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Perto das trevas, a depressão em seis perspectivas psicanalíticas

Alexandre Patricio de Almeida, Alfredo Naffah Neto

Autores de diferentes vertentes da psicanálise refletem sobre pontos relativos às problematizações em torno do campo das depressões

Naffah Neto e Almeida propuseram a reflexão sobre o livro Perto das trevas, do renomado escritor William Styron, no qual narra seu mergulho em uma depressão avassaladora em um circuito de infernal e insuperável sofrimento. Essa reflexão é feita por comentários e observações tecidas por psicanalistas de diversas orientações teóricas em seis capítulos diferentes, nos quais os autores “interpretam” o texto à luz das ideias de S. Freud, S. Ferenczi, M. Klein, W. R. Bion, em que faço minha contribuição pessoal, D. Winnicott, J. Lacan e outros psicanalistas de linhagem francesa. A proposta não é gerar controvérsia ou disputa de hegemonias e verdades, mas mostrar ao leitor, em uma linguagem também acessível ao leigo interessado, como essa questão tão relevante é abordada e lidada por essas diferentes correntes do pensamento psicanalítico.

Eu sou o monstro que vos fala

Paul B. Preciado

Em novembro de 2019, Paul Preciado foi convidado a falar para 3.500 psicanalistas na Jornada Internacional da Escola da Causa Freudiana em Paris, cujo tema era “Mulheres na psicanálise”. Seu discurso se inspirou no emblemático Relatório a uma academia, de Franz Kafka, em que um macaco diz a uma assembleia de cientistas que a subjetividade humana é uma jaula como a que o aprisionou. A fala de Preciado provocou um abalo sísmico. O filósofo apresentou à plateia o dilema que, acredita ele, deve ser enfrentado pela psicanálise ― seguir trabalhando com a velha epistemologia da diferença sexual e validar o regime patriarcal colonial que a sustenta, endossando e sendo também responsável pela violência que produz; ou abrir-se a um processo de crítica política das suas linguagens e práticas, e enfrentrar a nova aliança necropolítica do patriarcado colonial e suas tecnologias farmacopornográficas.

Seria preciso antes organizar um encontro sobre “homens brancos heterossexuais e burgueses na psicanálise”, porque a maior parte dos textos e práticas psicanalíticas giram em torno do poder discursivo e político desse tipo de animal: um animal necropolítico que vocês tendem a confundir com o “humano universal” e que permanece, até o presente, o sujeito da enunciação central nos discursos e nas instituições psicanalíticas da modernidade colonial.


Paul B. Preciado 🇪🇸 (1970-) é um filósofo e escritor transgênero e feminista, cujas obras versam sobre assuntos teóricos como filosofia de gênero, teoria queer, arquitetura, identidade e pornografia.Identificando-se anteriormente como mulher cisgênero lésbica, Preciado começou em 2014 uma transição de gênero lenta e, em janeiro de 2015, escolheu Paul como seu nome retificado. Atualmente é filósofo associado ao Centre Georges Pompidou, em Paris. Pela Zahar, publicou também Um apartamento em Urano e Manifesto contrassexual.

Uma biografia da depressão

Christian Dunker

A Depressão tem uma história, e a compreensão dessa história nos ajuda a descobrir a melhor forma de entendê-la, tratá-la e controlá-la hoje. Neste livro, o psicanalista Christian Dunker trata a Depressão como uma entidade em si, sujeita a documentos e arquivos que comprovam sua existência, que testemunham seus feitos e que elaboram suas razões de ser, e mostra que a Depressão é um nome demasiado pequeno para tantas formas e cores que ela reúne, e que, ao mesmo tempo, não andam juntas. Refazendo os passos genealógicos da Depressão a partir de seus parentes distantes nas famílias da tristeza e da melancolia, Dunker descreve como ela se tornou um personagem decisivo na Idade Moderna, notadamente com os grandes trágicos da virada do século XVI e XVII, como Shakespeare e Molière, como ela emergiu como personagem secundário na psicopatologia do século XIX e na psicanálise do século XX, ganhando um inesperado reconhecimento a partir da segunda metade do século passado.

selo Paidós da editora Planeta


Christian Dunker  (1966) é um psicanalista brasileiro, professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, autor de diversos livros.