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Girassol, de Schiele

Egon Schiele

SUNFLOWER
1908
44 × 33 cm
Niederösterreichisches Landesmuseum, St. Polten

Schiele nunca esteve interessado na replicação real da aparência em sua arte e isso é perceptível em suas sucessivas representações de girassóis. Schiele estaria muito familiarizado com este tema que, claro, já tinha sido muito explorado por Van Gogh, e esta é a primeira imagem conhecida nesta série em particular. É certamente derivado da tradição decorativa da Secessão, mas acrescenta algo pessoal e distinto. Todo o plano superior da tela é ocupado pela flor e, apesar da maturidade e da cor abundante, o girassol também está à beira da morte. Embora a flor e a presença das sementes sugiram juventude e energia, a implicação é que a vida segue a morte que, por sua vez, segue a vida novamente. O padrão da linha é bastante óbvio, pois as folhas sugerem um plano horizontal, enquanto o caule fornece a vertical. Isto torna-o um trabalho bastante juvenil, e não totalmente alcançado espacialmente, mas os temas que se tornariam predominantes na sua obra restante já estão muito em evidência, com foco nos ciclos de vida e morte e nas proporções distorcidas e inesperadas do próprio tema.


Egon Schiele 🇦🇹 (1890-1918)  foi um pintor austríaco ligado ao movimento expressionista. Um protegido de Gustav Klimt, foi um pintor importante do início do século XX. Seu trabalho é célebre por sua intensidade e sua sexualidade crua, e pelos muitos autorretratos que produziu, incluindo autorretratos nus.

Girassóis Maduros

Léo Prudêncio

alguém escreveu
no caule do pé de romã:
amar é renascer


Léo Prudêncio, em “Girassóis maduros”, Ed. Moinhos


Léo Prudêncio é natural de São Paulo, passou mais de vinte anos morando no Ceará, atualmente mora em Goiânia. Tem na bagagem dois livros de poesia publicados: Baladas para violão de cinco cordas e Aquarelas.

O meu olhar é nítido como um girassol

Alberto Caeiro - Fernando Pessoa

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…

Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender…

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar.


Data: 8-3-1914

In: Poesia completa de Alberto Caeiro. “O Guardador de Rebanhos”


Fernando Pessoa 🇵🇹 (1888-1935) foi um dos mais importantes poetas da língua portuguesa e figura central do Modernismo português. Nascido em Lisboa. Poeta lírico e nacionalista cultivou uma poesia voltada aos temas tradicionais de Portugal e ao seu lirismo saudosista, que expressa reflexões sobre seu “eu profundo”, suas inquietações, sua solidão e seu tédio. Pessoa foi vários poetas ao mesmo tempo, criou heterônimos – poetas com personalidades próprias que escreveram sua poesia. Autor de Mensagem, Livro do Desassossego e muitas outras obras.