Nnu Ego, filha de um grande líder africano, é enviada como esposa para um homem na capital da Nigéria. Determinada a realizar o sonho de ser mãe e, assim, tornar-se uma “mulher completa”, submete-se a condições de vida precárias e enfrenta praticamente sozinha a tarefa de educar e sustentar os filhos. Entre a lavoura e a cidade, entre as tradições dos igbos e a influência dos colonizadores, ela luta pela integridade da família e pela manutenção dos valores de seu povo.

“Deus, quando você irá criar uma mulher
que se sinta satisfeita com sua própria pessoa,
um ser humano pleno, não o apêndice de alguém?”

(desabafo de Nnu Ego, página 257)

Ela adorava escutar histórias contadas pelos mais velhos. E tanto insistiu com os pais, que eles acabaram concordando: Buchi Emecheta passou a frequentar uma escola para meninas, onde aprendeu as línguas nativas e o inglês — idioma escolhido por ela mais tarde, para a produção de seus trabalhos.

Buchi casou-se muito cedo; aos onze anos, já estava noiva do estudante Sylvester Onwordi e aos dezesseis, já estavam casados. Nasceram-lhes dois filhos e a família se mudou para Londres, onde Sylvester entrou para a faculdade. Não foi um relacionamento tranquilo; muito pelo contrário, Onwordi revelou-se um homem machista e violento. A futura autora esboçava seu trabalho de estreia e sofreu o desgosto de ver os originais que compunha completamente queimados.

Aos vinte e dois anos, ela conseguiu o divórcio, pois Sylvester não podia tolerar os sonhos da mulher, de estudar também numa faculdade e tornar-se uma autora. O ex-marido não reconheceu a paternidade sobre os filhos e Emecheta viu-se num país estranho, com cinco filhos para criar e sozinha. Foi à luta, criou os filhos, arranjou trabalho e em 1974 estava formada em sociologia.


Florence Onyebuchi Emecheta, (1944-2017) mais conhecida como Buchi Emecheta, é uma escritora nigeriana nascida em Lagos, antiga capital da Nigéria, e falecida em Londres. Como se pode depreender de sua bibliografia acima, foi uma autora bastante prolífica. Passou boa parte da sua infância na cidade de Ibuza, terra dos pais. Eles faziam questão de cultivar em Buchi e seu irmão mais velho as raízes da cultura igbo. Entre outras coisas, isto significava que o irmão poderia estudar, por ser menino, e Buchi, por ser menina, não. As mulheres não se pertencem, elas simplesmente passam das mãos masculinas do pai para as do marido e, mais tarde, para as mãos masculinas dos filhos.