O Homem Sentimental, do madrileño Javier Marías, conta a história de um tenor, homem cuja profissão é cantar óperas, o protagonista e também narrador, que nos apresenta a um trio de personagens: o banqueiro belga Manur, sua esposa Natalia e um acompanhante contratado. O relato em primeira pessoa oscila entre a realidade e um sonho, e se movimenta abrindo frestas que permitem entrever o futuro e também o passado. Paixão e ciúme irrompem as palavras e até nas partes que descrevem outro relacionamento do protagonista, podemos sentir as emoções guardadas.

“As pessoas às vezes se esforçam para compreender-se umas às outras, embora ninguém na realidade tenha a possibilidade de compreender o que quer que seja.”

O que mais gostei foi a precisão lexical com que o autor descreve as sensações do tenor conhecido como o Leão de Nápoles. Não sei se o descreveria como sedutor, sensual ou galante, a forma como ele descreve os sonhos eróticos é apurada.

“Não há vínculo mais estreito que o que prende o que é fingido ou, melhor ainda, o que nunca existiu.”

O Homem Sentimental é uma história de amor na qual o amor não se vê nem se vive, mas que se anuncia e recorda” – Epílogo. Neste livro, que expõe um tipo de amor triangular, o autor não abre mão da ironia, com ligeiro deboche implícito que não pode deixar de ser levado a sério, enquanto o ritmo gradualmente acelerado nos leva a um resultado imprevisível. Como em todo triângulo amoroso, o vértice determina e um dos três lados estoura a ação.

“Como cansa amar, pensei.”

O livro não tem a carga dramática de uma ópera. Demorei até a pág. 60 para engrenar, mas me emocionei e até me diverti. Há bastante ironia. Mas é o romantismo que dita o clima geral, afinal, um amor que acontece em pensamento pesa mais na densidade do sentimento.


Outro livro dele, Coração Tão Branco, post sobre tradutores na literatura.