“Maria Picasso y Lopez”, Pablo Picasso, 1916.

Quando terminou ‘Guernica’, Picasso chamou a mãe que estava de visita em Paris. Queria a opinião da sua madrecita. Aos 82 anos, María Picasso y López chegou esbaforida após subir os cinco lances de escada do ateliê… Aproximou-se do quadro e ficou em silêncio:

a figura central, iluminada por uma lâmpada, era uma égua aterrorizada cujo corpo estava transpassado por uma lança. À esquerda, uma mulher carregava um filho morto e gritava de dor. Atrás, um touro enfurecido. Embaixo, um homem deitado com os braços esticados segurava uma espada quebrada. Uma pequena flor aparecia tímida, quase esmagada entre as patas do jumento e a espada quebrada. À direita do quadro, três mulheres desconjuntadas, uma delas ferida, choravam e gritavam; a do alto estendia uma lâmpada a óleo em direção ao centro da tela. No fundo, formas geométricas evocavam casas incendiadas, sendo que as chamas eram representadas por triângulos claros. Também ali era uma prova do  reconhecimento de dor maternal.


“Minha mãe me dizia:
Se queres ser um soldado, serás general.
Se queres ser um monge, acabarás sendo Papa.
Então eu quis ser um pintor e agora sou Picasso.”


“Maternidade”, de Picasso. 1905.

“Maternidade” tem as cores em tons pastéis, o olhar de doação, o aconchego, tudo se harmoniza e transmite a sensação de vida que segue… Maternidade pertence período neoclássico do artista, durante o qual ele desenvolveu uma remininscent estilo de classicismo e usaram imagens mitológicas, como centauros, minotauros, ninfas e faunos. Ele também criou, pelo menos, uma dúzia de imagens inspiradas por e dedicados à maternidade e da relação especial entre mãe e filho. As mulheres nestas pinturas se assemelham a estátuas antigas de repente deram vida. Eles são sólidos e poderoso, como deusas antigos, e são pintadas em tons tranquilos de cinza e rosa. Eles são todos grandes mães, ligados à terra.

Embora algumas das telas de mãe e filho neoclássico de Picasso não são grandes, por si só, o efeito de qualquer um deles parece maior que a vida. Maternidade mostra uma mulher vestida em um vestido branco clássico e segura um bebê no colo. Ela está absorvida com o filho que ela não sabe que estamos a observá-los. Sua interação é tranquila, evocando lirismo e o espírito calmante.

“Mãe com criança enferma”, de Picasso. 1903.

Em contraponto com a obra anterior, está a “Mãe com criança enferma“, pertencente à fase azul de Picasso, caracterizada pelo predomínio de cores sombrias, como o azul e o verde. Aqui impera a melancolia e a tristeza. A figura feminina retrata uma prostituta, que Picasso conheceu ao visitar o Hospital de Saint Lazare, em Paris. A mulher, abandonada, buscava ajuda para seu filho doente. A mãe expressa solidão e súplica.

“Mãe e criança”, de Picasso. 1902.

A fase azul de Picasso decorreu entre 1901 e 1904. As obras desta fase, que iniciou logo após o suicídio de Casagemas, um grande amigo do pintor, mostram a solidão das personagens retratadas, isolando-as num ambiente impreciso, com um uso quase exclusivo do azul. Também é da fase azul a obra “Mãe e criança“. Percebe-se nesta pintura as fusões mãe-filho e manto-parede, simbolizando proteção na adversidade.

“Mãe e filho”, de Picasso. 1906.

Da fase azul, Picasso passou para a sua fase rosa, que teve início quando ele conheceu Fernande Olivier, sua primeira companheira. Esta fase, com obras abundantes de tons de rosa e vermelho, caracteriza-se pela presença de acrobatas, dançarinos, arlequins, artistas de circo, saltimbancos. Dos personagens atormentados, doentes, solitários, os novos personagens tornaram-se cheios de ternura e esperança. É da fase rosa a obra “Mãe e filho”. A criança já cresceu, já participa de uma atividade circense e já acabou de comer. A mãe pode não estar feliz, mas está tranquila. O desespero não existe mais.

“Mãe e criança”, de Picasso. 1921.

Mais mães, mais filhos. A partir de 1915, pode ser notado um maior realismo nas pinturas de Picasso. Em 1917, viajou para Roma, com Jean Cocteau – poeta, cineasta e dramaturgo francês – desenhando costumes e cenários para espetáculos da cidade. A partir desse contato com a Itália, a influência da arte clássica em suas obras também cresce. “Mãe e Criança “, de 1921, é um exemplo de suas inclinações neoclássicas.

 

 

 

“Mãe com crianças e laranjas“, 1951

 

 

Período neoclássico de Picasso durou até cerca de 1925, quando sua arte se mudou ainda um outro sentido. Trinta anos se passam. O surrealismo passa. Mulheres se sucedem na vida de Picasso. Mas é o cubismo que se instala de vez. É de 1951 a obra “Mãe com crianças e laranjas“, com cores múltiplas: azuis, amarelos, verdes e um pouco de vermelho. A laranja, de cor laranja, atrai o olhar. Mas os pretos, os brancos e os cinzas também se superpõem. São a cor da pele dos personagens. Uma obra repleta de simbolismos, cheia de significados.

 

 

 

 

 

 


Pablo Picasso (1881-1973) foi um pintor, escultor e desenhista espanhol.