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Bordados

Marjane Satrapi

Os almoços de família na casa da avó de Marjane Satrapi, em Teerã, terminavam sempre com o mesmo ritual – enquanto os homens iam fazer a sesta, as mulheres lavavam a louça. Logo depois começava uma sessão cujo acesso só era permitido a elas – o ‘bordado’. O ‘bordado’ iraniano seria equivalente ao brasileiríssimo ‘tricô’, não fosse uma acepção bastante particular – a expressão designa também a cirurgia de reconstituição do hímen, uma decisão pragmática para as mulheres que não abrem mão de ter vida sexual antes do casamento, mas sabem que precisam corresponder às expectativas das forças moralistas do país. O grupo que se reúne na casa da avó de Marjane é uma amostra de mulheres com moral e experiência bastante variadas, mas sempre às voltas com o machismo e a tradição. Casamentos malfadados, virgindades roubadas, adultérios, frustrações, golpes e autoenganos, mostram que no Irã amar e desamar pode ser ainda mais complicado do que podemos supor.

Frango com Ameixas

Marjane Satrapi

Se em Persépolis Marjane Satrapi empreendeu um relato autobiográfico, em Frango Com Ameixas não é sua própria vida que está em foco, mas a de seu tio. Artista como ela, Nasser Ali começa a narrativa com uma tragédia pessoal – durante uma briga, sua mulher destrói o antigo e precioso tar (um instrumento de cordas da tradição persa) que o celebrizara como um dos maiores músicos do país. Nasser Ali sai em busca de um novo instrumento, mas parece impossível encontrar um que tenha o som tão perfeito como o que ele herdara na juventude, durante seus anos de formação. A procura pelo tar o leva a conflitos com a família, os amigos e sua própria identidade de artista – é como se ela tivesse se rompido junto com o instrumento. Começam a vir à tona, então, as escolhas que ele poderia ter feito e as conseqüências das opções que fez, como a de se casar com a mulher que viria a destruir o seu maior bem. O que pode parecer uma história bastante específica se mostra universal. Sobreposta à biografia de Marjane – uma artista que só encontrou seu meio de expressão ao enfrentar os conflitos políticos e culturais de seu país -, a história pode ser lida como um manifesto pela liberdade de criação artística e pela arte como sinônimo máximo da individualidade. O tom predominante, marcadamente triste, não impede que o humor se infiltre.

Persépolis

Marjane Satrapi

Marjane Satrapi tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do Regime Xiita, apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa. Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares. Em Persépolis, o popular encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama, e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar.