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La húmeda torre

Delmira Agustini

¡Oh Tú!
Yo vivía en la torre inclinada
de la Melancolía…
Las arañas del tedio, las arañas más grises,
en silencio y en gris tejían y tejían.

¡Oh, la húmeda torre!…
Llena de la presencia
siniestra de un gran búho,
como un alma en pena;

Tan mudo que el Silencio en la torre es dos veces;
Tan triste, que sin verlo nos da frío la inmensa
sombra de su tristeza.

Eternamente incuba un gran huevo infecundo,
Incrustadas las raras pupilas más allá;
O caza las arañas del tedio, o traga amargos
Hongos de soledad.

El búho de las ruinas ilustres y las almas
Altas y desoladas!
Náufraga de la Luz yo me ahogaba en la sombra…
En la húmeda torre, inclinada a mí misma,
A veces yo temblaba
Del horror de mi sima


Oh you!
I lived in the leaning tower
Of melancholy …
The spiders of tedium, the grayest spiders,
Wove and wove in grayness and silence.

Oh! the dank tower,
Filled with the sinister
Presence of a great owl
Like a soul in torment;

So mute, that the silence in the tower is twofold;
So sad, that without seeing it, we are chilled by the immense
Shadow of its sorrow.


“A Torre” (1948) – Remedios Varo viveu e trabalhou na Espanha e na França, em 1942 mudou-se para o México, mas passou, no entanto, um ano na Venezuela, quando pintou “A Torre”. A pintura mostra uma torre rosa em um ambiente isolado. Só podemos adivinhar qual era o propósito da torre antes, mas no estado atual, está a ficar coberta de heras e há uma longa fenda a atravessá-la. As portas e janelas são ocas e escuras, como órbitas. Há uma árvore escura em primeiro plano, suas raízes penetram pesadamente no chão e, assim como as janelas da torre, é escura e oca. Apenas um galho está verde e vivo, e vê-se ervas daninhas crescendo no chão, como se ninguém pisasse ali há tempos. Atrás há uma floresta, não densa e escura, mas quase nua, as árvores são fantasmas, tão finos como se estivessem desaparecendo. Varo adorava a linguagem dos símbolos e sonhos, e esta pintura realmente parece um sonho estranho, aquele em que se pode vagar confuso, perdido e triste.


Delmira Agustini 🇺🇾 (1886 — 1914) foi uma poetisa nascida em Montevidéu. Pertence à primeira fase do Modernismo, seus temas tratam da fantasia e de matérias exóticas e eróticas. Los cálices vacíos (1913), sua terceira obra, foi dedicada a Eros e significou sua entrada ao movimento de vanguarda modernista. Foi assassinada por seu ex-marido, que depois cometeu suicídio. Sua obra está ligada ao vasto movimento modernista fluvial, dominado por homens, e gozou da admiração das figuras da época. Traz imagens de profunda beleza e originalidade. O mundo dos seus poemas é sombrio e atormentado, com versos de excepcional musicalidade. Seu lirismo atinge profundidades metafísicas que contrastam com sua juventude.

O Torreão

Jennifer Egan

Romance neogótico que enfoca o suspense de um antigo castelo medieval no drama mental e pessoal de três personagens centrais. Ao enlaçar a temática da dependência moderna de tecnologia e conexões, o livro nos leva a uma viagem através de um novo veículo: a mente. Danny é um nova-iorquino viciado em celular que, entre outros estranhos talentos, consegue detectar na própria pele se um lugar tem sinal de internet. Quando seu primo Howard, de quem havia se afastado após uma brincadeira de mau gosto na adolescência, o convida para conhecer o castelo europeu que comprou e está reformando com a intenção de transformar em hotel de luxo, Danny acha que é uma boa oportunidade para retomar o contato e ao mesmo tempo fugir da confusão que arrumou em seu último emprego. Ao chegar lá, no entanto, as coisas começam a ficar estranhas. O torreão do castelo, que serviu de fortificação durante muitos séculos e resistiu a diversas tentativas de invasão, ainda é ocupado pela antiga proprietária – uma baronesa sinistra que parece velha demais para estar viva. Uma piscina mal-assombrada e um traiçoeiro labirinto subterrâneo completam a aura de mistério do lugar. Quando o pânico toma conta de Danny, ele descobre que a “realidade” pode ser algo em que não consegue mais acreditar. De maneira inventiva e subvertendo os limites entre fantasia e realidade, Egan constrói uma história que prende o leitor a cada página e nos faz ter vontade de reler o livro muitas vezes.

La torre rossa

Giorgio de Chirico

(La torre rossa), 1913

Giorgio de Chirico, o mestre da pintura de espaços estranhos, isolados e inquietantes, tem uma pintura chamada “A Torre Vermelha” de 1913 que também mostra uma torre solitária, não rachada, mas robusta e fechada ao mundo. No tarô, a décima sexta carta dos arcanos maiores é “A Torre”, que carrega um significado de caos, desastre e mudança repentina, mas também sinaliza o ponto do despertar, uma etapa importante de colapso e reconstrução para que nossos horizontes possam se expandir. O planeta astrológico correspondente da carta é Marte, um planeta com uma energia masculina ígnea, guerreira e enérgica, que pode trazer destruição, mas também uma liberação, um avanço. Na carta do tarot a torre vem sempre acompanhada de um raio que não está presente na pintura de Varo, mas a rachadura na fachada da torre pode combinar. As robustas e fortes paredes de pedra da torre podem ser uma fonte de segurança, um tentador conforto de segurança, mas somente depois que o raio caiu e a torre começou a decair é que podemos ver quão obsoletas eram as câmaras internas, quão solitárias e claustrofóbicas, quão definidoras eram as câmaras internas. e confinante. Pense nas senhoras da torre; a Rapunzel, presa ali pela bruxa malvada, soltando os cabelos quando o Príncipe chega, ansiosa para que ele a salve, ou a Senhora de Shalott, tecendo seus bordados na solidão. A poetisa uruguaia Delmira Agustini escreveu “Vivi na torre inclinada da melancolia…”; a torre, se não física real, um símbolo, uma torre emocional na qual nos aprisionamos.