tag . morte do pai

Morreste-me

José Luís Peixoto

Morreste-me, texto que deu a conhecer o jovem escritor José Luís Peixoto, é uma obra intensa, avassaladora e comovente: é o relato da morte do pai mas, sobretudo, o relato do luto, e ao mesmo tempo uma homenagem, uma memória redentora. Todo o livro é um diálogo com o pai e a sua ausência, apelando tanto aos motivos da memória como da necessidade de sobreviver à perda. Foi durante o doloroso luto, mergulhado em sofrimento mas, também, transportado por uma melancolia salvadora, que o autor José Luís Peixoto escreveu um livro que se tornou referência para leitores em todo o mundo que, partilhando ou não a sua experiência, se reconhecem numa obra intensa, poderosa, cheia de ternura e compaixão.

Livro de tributo e despedida – uma carta ao pai falecido –
que uniu milhares de leitores em todo o mundo.


José Luís Peixoto 🇵🇹 (1974–) nasceu em Galveias e é um dos destaque da literatura portuguesa contemporânea. Em 2001, ganhou o Prémio Literário José Saramago ao romance Nenhum Olhar. Com Livro, venceu o prémio Libro d’Europa, atribuído ao melhor romance europeu publicado no ano anterior, e no Brasil, o Prêmio Oeanos com Galveias. Publicou Dentro do Segredo, Uma viagem na Coreia do Norte (2012), sua primeira incursão na literatura de viagens. Seus romances estão traduzidos em mais de trinta idiomas. As suas mais recentes obras são Autobiografia (2019), prosa, e Regresso a Casa (2020), poesia.

A Morte do Pai

Karl Ove Knausgård

Logo vi que o livro A Morte do Pai inaugurava uma obra grandiosa, best-seller na Noruega e fenômeno internacional, a série Minha Luta. Karl Ove Knausgård é o autor-rockstar por trás dessa série de seis romances autobiográficos. Cheguei até ele devido ao título. A capa também chamou minha atenção. A ideia de uma casinha vermelha isolada, um céu em iminente tormenta. Oscilando entre criação e memória, o autor explora as possibilidades da ficção contemporânea. Um livro de um escritor que narra  própria vida detalhadamente. Dá para perceber claramente que é um autor nórdico, há uma frieza muito característica. De vez em quando a literatura ocidental dá audiência para obras autobiográficas, não sem questionar o próprio fundamento literário. Muito se falou em autoficção. Karl Ove expõe escândalos familiares e vai direto à revelação de segredos. O que importa, no fim, é a forma de sua obra, é dela que nasce sua ficção. Ao embarcar numa investigação proustiana e aparentemente incansável, o autor busca reconstruir a trajetória do pai, uma figura insondável que vai à ruína, tornando-se um alcoólatra.

“Tudo deve se sujeitar à forma.
Se qualquer um dos outros elementos literários
for mais forte que a forma, como o estilo, a trama, o tema,
se algum deles prevalecer sobre a forma,
o resultado será insatisfatório”

Com a avó senil, também já dependente do álcool, ele e o irmão tentam dar praticidade à difícil tarefa de dar alguma dignidade aquele lar em luto. Em meio a tudo isso, somos levados a conhecer a juventude do autor. Uma noite de ano-novo e rebeldia, regada a cervejas proibidas, um amasso na primeira namorada, um show fracassado com a banda em um shopping. Em meio a eventos comum da vida de um adolescente, Karl Ove nos explica as estruturas de sua família e sua relação com a morte.

“Escrever é retirar da sombra a essência do que sabemos.
É disso que a escrita se ocupa.”

O conflito se dá no fato dos irmãos arrumarem a casa destruída pelo pai que morrera. O simbolismo da ordem e da limpeza é óbvio, uma forma de  liquidar do espaço físico e da memória, quaisquer resquícios da decadência familiar.

“Sentimentos são como água, sempre adquirem a forma do meio que os circunda”

Honesto e sensível, com uma escrita bastante elegante, embora simples, Karl Ove investiga também sua vida atual, aos 39 anos, pai de quatro filhos, ele tenta se ajustar à rotina, enquanto tenta escrever seu novo romance, em uma luta diária. O título original é Min Kamp 1, a tradução é de Leonardo Pinto Silva, selo  da Companhia das Letras.