É muito importante educar as crianças para a igualdade. Há livros que são inspiradores para a temática da orientação sexual (gay, lésbica, bissexual, heterossexual) que pode, e deve, ser explicada aos pequenos. Vale lembrar que, cientificamente, a orientação e a identidade de gênero (como a pessoa se identifica: trans, travesti, cisgênero) dos pequenos jamais seria afetada por eles lerem algum livro deste gênero, afinal, pessoas LGBTQ já nascem assim, não teria o que mudar, a não ser o conhecimento, que neste caso, seria adquirido positivamente. Ter um material de apoio para a construção de ideias, sobretudo de inclusão, é de extrema importância para uma experiência cidadã, seja na escola, em brincadeiras com outros colegas etc. A criação mais humanizada e aberta pode ajudar os filhos não reproduzirem fobias e isso já pode ser considerado uma grande transformação no mundo. Selecionei abaixo algumas obra em língua portuguesa, publicadas no Brasil e em Portugal, voltadas para o público infantil e que abordam o tema do jeitinho que tem que ser, para crianças. 

A história de Júlia e sua sombra de menino
Anne Galland Christian Bruel

Livro-álbum publicado na década de 70, um clássico do gênero que trata, de maneira muito delicada e transgressora, das diferenças e da descoberta da sexualidade. Julia é uma menina que não faz as coisas “como todo mundo”, seus pais não param de lhe dizer: “Sempre falando palavrões, sempre caindo, se machucando, sempre pronta a fazer algo errado!”. “Você é igual a um menino”. Até que Julia descobre que sua sombra não é de menina, mas de menino.  Menino que passa a fazer uma caricatura de todos os seus gestos. O que em um primeiro momento parece ser algo divertido, se transforma em questionamento de sua própria identidade. Triste e sem entender muito bem o que acontece com ela, Julia passa a se questionar se é preciso mudar mesmo o seu jeito de ser para ser aceita. Escrito em versos, com argumentos sensíveis e com um projeto gráfico apuradíssimo, belas ilustrações em branco e preto que se contrapõem ao vinho das páginas com texto, o drama de Julia aparece a cada página. O leitor acompanha o encontro de Julia consigo mesma por meio de detalhes que revelam a personalidade da menina e o seu estado de espírito. Impossível não se emocionar com a história, tão recorrente no mundo de hoje.

Meus dois pais
Walcyr Carrasco, editora Moderna

Os pais de Naldo se separam, e ele fica com a mãe. Depois, seu pai passa a dividir o apartamento com Celso, um amigo que cozinha muito bem. A mãe do menino recebe uma promoção, mas precisa mudar de cidade e não quer que o menino troque de escola no meio do ano. Naldo não consegue entender por que a mãe e a avó não querem que ele more com o pai. O garoto acaba indo morar com o pai e Celso, e começa a notar conversas estranhas por parte dos colegas, da avó e da mãe. Finalmente, um colega conta para ele que está proibido de ir à sua casa porque o pai de Naldo é gay. O menino fica revoltado, principalmente com Celso, e acaba indo morar com a avó. A reconciliação acontece no aniversário de Naldo: sua mãe convidou o pai e Celso para festa, e Celso é quem prepara o bolo. O menino entende que as pessoas podem ser diferentes e o mais importante é ter uma família que o ama.

O namorado do papai ronca
Plínio Camillo

Simplicidade e naturalidade são virtudes no lançamento infanto-juvenil. “O autor usa uma linguagem sem complicações, em que a voz de Dante dá o tom do livro. A questão do homossexualismo é tratada de modo incrivelmente natural”. O namorado do papai ronca foi selecionado no Concurso de Apoio a Projeto de Primeira Publicação de Livro no Estado de São Paulo do ano passado.

Olívia tem dois papais
Marcia Leite, Companhia das Letrinhas

Olívia é uma menina esperta, que tem plena noção de como usar algumas palavras para conseguir o que deseja. Quando tem de ficar sozinha enquanto os pais trabalham, ela diz que está “entediada”. Como não gosta de ver a filha assim, papai Raul para imediatamente e, quando percebe, já está deitado no chão, brincando de filhinho e mamãe, ou cercado por um monte de bonecas. Para chamar a atenção de seu pai Luís, fala que está “desfalecendo”, afinal, desfalecer de fome é uma coisa muito séria, e Luís é o melhor cozinheiro da família. “Intrigante” é outra palavra de que Olívia gosta muito, isso porque todas as coisas são muito intrigantes para ela. Olívia quer saber como seu pai Raul sabe brincar de boneca e seu pai Luís cozinha tão bem. Quer saber também como vai aprender a usar maquiagem e sapatos de salto alto, se na casa dela não mora nenhuma mulher. A família da Olívia é um pouco diferente, e totalmente “encantadora”, outra palavra que ela adora usar.

O menino que brincava de ser
Georgina Martins

Ser príncipe, bruxa, tudo o que a imaginação mandar. E pelo faz de conta descobrir quem se é de fato. O livro mostra, pela inocência de Dudu, o menino que brincava de ser o que sua imaginação permitisse e, também, a reação dos adultos, com seus julgamentos. Pinky Wainer assina as belas ilustrações.