Quando peguei este livro de Enrique Vila-Matas, sabia que o leria rápido. A temática do suicídio não deixa de ser polêmica; evitada por muitos, espiada por vários. Lembro até que uma colega que estava comigo na hora da compra achou o título “super alto astral”, a sarcástica. Lamentei por ela. É preciso muito mais que astral para ter interesse e até humor no que há de mais obscuro na alma humana.

“Porque ler e fumar eram suas duas atividades favoritas.”

Minha edição é o sexto da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana, foi um livro comprado na ordem da coleção, antes nunca tinha ouvido falar dele, ou do autor. A capa me chamou a atenção: um emaranhado de fios elétricos em um poste. Consigo ver vários significados para essa imagem, mas a confusão mental, o interfluxo de pensamentos e sensações, é para mim o mais forte, aquele capaz da descarga elétrica que leve a um suicídio, seja qual for.

O escritor Joca Reiners Terron, quem escreveu a contra-capa do livro, chamou Enrique Vila-Matas de “ideólogo do fiasco“. Já que com ironia e humor, o autor nos traz neste livro dez contos em que as personagens consideram seu suicídio. Mas o ato, no entanto, nunca chega a acontecer – não como o leitor espera. A ideia de acabar com a própria vida vira a solução para as frustrações e solidões. Mas no livro, a obsessão pelo suicídio acaba, paradoxalmente, afastando a tentação da morte, passando a ser um motivador da vida e mudando o rumo de tudo. Apesar de ser um livro sobre suicídios, ele nos leva a diferentes caminhos positivos.

Suicídios Exemplares também funcionou como ferramenta de autoconhecimento. Em entrevista à Folha de São Paulo, Enrique Vila-Matas comentou que:

“Durante o livro, corria o risco de ser tentado pela sedução que poderia me oferecer não só o tema, mas o ato em si. E, quando o terminei, o que comprovei é que havia escrito algo enormemente vital e otimista. No livro quase ninguém se mata, é curioso. Descobri que tinha uma visão de mundo negra no sentido do humor, mas pouco negativa”.


Enrique Vila-Matas 🇪🇸 (1948-) é um premiado escritor catalão, nascido em Barcelona. As suas obras são uma mescla de ensaio, crónica jornalística e novela. A sua literatura, fragmentária e irónica, dilui os limites entre a ficção e a realidade. Em 1968 foi viver em Paris, autoexilado do governo de Franco e à procura de maior liberdade criativa.