Este pequeno de papel áspero não passa desapercebido. Delicado, poético e amargo, é um livro que dá ressaca – e olha que só tem 72 páginas! Também dá orgulho do idioma todo lírico, bem trabalhado nas memórias afetivas de um autor que conseguiu autobiografar belamente sua infância. Vermelho Amargo revela uma face diferente de Bartolomeu Campos de Queirós, autor que atuava mais no infanto-juvenil. Recomendo duas vezes: pela obra em si e pela encadernação especial que parece ter sido feita para lembrar a metáfora do livro, um tomate fatiado conforme passamos as páginas, sua capa-casca dura, as laterais lisas, o papel-pele rugoso, as fontes vermelhas  parecem sementes. Como lemos na epígrafe, foi preciso deitar o vermelho sobre papel branco para bem aliviar seu amargor. Um narrador, em primeira pessoa, revisita sua infância, marcada pela ausência da mãe. Vemos os irmãos estranhos, que encontraram maneiras singulares de lidar com sua orfandade, filhos de um pai alcoólatra e de uma madrasta que serve em todas as refeições fatias finas de tomate. Conforme o livro avança, a família vai se desfazendo e o tomate passa a ser dividido em fatias mais grossas. A lembrança das mãos delicadas da mãe retornam ao menino, com ela o tomate era cortado em cruz e se “transfigurava em pequenas embarcações ancoradas na baía da travessa”. Já com a madrasta, que de modo indiferente e frio, cortava o tomate “em fatias, assim finas, capaz de envenenar a todos”, sua realidade, destino e sentimentos seguiam bem diferentes.

Prêmios

Com Vermelho Amargo, Bartolomeu Campos de Queirós e Suzana Montoro, com Os Hungareses, (Ofício das Palavras), foram os ganhadores do Prêmio São Paulo de Literatura 2012. Falecido em janeiro desse ano, Bartolomeu foi o vencedor in memoriam da categoria Melhor Livro do Ano.