Celebrado todos os anos a 2 de novembro, o Dia de Finados, ou Dia de Fiéis Defuntos, não é feriado em Portugal. Visita-se os cemitérios no dia anterior, Dia de Todos-os-Santos, 1 de novembro. Como o Dia de Los Muertos mexicano, estes dias que abrem novembro têm raízes católicas. Ligado à celebração da morte e da ressurreição cristã, o dia dos mortos traz à lembrança os que não estão entre nós. Tradicionalmente há diversas maneiras de celebrar este dia.


“Lá vai o meu coração
Todo cheio de carinho
Vai pedir o Pão por Deus
A quem encontrar de caminho”

Pão de Deus e Bolinhos e Bolinhós são maneiras de celebrar uma tradição do dia dos mortos. Há alguns anos, à noite de 1 de novembro, em Coimbra e noutras localidades da região, grupos de crianças saíam à rua, batendo de porta em porta, cantando uma lúgubre cantilena e pedindo oferendas, ou seja, bolinhos e bolinhós. As suas caras eram tapadas com caixas de papel ou abóboras, em forma de cara, com uma vela acesa no seu interior. A tradição foi evoluindo. Ainda hoje se realiza apesar do Halloween estar a passar à frente, não porque seja uma festa melhor, mas apenas por ser maior. 

Origens Pagãs
As oferendas aos mortos são comuns em diversas culturas pagãs, incluindo as celtas que habitaram o que é hoje Portugal. Com o passar dos anos foi cada vez mais promovido pela Igreja Católica o culto dos mortos, e a tradição de reservar lugar à mesa, e também de deixar comida para os mesmos. Começou também o costume de deixar o primeiro pão de uma fornada nesta altura à porta da casa tapado por um pano. Seria para honrar os mortos, mas a intenção era também quem de mais pobre por ali passasse tomasse a parte física para si. Assim este pão para os fieis defuntos começou a ter a vertente de partilha com quem necessitava.

Romaria “À Terra”
As famílias vão às suas terras natais no dia de Todos-os-Santos. Mas para muitos a viagem tem o Dia de Finados como objetivo. Tradicionalmente o Dia de Finados é dia de romaria ao cemitério. No entanto a maior romaria acaba mesmo por ser no dia anterior. Num espírito bem português, zelosos familiares vão encher de flores as campas e tratar que tudo esteja arranjado para o dia seguinte, o Dia de Finados.

Doçuras ou Travessuras Lusitano
As rimas e cantigas são normalmente descritas quando as crianças batem à porta. E em alguns casos vemos que detêm estrofes de agradecimento a quem oferta doces, mas menos simpáticas para quem não o faz. Desde a tradição celtica, passando por todas as tradições cristãs, o Pão Por Deus é uma festa do povo, e mais que tudo das crianças. E é mais uma tradição de Portugal. A lenga-lenga dos Bolinhos e Bolinhós era assim:

Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Que estão mortos, enterrados
À porta daquela cruz
Truz! Truz! Truz!
A senhora que está lá dentro
Assentada num banquinho
Faz favor de se levantar
Para vir dar um tostãozinho.

Se o dono da residência abrisse a porta e desse algum doce ou pãozinho, a letra da música continuava da seguinte forma:

Esta casa cheira a broa
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho
Aqui mora algum santinho.

Para quem nada dá, há também versos adequados. Caso não abrissem a porta, a letra era um pouco diferente:

Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto.

Os “mais pequenos”, como dizem os portugueses, passeiam por toda a povoação e ao fim da manhã voltam com seus sacos de pano cheios de romãs, maçãs, doces, bolachas, rebuçados, chocolates, castanhas, nozes e, às vezes, até dinheiro!

Pão por Deus, 
Fiel de Deus, 
Bolinho no saco,
Andai com Deus.