Astrologia e cocaína. Poços e nuvens. Angela Ro-Ro e Erik Satie. Poesia e delírio. Blues e boleros. Sexo e solidão. Tango e rock and roll. Varandas e cimento. Adolescentes, vagabundos, comunistas, magos, ex-hippies, homossexuais, loucos, secretárias, toxicômanos, militares, presidiários, ciganas, psicanalistas, publicitários. Entre mofo e morangos, passeiam suas obsessões as personagens quase sempre anônimas de Caio Fernando Abreu. Frescos morangos vermelhos mofados alimentando as latas de lixo jogadas pelo asfalto da grande cidade. Movimento em direção a um palmo qualquer de luz. Ou sombra. É depressivo, louco, psicodélico e de uma sensibilidade infinita.

Morangos Mofados é o retrato da geração dos anos 70 – a contra-cultura guiada pelos ideais dos movimentos gay e feminista, da ideologia hippie e da revolução sexual. E ela é, entretanto, sufocada pelo cenário da ditadura militar, pelo imperialismo norte-americano e pela Guerra do Vietnã. O livro é recheado de contos com sexo, homossexualismo, crises existenciais, melancolia, desilusão, muitas drogas, muito rock na vitrola. Caetano, Lennon e Stones. É a geração perdida e a liberdade almejada.

“Ai que gracinha nossos livrinhos de Marx, depois Marcuse, depois Reich, depois Castañeda, depois Laing embaixo do braço, aqueles sonhos colonizados nas cabecinhas idiotas, bolsas na Sorbonne, chás com Simone e Jean-Paul nos 50, em Paris; 60 em Londres ouvindo here comes the sun here comes the sun, little darling; 70 em Nova York dançando disco-music no Studio 54; 80, a gente aqui, mastigando essa coisa porca sem conseguir engolir nem cuspir fora nem esquecer esse gosto azedo na boca”

Dividido em três partes, no “O MOFO” temos todas as angústias sentidas em cada frase dessa geração perdida. Em “OS MORANGOS” uma fagulha de esperança começa a aparecer.  No conto que fecha o livro, “MORANGOS MOFADOS” é inspirado em Strawberry Fields Forever dos Beatles.


Caio Fernando Abreu 🇧🇷 (1948-1996), nascido no Rio Grande do Sul e apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de uma angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um fotógrafo da fragmentação contemporânea. Estudou letras, mas abandonou o curso para ser jornalista. Foi perseguido, descobriu-se doente com HIV e faleceu em Porto Alegre, junto da família após um recolhimento de jardinagem.