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às vezes se deseja escapar da estupidez

Boris Pasternak

Como às vezes se deseja escapar da estupidez sem sentido da eloquência humana, de todas essas frases sublimes, para refugiar-se na natureza, aparentemente tão inarticulada, ou na falta de palavras de um longo trabalho árduo, de um sono profundo, de uma música verdadeira, ou de uma compreensão humana, emudecida pela emoção.

[…] E assim se concluiu que somente uma vida semelhante à vida daqueles ao nosso redor, mesclando-se a ela sem murmúrio, é vida genuína, e que uma felicidade não compartilhada não é felicidade. E isso era o mais perturbador de tudo.

In: Doutor Jivago


How one wishes sometimes to escape from the meaningless dullness of human eloquence, from all those sublime phrases, to take refuge in nature, apparently so inarticulate, or in the wordlessness of long grinding labor, of sound sleep, of true music, or of a human understanding, rendered speechless by emotion.

Dr. Zhivago


Boris Pasternak 🇷🇺 (1890-1960) Prêmio Nobel,

manhã e noite

Jon Fosse

Um menino está prestes a nascer. Chamar-se Johannes como o avô e será pescador como o pai. Uma vida boa, é esse o desejo de quem o traz ao mundo, embora este seja um mundo duro, ruim e cruel. Um homem, velho e sozinho, morre. Chama-se Johannes e foi pescador.

É o melhor amigo que o vem buscar rumo a esse destino onde não há corpos nem palavras, apenas tudo aquilo que se ama. Antes do regresso definitivo ao nada, Johannes revisita o museu da sua vida, longa, simples e quotidiana, confrontando-se paulatinamente com a morte num constante entrelaçamento de real e alucinação, passado e presente.

Manhã e Noite é um romance sobre o maravilhoso sonho que é viver e a aceitação do ciclo natural das coisas. Numa linguagem poética e elíptica, inovadora e despojada, Jon Fosse condensa toda uma existência em dois momentos-chave, urdindo uma reflexão encantatória sobre o significado da vida, Deus e a morte.


Jon Fosse (1959–) nasceu em Strandebarm, Noruega, e vive atualmente numa residência honorária situada nas propriedades do Palácio Real de Oslo, chamada Grotten. Escritor e dramaturgo prolífero, estreou-se em 1983 com o romance Raudt, svart, tendo recebido vários prêmios ao longo da sua carreira, entre os quais o  Internacional Ibsen, o Prêmio Europeu de Literatura e o Prêmio de Literatura do Conselho Nórdico. A sua obra, traduzida em mais de quarenta línguas, inclui romance, teatro, poesia, livros para crianças e ensaio. Prêmio Nobel de Literatura 2023

Correio literário — ou como se tornar (ou não) um escritor

Wisława Szymborska

O “Correio literário” era uma seção do semanário Życie Literackie (Vida Literária) em que a poeta Wisława Szymborska respondia às cartas dos leitores que enviavam seus primeiros escritos com a esperança de serem publicados e entrarem para o panteão literário polonês. As respostas tinham por objetivo orientar e comentar os textos para além do «não publicaremos» protocolar. Para atenuar a negativa, a poeta se vale de uma peculiar ironia, como se tentasse, de um só golpe, fincar novamente ao chão os pés dos sonhadores diletantes. Mas esse tom nunca impede reflexões profundas sobre arte, escrita e o comportamento daqueles que vivem escravos das palavras:

“O artista realmente infeliz é aquele que não deixa nada atrás de si.”

Entre um sorriso amarelo e outro, um conselho e um consolo. Este livro, repleto do humor extraordinário da ganhadora do Prêmio Nobel, não é apenas uma coleção de conselhos valiosos e dicas para escritores, mas também uma ótima leitura para amantes da literatura e leitores das obras de Wisława Szymborska que desejam conhecer mais suas opiniões, preferências literárias e escritores favoritos.

“A poesia não é uma recreação e uma fuga da vida, mas a própria vida.”


Wisława Szymborska 🇵🇱 (1923-2012) nasceu em Bnin, estudou Literatura Polaca e Sociologia. Conclui seu primeiro livro em 1948, que não chegou a ser publicado, já que o regime comunista caracterizou-o como demasiado burguês. Politizando-o, conseguiu publicar Dlagtego Zyjemy (1952, Por Isso Vivemos). Foi editora e colunista no Zycle Literackie, traduziu poesias francesas e escreveu: Wolanie Do Yeti (1957), Sól (1962), em que exprime pessimismo quanto ao futuro, Wiersze Wybrane (1964), Sto Pociech (1967), Ludzie Na Moscie (1986) e Koniec I Poczatec (1993), Chwila (2002). Laureada com inúmeros prêmios, se destacam o Goethe, o Herder, e o Prémio Nobel de Literatura em 1996.