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Tudo neste mundo provém duma luz que se apagou…

Teixeira de Pascoaes

Tudo neste mundo provém duma luz que se apagou…

Por isso, eu vi na Sombra a essência das cousas, a luz da vida, a alma!


Teixeira de Pascoaes, Verbo Escuro, ed.


Teixeira de Pascoaes 🇵🇹(1877-1952), pseudônimo de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, nascido em Amarante, foi um poeta, escritor e filósofo português e um dos principais representantes da Renascença e do Saudosismo. De família da aristocracia rural, foi uma criança introvertida e sensível, propensa à contemplação nostálgica. Em 1901 se forma em Direito pela Universidade de Coimbra, mas não participa da boemia coimbrã, passando o seu tempo, monasticamente, no quarto, a ler, a escrever e a refletir. Teve muitos contatos no exterior e foi um bibliografista notável. Publicou, entre outros, O Doido e a Morte (1913), Elegia da Solidão (1920), Versos Pobres (1949). 


Naeemeh Naeemaei 🇮🇷 (1984) The Moon Falls a Thousand Times, (2019) Há um conto popular iraniano sobre um Leopardo orgulhoso que despreza a todos. Uma noite ele encontra a Lua e tenta substituí-la. Vai até um penhasco e salta de lá para alcançá-la, caindo para a morte. É sobre arrogância. Outro conto baseia-se em uma história verídica da vila de Kandelous. Uma moça faz amizade com um belo Leopardo. Mas seu pretendente, que a corteja sem sucesso, atira no bicho por ciúme, matando-o tragicamente. É sobre limites. A pintura traz as duas lendas: uma mulher carrega sozinha, nos ombros, o corpo do seu luto pessoal, mas tem “luas sob os pés para respeitar o desejo do Leopardo de estar acima da Luz”.

que caminho difícil é

Abbas Kiarostami

Que caminho difícil é
a passagem da noite, do dia
do bem, do mal
do silêncio
do tumulto
do ódio
da raiva
do amor
do amor


Abbas Kiarostami, FLORES SILVESTRES (poemas escolhidos), tradução de Bernardo Sá, edição Flâneur


Abbas Kiarostami 🇮🇷 (1949-2016) foi um poeta, cineasta, roteirista, produtor e fotógrafo iraniano. Obteve diversos prêmios internacionais, dentre os quais se destacam a Palma de Ouro de 1997, pelo filme Gosto de Cereja, e o Leão de Ouro do Festival de Veneza de 1999, por O Vento nos Levará.

Bordados

Marjane Satrapi

Os almoços de família na casa da avó de Marjane Satrapi, em Teerã, terminavam sempre com o mesmo ritual – enquanto os homens iam fazer a sesta, as mulheres lavavam a louça. Logo depois começava uma sessão cujo acesso só era permitido a elas – o ‘bordado’. O ‘bordado’ iraniano seria equivalente ao brasileiríssimo ‘tricô’, não fosse uma acepção bastante particular – a expressão designa também a cirurgia de reconstituição do hímen, uma decisão pragmática para as mulheres que não abrem mão de ter vida sexual antes do casamento, mas sabem que precisam corresponder às expectativas das forças moralistas do país. O grupo que se reúne na casa da avó de Marjane é uma amostra de mulheres com moral e experiência bastante variadas, mas sempre às voltas com o machismo e a tradição. Casamentos malfadados, virgindades roubadas, adultérios, frustrações, golpes e autoenganos, mostram que no Irã amar e desamar pode ser ainda mais complicado do que podemos supor.