O uruguaio Juan Carlos Onetti, ainda que tenha recebido o prestigioso prêmio Cervantes em 1980, não é um nome frequentemente citado e, ainda que seja idolatrado por figuras como Júlio Cortazar (que o considerava o maior romancista latino americano), e tenha se tornado verdadeiro objeto de culto entre os conoissieurs, permanece um escritor obscuro, um típico writer’s writer.

Parte desta relativa obscuridade se deve ao fato de que a aplicação do termo realismo mágico para sua obra se revela inadequada, insuficiente e injusta. Na literatura do Onetti não encontraremos paisagens selváticas
tropicais, enredos intrincados e atmosfera mágica. Nela veremos (anti) heróis, fumantes inveterados, que, não importando condição financeira e status social, carregam nas costas todo o absurdo e tédio da existência como um fardo que mesmo depois da morte os assombrarão pela eternidade. Para eles as fantasias, lorotas, ilusões, autoengano e até “autobiografias imaginárias” lhes servem como um antídoto para o pesado fardo da existência, e algumas vezes do desespero absoluto e suicídio.

Praticante do que se convencionou como uma espécie de existencialismo-introspectivo-onírico-poético-melancólico, Onetti embala suas fábulas de ilusão e auto-engano em prosa sinuosa impecável, de uma precisão, beleza plástica, intensidade poética e finura psicológica.