Os que partem do nordeste fustigado pela seca forneceram a Graciliano Ramos o material para sua obra mais popular: Vidas Secas. Os que ficam lhe permitiram construir o romance que o projetou como um dos maiores escritores brasileiros: São Bernardo.

Como a paisagem árida e impiedosa do sertão nordestino, a narrativa de Graciliano se vale apenas do essencial. Para ele, o mundo não libera encantos, as paisagens são apenas pontos de referência entre os quais os personagens se movem. Esta linguagem crua e despojada está presente em São Bernardo, romance que tem a força de uma tragédia rural brasileira.

Determinado a ascender socialmente, Paulo Honório é um sertanejo de origem humilde que faz fortuna como caixeiro-viajante e agiota. Numa manobra financeira, assume a decadente propriedade São Bernardo, fazenda tradicional do município de Viçosa, Alagoas.

Ele recupera a fazenda, expande a sua cultura, introduz máquinas para tratamento do algodão, entra na sociedade local. Desejando um herdeiro para um dia assumir o fruto da acumulação do capital, estabelece um contrato de casamento com a professora da cidade, Madalena.

O casamento se consuma, mas gradativamente as diferenças entre eles se acentuam. Paulo Honório é brutal no trato com os empregados, cujo trabalho explora impiedosamente; Madalena tem consciência social e se solidariza com os oprimidos.

O fazendeiro torna-se paranoico e passa a imaginar que a mulher o trai. Persegue-a em busca de provas da traição. Madalena não suporta a pressão e se suicida. Paulo Honório penosamente tenta assumir a consciência de seus atos.


ADAPTAÇÃO

Adaptado para o cinema pelo diretor Leon Hirzsman, o filme conta a história de Paulo Honório, um homem simples que, movido por uma ambição sem limites, acaba por se transformar num grande fazendeiro do sertão alagoano, e casa-se com Madalena para conseguir um herdeiro. Incapaz de entender a ótica humanitária pela qual a mulher vê o mundo, ele tenta anulá-la com seu autoritarismo. Com este personagem, Graciliano traça o perfil da vida e do caráter de um homem rude e egoísta, do jogo de poder, e do vazio que acompanha sua perigosa escalada, onde não há espaço nem para a amizade, nem para o amor. São Bernardo surge, dessa forma, como o mais contundente romance sobre a solidão escrito em nossa língua.

Othon Bastos como Paulo Honório

São Bernardo, 1972

Ano: 1972. Gênero: Drama. Direção: Leon Hirszman, com Othon Bastos, Isabel Ribeiro, Vanda Lacerda, Nildo Parente, Mário Lago, Josef Guerreiro, Rodolfo Arena, Jofre Soares, José Labanca, José Policena, Andrey Salvador.