🌎 Traduções

este quarto dentro de mim

Mary Norbert Körte

O quarto interior

este quarto dentro de mim aspira à luz
um fluir interior de flores que apanho em ti
prismas disparados e velas penduradas pelas paredes

feitas pelas minhas mãos de medos-mantidos que agora
suportas pela terra rica e veloz à minha porta
empurrando para o lado as longas vinhas penduradas

sobre a minha casa nesse lugar arrazoado
cantaríamos o padrão dança dançando
pelos rituais hieroglíficos da paixão
quando nos mexíamos como as pessoas fazem com

propósito desmantelando este quadro pedra
por pedra preferindo ficar lá fora
a acasalar com o sol


Mary Norbert KörteMary Norbert Körte 🇺🇸 (1934-2022) nasceu na Califórnia, Mary Norbert Körte foi uma eco-poeta americana ativista, associada ao movimento Beatnik. Ex-freira religiosa católica da região da Baía de São Francisco, na década de 1960 tornou-se poetisa, professora e ativista social. Sua obra publicada inclui vários volumes de poesia. Alguns trabalhos: Hymn to the Gentle Sun (1967), The Generation of Love, (1969), The Midnight Bridge (1970), Mammals of Delight: Poems (1978)

Meditación en el umbral

Rosario Castellanos

No, no es la solución
tirarse bajo un tren como la Ana de Tolstoi
ni apurar el arsénico de Madame Bovary
ni aguardar en los páramos de Ávila la visita
del ángel con venablo
antes de liarse el manto a la cabeza
y comenzar a actuar.

No concluir las leyes geométricas, contando
las vigas de la celda de castigo
como lo hizo Sor Juana. No es la solución
escribir, mientras llegan las visitas,
en la sala de estar de la familia Austen
ni encerrarse en el ático
de alguna residencia de la Nueva Inglaterra
y soñar con la Biblia de los Dickinson
debajo de la almohada de soltera.

Debe haber otro modo que no se llame Safo
ni Mesalina ni María Egipcíaca
ni Magdalena ni Clemencia Isaura.

Otro modo de ser humano y libre.

Otro modo de ser.


In: Poema de 1948 publicado em Meditación en el umbral: Antología poética, Fondo de Cultura Económica, México, 1985.


Meditação no umbral

Não, não é a solução
jogar-se debaixo dum trem como a Ana de Tolstói
nem apurar o arsênico de Madame Bovary
nem esperar nas charnecas de Ávila pela visita
do anjo com lança
antes de amarrar o manto na cabeça
e começar a atuar.

Não concluir leis geométricas, contando
as vigas da cela de castigo
como fez Sor Juana. Não é a solução
escrever, enquanto chegam visitas
à sala da família Austen,
ou trancar-se no sótão
de alguma casa na Nova Inglaterra
e sonhar com a Bíblia Dickinson
debaixo de um travesseiro de solteira.

Deve haver outro modo que não se chame Safo
nem Messalina nem Maria Egipcíaca
nem Madalena nem Clemência Isaura.

Outra forma de ser humano e livre.

Outra maneira de ser.


Como se vê, o poema está repleto de alusões literárias e históricas. Por isso, algumas informações complementares que, espero, facilitará a compreensão e o aproveitamento do poema:


Rosario Castellanos 🇲🇽 (1925 –1974) da Ciudad de México, a poeta concebeu o mundo como um “lugar de luta em que se está comprometido” e a poesia como “uma tentativa de chegar à raiz dos objetos”. Lição de culinária: cozinhe, cale a boca e obedeça ao marido. Filósofa, foi uma das primeiras feministas, escreveu a peça O Eterno Feminino (1975). Por respeito à cultura maia, expressou um profundo indigenismo em Ciudad Real (1960), Balún-Canán (1957) e Oficio de tinieblas (1962). Publicou 23 livros, entre eles El Cristal Fugitivo (1948), Apuntes para una declaración de fe (1948); De la vigilia estéril (1950); El rescate del mundo, (1952), Presentación en el templo (1951), Al pie de la letra, 1959; Lívida luz (1960), Poesía no eres tú (1972).

 

 

La húmeda torre

Delmira Agustini

¡Oh Tú!
Yo vivía en la torre inclinada
de la Melancolía…
Las arañas del tedio, las arañas más grises,
en silencio y en gris tejían y tejían.

¡Oh, la húmeda torre!…
Llena de la presencia
siniestra de un gran búho,
como un alma en pena;

Tan mudo que el Silencio en la torre es dos veces;
Tan triste, que sin verlo nos da frío la inmensa
sombra de su tristeza.

Eternamente incuba un gran huevo infecundo,
Incrustadas las raras pupilas más allá;
O caza las arañas del tedio, o traga amargos
Hongos de soledad.

El búho de las ruinas ilustres y las almas
Altas y desoladas!
Náufraga de la Luz yo me ahogaba en la sombra…
En la húmeda torre, inclinada a mí misma,
A veces yo temblaba
Del horror de mi sima


Oh you!
I lived in the leaning tower
Of melancholy …
The spiders of tedium, the grayest spiders,
Wove and wove in grayness and silence.

Oh! the dank tower,
Filled with the sinister
Presence of a great owl
Like a soul in torment;

So mute, that the silence in the tower is twofold;
So sad, that without seeing it, we are chilled by the immense
Shadow of its sorrow.


“A Torre” (1948) – Remedios Varo viveu e trabalhou na Espanha e na França, em 1942 mudou-se para o México, mas passou, no entanto, um ano na Venezuela, quando pintou “A Torre”. A pintura mostra uma torre rosa em um ambiente isolado. Só podemos adivinhar qual era o propósito da torre antes, mas no estado atual, está a ficar coberta de heras e há uma longa fenda a atravessá-la. As portas e janelas são ocas e escuras, como órbitas. Há uma árvore escura em primeiro plano, suas raízes penetram pesadamente no chão e, assim como as janelas da torre, é escura e oca. Apenas um galho está verde e vivo, e vê-se ervas daninhas crescendo no chão, como se ninguém pisasse ali há tempos. Atrás há uma floresta, não densa e escura, mas quase nua, as árvores são fantasmas, tão finos como se estivessem desaparecendo. Varo adorava a linguagem dos símbolos e sonhos, e esta pintura realmente parece um sonho estranho, aquele em que se pode vagar confuso, perdido e triste.


Delmira Agustini 🇺🇾 (1886 — 1914) foi uma poetisa nascida em Montevidéu. Pertence à primeira fase do Modernismo, seus temas tratam da fantasia e de matérias exóticas e eróticas. Los cálices vacíos (1913), sua terceira obra, foi dedicada a Eros e significou sua entrada ao movimento de vanguarda modernista. Foi assassinada por seu ex-marido, que depois cometeu suicídio. Sua obra está ligada ao vasto movimento modernista fluvial, dominado por homens, e gozou da admiração das figuras da época. Traz imagens de profunda beleza e originalidade. O mundo dos seus poemas é sombrio e atormentado, com versos de excepcional musicalidade. Seu lirismo atinge profundidades metafísicas que contrastam com sua juventude.