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Não tive nenhum prazer em conhecê-los

Evandro Affonso Ferreira

Livro de 2016, construído de fragmentos poéticos curtos e muitas vezes apresentados como epigramas ou aforismos, onde a frase lapidar é usada como elemento construtivo básico, este é um romance elaborado com a atenção minuciosa de quem esculpe ou pratica ourivesaria, um romance sobre o fim da vida, pedra bruta aqui usada para construção desse texto preciso e precioso. Evandro Affonso Ferreira mostra um painel sombrio da proximidade da morte. Constrói um vitral formado por cacos da existência do narrador, que filtram o olhar e são trespassados por observações de um personagem poderoso que, mesmo no crepúsculo pessoal, cultiva a necessidade humana de compartilhar – ainda que seja o próprio fim.


Evandro Affonso Ferreira 🇧🇷 (1949-) nascido em Araxá, Minas Gerais, mas radicado em São Paulo há 40 anos, surgiu na literatura em 2000 – apresentado por José Paulo Paes. Participou de uma coletânea de contos em Portugal (Editora Cotovia) organizada por Alcir Pécora. Tem publicado: Grogotó!, Minha mãe se matou sem dizer adeus, Os piores dias de minha vida foram todos, Rei Revés,  Araã!, Erefuê, Zaratempô! e Catrâmbias! (Editora 34), entre outros.

“Não sofra mais”

Ragnar Kjartansson

O soloshow Não sofra mais vai até dia meio de julho, no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra, onde vê-se instalações pensadas especialmente para o local, e também algumas das obras mais conhecidas do artista islandês Ragnar Kjartansson.

Um exemplo é a aclamada “The Visitors”, uma vídeo instalação com nove telas e som ambiente orientado, que retrata nove músicos em um casarão, a tocarem e cantarem a mesma música conjunta e separadamente. Esta foi considerada em 2019 a melhor obra de arte do século XXI pelo jornal inglês The Guardian.

No impressionante Mosteiro, Ragnar decidiu ocupar toda a ala do antigo refeitório e também a ala superior, trazendo um total de 13 obras, sendo cinco delas inéditas. A melancolia ou a ironia são alguns dos temas explorados por Ragnar Kjartansson, um artista com coerência e força conceitual, que explora a ideia do mundo como “uma grande encenação” a partir de performances duracionais, repetidas até à exaustão.

Havia também obras como “A Lot of Sorrow”, uma performance gravada em 2013 com a banda The National, em que o grupo toca em looping, ao longo de seis horas, a canção “Sorrow”. Vimos também “God”, onde o artista volta à performance duracional, cantando repetidamente uma única frase – “Sorrow conquers happiness (A tristeza vence a felicidade)”, acompanhado por uma pequena orquestra.

Vemos no salão um grande desenho de montanhas em contraplacado de uma série existente do artista, inspirada num poema do Goethe. Uma das obras passa por um vídeo gravado em um pequeno oratório em ruínas que há no espaço. Há também uma aguarela com a inscrição “Não sofra mais”, reprodução de uma peça de luz enorme, com oito metros de largura, também com o nome da exposição, que estará instalada na torre virada para a cidade de Coimbra.

Sobre a Bienal Anozero

Anozero – Bienal de Coimbra é uma iniciativa proposta em 2015 pelo CAPC, organizada com a Câmara Municipal de Coimbra e a Universidade de Coimbra, que assume como objetivo promover uma reflexão quanto à circunstância da classificação da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia como Património Mundial da UNESCO. A Bienal propõe um confronto entre arte contemporânea e patrimônio, explorando os riscos e as múltiplas possibilidades associadas. O Anozero é, portanto, um programa de ação para a cidade que, através de um questionamento sistemático sobre o território em que se inscreve, poderá contribuir para a construção de uma época cultural atuante e transformadora.