O romance conta a história de um escriturário do principal cartório de registro da cidade que resolve arranjar um hobby para distrair-se do trabalho monótono. Começa então a colecionar recortes de pessoas famosas. Quando descobre que são todas semelhantes – meras imagens – passa a buscar detalhes da vida da gente simples e desconhecida, até enredar-se em um labirinto intransitável de informações e números, sugerindo que, se a vida se resumiu a números e documentos, é preciso refazê-la.

“Quando acabei de falar, ela perguntou-me, E agora, que pensa fazer, Nada, disse eu, Vai voltar àquelas suas coleções de pessoas famosas, Não sei, talvez, em alguma coisa haverei de ocupar o meu tempo, calei-me um pouco a pensar e respondi, Não, não creio, Porquê, Reparando bem, a vida delas é sempre igual, nunca varia, aparecem, falam, mostram-se, sorriem para os fotógrafos, estão constantemente a chegar ou a partir (…)”

Este romance conta-nos a história do Sr. José, empregado da mais baixa categoria de uma fictícia conservatória do Registo Civil. A vida do Sr. José é monótona e medíocre, mas esta personagem tem um passatempo curioso: colecionar tudo o que na imprensa é publicado sobre personalidades famosas ou conhecidas.

A vida do Sr. José continua igual, como sempre, até que um dia com o verbete de registo duma mulher desconhecida na mão, lhe surge uma questão: por que além de investigar a vida de personalidades famosas como bispos e jogadores de futebol, não vasculha também a vida de um anônimo? E aí o Sr. José parte numa busca desenfreada para encontrar a mulher desconhecida, usando meios por ele nunca antes pensados. Com isso, a monótona vida do pacato e bem comportado Sr. José passa a ganhar cores mais vivas e ele descobre que a vida de um desconhecido pode ser mais interessante do que a mera leitura de dados de um registro civil possa sugerir.


José de Sousa Saramago 🇵🇹 (1922-2010) nascido em Azinhaga, Golegã, foi o escritor português galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efetivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. Através de parábolas sustentadas pela imaginação, compaixão e ironia, nos permite apreender continuamente uma realidade fugidia.