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Ulysses

James Joyce

Ulysses é um romance do escritor irlandês James Joyce. Foi composto entre 1914 e 1921 em Trieste, Itália, Zurique, Suíça e Paris, França, e publicado no ano seguinte nesta cidade. Por descrever, em diversos pontos, aspectos da fisiologia humana então considerados impublicáveis, o livro foi censurado em diversos países, como nos Estados Unidos e no Reino Unido. Ulisses adapta a Odisseia de Homero condensando a viagem aventurosa de Odisseu pelo mundo helênico no regresso da Guerra de Troia à ilha de que era rei, Ítaca, e onde havia ficado a sua esposa, a rainha Penélope, em 18 horas da “viagem” por Dublin do agente de publicidade Leopold Bloom no dia 16 de junho de 1904 e início da madrugada do dia seguinte. É a obra prima de James Joyce. Através da descrição pormenorizada de um dia na vida de um grupo de pessoas, no limitado ambiente da Dublin de 1904 como enquadramento, Joyce pretende apresentar um microcosmo de toda a experiência humana. O “herói”, Leopold Bloom, um judeu irlandês, é na visão de Joyce um Ulisses moderno ou Um Qualquer, fraco e forte, cauteloso e precipitado, herói e covarde, englobando os múltiplos aspectos de cada ser humano e de toda a humanidade.

Muitos consideram Bloom o grande herói trágico da literatura moderna. Ulysses foi um livro revolucionário no estilo e na concepção. O aspecto mais revolucionário foi a técnica de narração de fluxo de consciência por meio da qual a consciência de um personagem é transmitida directamente. E também porque não havia qualquer separação entre esta narrativa e a descrição, ou acção, estrita, e muitas vezes sem o nome do personagem ser indicado. Além deste método, que confunde o leitor habituado a um estilo mais direto de escrita, o espaço de referência da narrativa torna-se muito complexo por meio de numerosas alusões à literatura grega, a Shakespeare, à Bíblia e a muitas outras. Não é um livro adequado para quem se queira iniciar na literatura. A obra aparece na lista dos 100 livros do século segundo o jornal francês Le Monde.

Retrato do artista quando jovem

James Joyce

ESte livro apresenta reflexões sobre religiosidade e identidade. Ao decorrer da obra uma revolução ocorre com Stephen Dedalus, que busca encontrar razão em meio a um mundo cercado por culpa. Retrato do artista quando jovem é uma obra limiar na trajetória do irlandês James Joyce (1882-1941). Com traços autobiográficos, esse “romance de formação” traz vários elementos que estavam presentes na coletânea de contos Dublinenses: o ambiente estagnado de Dublin (sua cidade natal), o peso asfixiante da religião católica e a questão da identidade nacional e cultural da Irlanda (com sua sempre incômoda subserviência à coroa inglesa).

Dublin, 1909

Mas, se os dois livros foram publicados no mesmo ano de 1914, as narrativas de Dublinenses foram escritas muito antes e ainda pertencem a um registro mais linear e realista, ao passo que Retrato do artista quando jovem já traz o germe do terremoto estilístico produzido por Joyce em Ulisses (1922) e Finnegans Wake (1939). Com fluxos de consciência e uma aguda descrição das convulsões interiores pelas quais passa o protagonista Stephen Dedalus (cujo nome remete a Dédalo, o fabuloso artífice da mitologia grega), a linguagem do livro vai mudando conforme ele amadurece, até ceder a voz (já no epílogo, em forma de diário) ao próprio personagem – que assim se liberta dos fantasmas da moral católica, da culpa por suas fantasias eróticas, do ambiente amesquinhado da família e da Irlanda, fazendo da própria literatura o instrumento para conquistar liberdade e autonomia.


Música

  • The lily of killney

Dividido em cinco capítulos e com fortes traços autobiográficos, esse romance apresenta passo a passo o amadurecimento intelectual e artístico de Stephen Dedalus desde quando ele era muito pequeno até a mocidade e, curiosamente, começa com uma estrutura que faz lembrar um conto infantil:

“Era uma vez e uma vez muito boa mesmo uma vaquinha-mu que vinha andando pela estrada e a vaquinha-mu que vinha andando pela estrada encontrou um garotinho engrachadinho chamado bebê tico-taco.”

1. Infância
2. Pré-adolescência e adolescência
3. Um tratado sobre o inferno e as penas eternas
4. Um tratado sobre a culpa católica e o começo da liberdade
5. Vida propriamente dita

Para quem quiser entender a trajetória da personagem, basta decifrar seu nome. “St. Stephen” foi o primeiro mártir cristão e Dédalo projetou e construiu o labirinto do Minotauro, contudo, após se desentender com o Rei Minos, acabou preso na sua própria invenção e só conseguiu escapar, fazendo asas com cera e penas. Pois essa também é a história de um menino católico, cheio de culpas e arrependimentos, criado para ser jesuíta e que ousou alçar vôo, traçando seu destino. Tornou-se um artista herético e libertário, capaz de muito jovem conceber uma teoria estética que nada mais é do que os fundamentos da obra de Joyce.

“… Você me perguntou o que eu farei e o que eu não farei. Eu lhe direi o que farei e o que não farei. Não servirei àquilo em que não acredito mais, quer isso se chame minha família, minha terra natal ou minha Igreja; e procurarei me expressar por meio de uma certa forma de vida ou de arte tão livremente quanto possa e tão totalmente quanto possa, usando em minha defesa as únicas armas que me permito usar: o silêncio, o exílio e a astúcia.”

“Uma alegria líquida e macia, como o ruído de muitas águas, derramava-se por sobre a sua memória; sentia no coração a doce paz dos espaços silenciosos, tenazmente esmaecidos por sobre as águas. A doce paz do silêncio oceânico; a doce paz das andorinhas voando através do mar escuro, por cima das águas oscilantes.”

“E falando, enrugava um pouco a testa sardenta e mordia, entre as frases, a ponta fina dum lápis”.

“Seu raciocínio era um crepúsculo de dúvida e de autodesconfiança clareado, às vezes, pelos vislumbres da intuição, por iluminações de um tão claro esplendor que, em tais momentos, o mundo desaparecia debaixo dos seus pés como se o fogo o tivesse consumido; …”

Como a descrição da angústia sentida pelo protagonista por medo da morte.
Joyce aborda ainda concepções de Shelley e Santo Agostinho, cria sua própria visão das coisas que o rodeiam (grifo aqui seu como sendo do auterego do autor, Delalus) e os debate com um amigo e nota-se aqui a riqueza de conhecimento e de pensamentos próprio de Stephen e que isso o faz ser visto com admiração pelos colegas, é notado como um verdadeiro ser pensante.
Faz-se crítica ao sistema católico desordenado da Irlanda e usa o tema como pauta de boa parte da narrativa.

“Da má semente da ambição todos os outros pecados mortais tinham saltado: orgulho de si próprio e desprezo pelos outros; avareza em guardar dinheiro para a compra de prazeres ilícitos; inveja daqueles cujos vícios não podia atingir; caluniosas murmurações contra os piedosos; voracidade em sentir os alimentos; a estúpida raiva em que ardia e nomeio da qual examinava o seu tédio; o pântano de espiritual e corporal indolência dentro do qual todo o seu ser estava atolado.”

“A narrativa tampouco é meramente pessoal. A personalidade do artista passa para a narração mesma, enchendo, enchendo de fora para dentro as pessoas e a ação como um mar vital. (…) A personalidade do artista, no começo um grito, ou uma cadência, ou uma maneira, e depois um fluido e uma radiante narrativa, acaba finalmente se clarificando fora da existência, despersonalizando-se, por assim dizer”

“O seu espirito, esvaziado de teoria e de coragem, ia tombando numa paz desinteressada”

“A sentença mais profunda até hoje escrita – disse Temple, com entusiasmo – é esta sentença, no fim da zoologia: A reprodução é o começo da morte.”

“Não servirei àquilo em que não acredito mais, chame-se isso o meu lar, a minha pátria, ou a minha igreja; e vou tentar exprimir-me por algum modo de vida ou de arte tão livremente quanto possa, e de modo tão completo quanto possa, empregando para minha defesa apenas as armas que eu me permito usar: silêncio, exílio e sutileza.”

“Sê bem-vinda, ó vida! Eu vou ao encontro, pela milionésima vez, da realidade da experiência, a fim de moldar, na forja da minha alma, a consciência ainda não criada da minha raça”

O livro ainda não possui a tuba canora e belicosa do Ulysses ou do Finnegans Wake. À medida que Stephen cresce, e isso só no original se apercebe, a musicalidade bem como a linguagem vão ficando nitidamente mais refinadas. Afora isso, a temática labiríntica do labirinto (tão explorada por Borges) tem seu cerne central aqui. Jean Paris faz uma análise muito bacana sobre este aspecto do livro. Stephen Dedalus, Dédalo, é preso em inúmeros labirintos ao longo de sua vida (chega até a ser Pasífae com sua vaquinha na colina [ou debaixo da mesa]) e consegue apenas reverter a situação a partir da visão quase que deífica da moça na praia. A partir daí ele é Dédalo que construirá labirintos. Tão intrincados que ele mesmo, como se vê no Ulysses, se enreda e se perde…

A técnica de composição do livro é digna de nota. Richard Ellmann faz um bom apanhado em sua biografia: o desenvolvimento embriônico do texto e das relações intersociais de Stephen vão sendo nitidamente vistas a partir da linguagem. Stephen sem opinião, formando uma junto com seu coração e sentidos. O livro se fecha com o diário de Stephen, uma forma escondida de monólogo interior que iria explodir no Terceiro Episódio (Proteu) do Ulysses.

A Portrait of the Artist as a Young Man: Amy Conroy e Paul Mescal em uma produção Rough Magic. Foto: Ste Murray

O que vemos, o que nos olha

Georges Didi-Huberman

O ato de ver só se manifesta ao abrir-se em dois, ou seja, o que vemos vive em nossos olhos pelo que nos olha. Partindo desse paradoxo, o historiador da arte francês Didi-Huberman compõe um ensaio que se aprofunda nas questões da arte, da estética e da interpretação contemporâneas.

Tradução de Paulo Neves
Coleção Trans da Editora 34