Naipaul mais de uma vez retomou com a memória ao tempo em que, ainda criança em Trinidad, ele sonhava em se tornar um grande escritor. Mas jamais nos havia contado com a vibrante força destas páginas como se aproximou à escrita e, antes ainda, à leitura; como conseguiu criar, em uma colônia na periferia do Império Britânico, um mundo só seu, alheio à literatura na qual se formou. Nem jamais havia confessado em que medida a relação com a Índia – “a grande ferida” de todos os emigrantes indianos nas ilhas do Novo Mundo – agiu em profundidade na sua vida, suscitando um jogo dramático de atrações e resistências. Aos poucos, Naipaul entendeu que a tarefa da sua obra literária era a tenaz exploração daquelas “áreas de escuridão” que marcaram sua infância e juventude. E, enquanto isso ocorria, mudava e se definia cada vez mais claramente nele o significado das obscuras potências que respondem pelo nome de ler e escrever. Esse emaranhado de questões encontrou voz em 2000, no ensaio que dá o título ao volume e, no ano seguinte, como uma espécie de conclusão natural, em seu discurso em ocasião do Prêmio Nobel.
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Mudança
Mo Yan“Daí se vê que a vida é cheia de mudanças, o acaso é que ata as pontas do destino. Tudo se encaixa de maneira estranha, bizarra mesmo, ninguém é capaz de prever essas coisas.”
O Estrangeiro
Albert CamusL’Étranger foi escrito em 1942 por Albert Camus, um filósofo de formação, nascido quando a Argélia ainda era colônia francesa. “Em meio à produção literária da época, esse romance era ele mesmo um estrangeiro.”* Um típico romance existencialista, como Nausea, de Jean-Paul Sartre, onde o vazio do protagonista (e sua falta de motivação) é o tema principal. E por falar em Sartre, a crítica dele *”Explicação de O Estrangeiro“ in: Situações I – Críticas Literárias (1947) foi de grande valia para a compreensão da obra.
“Sei que todas estas pedras suam dor.”
Um clássico, O Estrangeiro é composta a propósito do absurdo e contra o absurdo. Apesar da leitura rápida, é um livro profundo, que analisa o comportamento humano na sua essência, em contraste com o que é esperado do ser humano perante seus semelhantes. Trata das patologias do vazio, do alheamento do sujeito e de seu emocional. O efeito desse deslocamento não seria precisamente o de provocar no leitor o sentimento do absurdo. O homem absurdo é um humanista. O absurdo é o divórcio, o deslocamento.
“Um homem é mais homem pelas coisas que cala
do que pelas coisas que diz.”
É que o silêncio, como disse Heidegger, é o modo autêntico da fala. Só se cala quem pode falar. A lucidez impiedosa é seu principal caráter. O sentimento do absurdo nasce da situação de impotência em que nos encontramos para pensar os acontecimento do mundo com nossos conceitos, com nossas palavras.
Tudo é permitido, já que Deus não existe e já que morremos. Não a resignação, mas o reconhecimento revoltado dos limites do pensamento humano.
“Evidentemente, nem sempre nos podemos manter razoáveis.”
“Exageramos sempre as coisas que não conhecemos.”
“Minha mãe costumava dizer que nunca se é completamente infeliz.”
“Não há, no fundo, nenhuma ideia a que não nos habituemos.”
“Respondi que nunca se muda de vida, que, em todos os casos, todas as vidas se equivaliam..”
É o sentir vs. o agir, a obrigação de se encaixar na sociedade que critica, julga, e condena. A indiferença e frieza que caracteriza o personagem principal é tamanha que nos desperta sentimentos ambíguos, fica impossível sentir raiva ou simpatia, nos levando a refletir sobre a origem das emoções e sentimentos, e no exagero ou falta dos mesmo.
Edições
Minha edição é da Editora Abril Cultural e já um pouco antiga, data de 1979; comprada pelo Diogo no Sebo Aliança, no centro de São Paulo, sabe-se lá quando. Tradução de Antonio Quadros.
Adaptação para os Quadrinhos
Adaptação para o Cinema
The Stranger é um filme franco-italiano de 1967, dirigido por Luchino Visconti e baseado no livro homônimo. Temos o grande ator Marcello Mastroianni como Meursault.
Questões para aprofundar a leitura
- Qual o papel ou a importância do sol neste livro?
- Como se dá o absurdo?
- Comente sobre a recorrente fala de Meursault “tanto faz”.
- Quem é o estrangeiro no livro? Comente sua resposta.
- Alheamento e indiferença são sentimentos despertos pelo livro?
- Qual seria sua sentença pessoal no julgamento de Meursault? Comente.