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País Rato

Jorge Roque

País Rato, de Jorge Roque, reúne um conjunto de breves contos poéticos, numa leitura ao mesmo tempo lúcida e plena de desânimo sobre este nosso país… rato. É o segundo livro do autor na Maldoror.

“O que quer que cresça, mal desponta, é roído pelos ratos. E os ratos proliferam, dissimulados e viscosos, com o seu brilho torpe de animal de esgoto. Uns pardos e remediados, com as olheiras dúbias de mal sucedidos ratos. Outros bem gordos, suficientes e emproados no duplo queixo que lhes deforma o pescoço e lhes dá a aparência de insólitos inverte brados. Sorriem estes a bela vida e o próprio sorriso alarve é rato. E ninguém, garanto-vos, ninguém mesmo escapa aos ratos. São muitos e organizados contra uns poucos, crédulos e isolados, que a sua diligência logo transforma em pasto.”


Jorge Roque 🇵🇹 (1966-) é autor de uma obra parcialmente dispersa em revistas literárias e publicações colectivas, destacando-se os livros Broto Sofro (2008), Canção da Vida (2012), Nu contra Nu (2014), Tresmalhado (2016) e Senhor Porco: Sua Excelência (2019). A literatura que persegue é a expressão de uma vida em acto.

caricaturas emméricas

Amadeo de Souza-Cardoso

“O que há de horrendo, nesta vida, é que nada foge à caricatura,
nem a própria Divindade!”

Teixeira de Pascoaes
In: A Saudade e o Saudosismo. Lisboa, Assírio & Alvim, 1988, p.221

Numa visita ao Museu do Prado, em Madrid, Amadeo ficou impressionado com Los Borrachos, óleo de Diego Velázquez, pintado entre 1626 e 1628. Em farras com os amigos de Paris, o pintor (que mostrou sempre uma veia teatral) encenou uma reconstituição do quadro, em 1908. Amadeo posa como Baco. Pedro Cruz ajoelha-se perante a divindade. Domingos Rebelo representa de tronco nu o lado divino, ao passo que cabe a Emmérico Nunes e Manuel Bentes o papel de replicar os dois bêbedos à direita de Amadeo.

 

A caricatura tem a sua origem na tragédia mais íntima da Vida.
Foi Deus que a inventou, a fim de quebrar a infinita monotonia da Identidade originária, do Mesmo, esse deserto sem limites. Quando os Outros pulularam do Mesmo, logo se fez aquele riso de ironia que vai do sorriso discreto das estrelas à gargalhada olímpica do Sol.

Teixeira de Pascoaes
In: A Saudade e o Saudosismo. Lisboa, Assírio & Alvim, 1988, p.182


Teixeira de Pascoaes 🇵🇹(1877-1952), pseudônimo de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, nascido em Amarante, foi um poeta, escritor e filósofo português e um dos principais representantes da Renascença e do Saudosismo. De família da aristocracia rural, foi uma criança introvertida e sensível, propensa à contemplação nostálgica. Em 1901 se forma em Direito pela Universidade de Coimbra, mas não participa da boemia coimbrã, passando o seu tempo, monasticamente, no quarto, a ler, a escrever e a refletir. Teve muitos contatos no exterior e foi um bibliografista notável. Publicou, entre outros, O Doido e a Morte (1913), Elegia da Solidão (1920), Versos Pobres (1949). 


Amadeo de Souza-Cardoso 🇵🇹(1887-1918) primeira geração de pintores modernistas portugueses, destaca-se pelo diálogo que estabeleceu com as vanguardas históricas do início do século XX. O artista desenvolveu, entre Paris e Manhufe, a mais séria possibilidade de arte moderna em Portugal num diálogo internacional, intenso mas pouco conhecido, com os artistas do seu tempo. Articula-se de modo aberto com movimentos como o cubismo o futurismo ou o expressionismo, atingindo em muitos momentos, um nível em tudo equiparável à produção de topo da arte internacional sua contemporânea.


Emmérico Nunes 🇵🇹(1888 – 1968) de ascendência portuguesa e alemã, sua vida e obra são fortemente marcadas pela sua condição de artista entre duas pátrias. Um dos caricaturistas que maior fama europeia alcançou, e sobre o qual pesa hoje um imerecido esquecimento, ilustra o que a língua latina resume em duas palavras: Fama? Fumus. Com uma vastíssima obra gráfica, dispersa por jornais, revistas, magazines e publicações infantis, distinguiu-se como humorístico, caricaturista e ilustrador. À imaginação hilariante seus cartoons políticos, as suas galerias de retratos e de tipos sociais, de grande força plástica e graça endiabrada.

Quem sonha é um lar aceso

Teixeira de Pascoaes

“Há dois modos de escrever aforismos: ou por ordem expressa, logo os mostrando, ou de forma secreta, não visível, ocultando-os. Teixeira de Pascoaes é um escritor de aforismos ao segundo modo…”, da contracapa. A seleção e apresentação é de António Cândido Franco, edição de 2022. A imagem da capa é de António Areal, Pascoaes (1977)

As cousas revelam-se na memória, bem melhor que à luz do sol. A memória é interior prolongamento dos sentidos; está, por isso, em íntimo contacto com a realidade. Só ela conhece a realidade. Só existe o que nela se fixar. Se me recordo dum sonho, é que ele existe, como qualquer nuvem ou penedo.


Teixeira de Pascoaes 🇵🇹(1877-1952), pseudônimo de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, nascido em Amarante, foi um poeta, escritor e filósofo português e um dos principais representantes da Renascença e do Saudosismo. De família da aristocracia rural, foi uma criança introvertida e sensível, propensa à contemplação nostálgica. Em 1901 se forma em Direito pela Universidade de Coimbra, mas não participa da boemia coimbrã, passando o seu tempo, monasticamente, no quarto, a ler, a escrever e a refletir. Teve muitos contatos no exterior e foi um bibliografista notável. Publicou, entre outros, O Doido e a Morte (1913), Elegia da Solidão (1920), Versos Pobres (1949).