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Dias de Sísifo

Ida Vitale

Do sempre amanhecer pelas manhãs**
para ir anoitecendo o dia todo.


Ida Vitale, in Não sonhar flores, ed. Roça Nova, tradução: Heloísa Jahn


Ida Vitale (1923-) é uma poeta, tradutora, ensaísta, professora e crítica literária uruguaia membro do movimento artístico denominado Geração do 45 e representante da poesia essencialista.

La húmeda torre

Delmira Agustini

¡Oh Tú!
Yo vivía en la torre inclinada
de la Melancolía…
Las arañas del tedio, las arañas más grises,
en silencio y en gris tejían y tejían.

¡Oh, la húmeda torre!…
Llena de la presencia
siniestra de un gran búho,
como un alma en pena;

Tan mudo que el Silencio en la torre es dos veces;
Tan triste, que sin verlo nos da frío la inmensa
sombra de su tristeza.

Eternamente incuba un gran huevo infecundo,
Incrustadas las raras pupilas más allá;
O caza las arañas del tedio, o traga amargos
Hongos de soledad.

El búho de las ruinas ilustres y las almas
Altas y desoladas!
Náufraga de la Luz yo me ahogaba en la sombra…
En la húmeda torre, inclinada a mí misma,
A veces yo temblaba
Del horror de mi sima


Oh you!
I lived in the leaning tower
Of melancholy …
The spiders of tedium, the grayest spiders,
Wove and wove in grayness and silence.

Oh! the dank tower,
Filled with the sinister
Presence of a great owl
Like a soul in torment;

So mute, that the silence in the tower is twofold;
So sad, that without seeing it, we are chilled by the immense
Shadow of its sorrow.


“A Torre” (1948) – Remedios Varo viveu e trabalhou na Espanha e na França, em 1942 mudou-se para o México, mas passou, no entanto, um ano na Venezuela, quando pintou “A Torre”. A pintura mostra uma torre rosa em um ambiente isolado. Só podemos adivinhar qual era o propósito da torre antes, mas no estado atual, está a ficar coberta de heras e há uma longa fenda a atravessá-la. As portas e janelas são ocas e escuras, como órbitas. Há uma árvore escura em primeiro plano, suas raízes penetram pesadamente no chão e, assim como as janelas da torre, é escura e oca. Apenas um galho está verde e vivo, e vê-se ervas daninhas crescendo no chão, como se ninguém pisasse ali há tempos. Atrás há uma floresta, não densa e escura, mas quase nua, as árvores são fantasmas, tão finos como se estivessem desaparecendo. Varo adorava a linguagem dos símbolos e sonhos, e esta pintura realmente parece um sonho estranho, aquele em que se pode vagar confuso, perdido e triste.


Delmira Agustini 🇺🇾 (1886 — 1914) foi uma poetisa nascida em Montevidéu. Pertence à primeira fase do Modernismo, seus temas tratam da fantasia e de matérias exóticas e eróticas. Los cálices vacíos (1913), sua terceira obra, foi dedicada a Eros e significou sua entrada ao movimento de vanguarda modernista. Foi assassinada por seu ex-marido, que depois cometeu suicídio. Sua obra está ligada ao vasto movimento modernista fluvial, dominado por homens, e gozou da admiração das figuras da época. Traz imagens de profunda beleza e originalidade. O mundo dos seus poemas é sombrio e atormentado, com versos de excepcional musicalidade. Seu lirismo atinge profundidades metafísicas que contrastam com sua juventude.

47 contos de Juan Carlos Onetti

Juan Carlos Onetti

O uruguaio Juan Carlos Onetti, ainda que tenha recebido o prestigioso prêmio Cervantes em 1980, não é um nome frequentemente citado e, ainda que seja idolatrado por figuras como Júlio Cortazar (que o considerava o maior romancista latino americano), e tenha se tornado verdadeiro objeto de culto entre os conoissieurs, permanece um escritor obscuro, um típico writer’s writer.

Parte desta relativa obscuridade se deve ao fato de que a aplicação do termo realismo mágico para sua obra se revela inadequada, insuficiente e injusta. Na literatura do Onetti não encontraremos paisagens selváticas
tropicais, enredos intrincados e atmosfera mágica. Nela veremos (anti) heróis, fumantes inveterados, que, não importando condição financeira e status social, carregam nas costas todo o absurdo e tédio da existência como um fardo que mesmo depois da morte os assombrarão pela eternidade. Para eles as fantasias, lorotas, ilusões, autoengano e até “autobiografias imaginárias” lhes servem como um antídoto para o pesado fardo da existência, e algumas vezes do desespero absoluto e suicídio.

Praticante do que se convencionou como uma espécie de existencialismo-introspectivo-onírico-poético-melancólico, Onetti embala suas fábulas de ilusão e auto-engano em prosa sinuosa impecável, de uma precisão, beleza plástica, intensidade poética e finura psicológica.