tag . poliamor

Exploração

Gabriela Wiener

O corpo que protagoniza Exploração é conflagrado por questões que remontam à história e se desdobram nos incertos movimentos do desejo e do afeto. Gabriela Wiener une jornalismo e ensaio para insurgir-se contra o jugo colonial de territórios, imaginário e tesão. Wiener define o ensaio pessoal, gênero que honra na altura de uma Vivian Gornick, como “o sofrido artesanato do eu”. Não se poderia encontrar definição melhor do exercício que resulta nestas páginas espantosas.


Gabriela Wiener 🇵🇪 (1975–) é uma escritora peruana nascida em Lima, cronista, poeta e jornalista, que vive na Espanha desde 2003. Faz parte do grupo de novos cronistas latino-americanos. Filha do destacado analista político e jornalista peruano Raúl Wiener e da trabalhadora social Elsi Bravo.

O Homem Sentimental

Javier Marías

O Homem Sentimental, do madrileño Javier Marías, conta a história de um tenor, homem cuja profissão é cantar óperas, o protagonista e também narrador, que nos apresenta a um trio de personagens: o banqueiro belga Manur, sua esposa Natalia e um acompanhante contratado. O relato em primeira pessoa oscila entre a realidade e um sonho, e se movimenta abrindo frestas que permitem entrever o futuro e também o passado. Paixão e ciúme irrompem as palavras e até nas partes que descrevem outro relacionamento do protagonista, podemos sentir as emoções guardadas.

“As pessoas às vezes se esforçam para compreender-se umas às outras, embora ninguém na realidade tenha a possibilidade de compreender o que quer que seja.”

O que mais gostei foi a precisão lexical com que o autor descreve as sensações do tenor conhecido como o Leão de Nápoles. Não sei se o descreveria como sedutor, sensual ou galante, a forma como ele descreve os sonhos eróticos é apurada.

“Não há vínculo mais estreito que o que prende o que é fingido ou, melhor ainda, o que nunca existiu.”

O Homem Sentimental é uma história de amor na qual o amor não se vê nem se vive, mas que se anuncia e recorda” – Epílogo. Neste livro, que expõe um tipo de amor triangular, o autor não abre mão da ironia, com ligeiro deboche implícito que não pode deixar de ser levado a sério, enquanto o ritmo gradualmente acelerado nos leva a um resultado imprevisível. Como em todo triângulo amoroso, o vértice determina e um dos três lados estoura a ação.

“Como cansa amar, pensei.”

O livro não tem a carga dramática de uma ópera. Demorei até a pág. 60 para engrenar, mas me emocionei e até me diverti. Há bastante ironia. Mas é o romantismo que dita o clima geral, afinal, um amor que acontece em pensamento pesa mais na densidade do sentimento.


Outro livro dele, Coração Tão Branco, post sobre tradutores na literatura.