantendo um senso de comentário social, e “a mais estranha e perniciosa transfiguração da forma humana já produzida pela imaginação romântica”. Os vegetais antropomórficos e as figuras zoomórficas que povoaram seus desenhos anteciparam o trabalho de gerações de ilustradores.

Se o amor, como tudo, é questão de palavras

Luis Garcia Montero

Se o amor, como tudo, é questão de palavras,
aproximar-me do teu corpo foi criar um idioma.


Luis Garcia Montero (excerto do poema O Amor), As Lições da Intimidade, tradução de Nuno Júdice, edição abysmo


Luis Garcia Montero 🇪🇸 (1958–) Nascido em Granada, casado com Almudena Grandes.

Tudo neste mundo provém duma luz que se apagou…

Teixeira de Pascoaes

Tudo neste mundo provém duma luz que se apagou…

Por isso, eu vi na Sombra a essência das cousas, a luz da vida, a alma!


Teixeira de Pascoaes, Verbo Escuro, ed.


Teixeira de Pascoaes 🇵🇹(1877-1952), pseudônimo de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, nascido em Amarante, foi um poeta, escritor e filósofo português e um dos principais representantes da Renascença e do Saudosismo. De família da aristocracia rural, foi uma criança introvertida e sensível, propensa à contemplação nostálgica. Em 1901 se forma em Direito pela Universidade de Coimbra, mas não participa da boemia coimbrã, passando o seu tempo, monasticamente, no quarto, a ler, a escrever e a refletir. Teve muitos contatos no exterior e foi um bibliografista notável. Publicou, entre outros, O Doido e a Morte (1913), Elegia da Solidão (1920), Versos Pobres (1949). 


Naeemeh Naeemaei 🇮🇷 (1984) The Moon Falls a Thousand Times, (2019) Há um conto popular iraniano sobre um Leopardo orgulhoso que despreza a todos. Uma noite ele encontra a Lua e tenta substituí-la. Vai até um penhasco e salta de lá para alcançá-la, caindo para a morte. É sobre arrogância. Outro conto baseia-se em uma história verídica da vila de Kandelous. Uma moça faz amizade com um belo Leopardo. Mas seu pretendente, que a corteja sem sucesso, atira no bicho por ciúme, matando-o tragicamente. É sobre limites. A pintura traz as duas lendas: uma mulher carrega sozinha, nos ombros, o corpo do seu luto pessoal, mas tem “luas sob os pés para respeitar o desejo do Leopardo de estar acima da Luz”.