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Quem tiver amores tristes

Antero de Quental

Quem tiver amores tristes
Venha ouvir gemer o mar;
Porque a amargura das ondas
Há-de-lhe a dor adoçar.


In:


Antero de Quental 🇵🇹 (1842-1891) foi um escritor português nascido em

cor de afogamento

Emil M. Cioran

Todas as águas são cor de afogamento.

In: CIORAN, Syllogismes de l’Amertume (1952)
Silogismos da Amargura
, tradução de Manuel de Freitas, ed. Letra Livre (2009)

A Chalupa, Amadeo de Souza-Cardoso | O prazer das cores intensas, capazes de emprestarem expressividade às obras. De Henri Rousseau, da geração francesa anterior à dos dois Amadeus, o pintor português absorve a paixão por temas naturalistas, de realidades simples e que progressivamente o aproximaram do abstracionismo. No seu programa ideológico, Amadeo juntou estas duas influências em vários trabalhos sobre o mar e os Descobrimentos Portugueses. As embarcações perdem-se na imensidão dos oceanos, metáfora de vários períodos da vida do artista amarantino. Em “A Chalupa”, as vagas transformam-se em montanhas azuis que tudo consomem.


Emil M. Cioran 🇷🇴 (1911 — 1995) foi um escritor e filósofo romeno radicado na França. Em 1949, ao publicar “précis de decomposition”, passa a assinar E.M. Cioran, influenciado por E.M. Forster — esse “M” não tem nenhuma relação com outros nomes do filósofo (como Michel, Mihai, etc.) Um dos melhores conhecedores da obra de Cioran é o filósofo espanhol Fernando Savater, um de seus mais importante livros adentrando no pensamento de Cioran é Ensayo Sobre Cioran, de 1974. Ambos eram próximos e o livro termina numa entrevista com o filósofo romeno, mostrando um pouco de seu lado pessoal. Principais interesses: antinatalismo, misantropia, suicídio. Trabalhos notáveis: Breviário de Decomposição, Silogismos da Amargura, Exercícios de Admiração.


Amadeo de Souza-Cardoso 🇵🇹(1887-1918) primeira geração de pintores modernistas portugueses, destaca-se pelo diálogo que estabeleceu com as vanguardas históricas do início do século XX. O artista desenvolveu, entre Paris e Manhufe, a mais séria possibilidade de arte moderna em Portugal num diálogo internacional, intenso mas pouco conhecido, com os artistas do seu tempo. Articula-se de modo aberto com movimentos como o cubismo o futurismo ou o expressionismo, atingindo em muitos momentos, um nível em tudo equiparável à produção de topo da arte internacional sua contemporânea.

Ensaio sobre o ingovernável

Kilian Glasner

Inquieto, angustiado – cabeça de tempestade, Kilian Glasner repete A Grande Onda de Kanagawa(1), homenagem em pastel e pigmento puro. “O desenho das ondas é uma espécie de versão divinizada do mar, feita por um artista que viveu o terror religioso do oceano avassalador que cercava completamente seu país, impressiona pela fúria repentina de seu salto ao céu, pelo azul profundo do lado interior de sua curvatura, pelo respingo de sua crista que espalha um orvalho de pequenas gotas”.

(1) Hokusai, Katsushika. “A Grande Onda de Kanagawa.” Século XIX, Ukiyo-e, Museu Metropolitano de Arte, Nova York.

A análise sobre a obra de Hokusai é de Edmont de Goncourt, de meados dos anos 1850. O desenho das ondas é uma espécie de versão divinizada do mar, feita por um artista que viveu o terror religioso do oceano avassalador que cercava completamente seu país… e se as palavras voltassem emprestadas a novos significados?

Mais de 170 anos depois, Kilian se isola no mar. Pesquisa a oscilação das águas, o humor das marés. De dentro assiste outras tempestades, ansiedade, insegurança, aflição. Ninguém previu: nem bússolas, nem birutas ou mapas meteorológicos… é neste cenário que surge “ensaio sobre o ingovernável”.

Antes seria evitável, mas alguém escutou a tempestade? Desde então, o pantanal queimou, as marés subiram, a lama caiu sobre o litoral e, todos nós, que ensurdecemos em nossa arrogância, caímos juntos.

E “por que nos causa desconforto a sensação de estar caindo? A gente não fez outra coisa nos últimos tempos senão despencar. Cair, cair, cair. Então por que estamos grilados agora com a queda? ”

perguntaria Ailton Krenak em seu Ideias para adiar o fim do mundo. Pág. 14 – Companhia das Letras


Texto de Paulo Kassab Jr.


Kilian Glasner 🇧🇷 (1977-) nasceu, vive e trabalha em Recife, Brasil. Ganhou seu primeiro prêmio aos 21 anos no Salão de Artes Visuais de Pernambuco. Se mudou para Paris onde se graduou na ecole des Beaux Arts. Foi aluno de Giuseppe Penone e expôs em Paris, Londres, Itália, Bélgica e Holanda. Ganhou o prêmio Rumos Visuais do Instituto Itaú Cultural com a instalação “Rua do Futuro”. Foi convidado pela Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa para realizar a enorme instalação “O Brilhante futuro da cana-de-açúcar”.