Uma crítica, uma auto-crítica, imaginação e arte a serviço da compreensão da realidade muito próxima do nosso tempo e da nossa vida pessoal. Em Câmara Lenta é, como diz o autor, “uma reflexão emocionada, porque tenta captar a tensão, o clima, as esperanças imensas, o ódio, e o desespero” que marcaram uma tentativa política desesperada e extrema em nosso país: um romance a respeito da ingênua generosidade daqueles que jogaram tudo, inclusive a vida, na tentativa de mudar o mundo.

A obra “Em Câmara Lenta” de Renato Tapajós vem somar-se à linha dos romances modernos que descortinaram a estrutura clássica de narrar para dar vazão a uma técnica pautada na vivência interior da personagem e com isso trouxeram para trama literária mais que um enredo, uma transposição do pensamento da personagem. Renato Tapajós consegue adentrar no universo psicológico da ditadura militar quando dá vida a “Ele”, narrador-personagem da obra supracitada, o autor transporta o leitor para os porões deste acontecimento sem deixar que a linha histórica dos fatos reais torne-se mote para sua escrita. Mais que narrar a história, o autor embrenha-se no emaranhado dos pensamentos das personagens na busca por relatar os anseios, paixões e dores da luta armada.

Cita a morte de Lamarca (p. 55)

anotações:

fragmentação da narrativa como reflexo do fluxo de pensamento fragmentado


Renato Tapajós (1943-) nasceu em Belém do Pará, é cineasta e escritor. Cursou Ciências Sociais na USP. Ainda durante a faculdade dirigiu os documentários Universidade em crise (1966), Um por cento (1967) e Vila da Barca (1968) – ganhador do prêmio de Melhor Filme no Festival Internacional do Filme de Leipzig, na Alemanha.