“Pobre?”, disse Babette. Sorriu para si mesma ao ouvir isso. “Não, nunca vou ser pobre. Já lhes disse que sou uma grande artista. Uma grande artista, madames, nunca é pobre. Temos algo, madames, a respeito do qual as outras pessoas não fazem a menor ideia.”

A história se passa no vilarejo norueguês Berlevaag, no ano de 1871. Duas irmãs, devotas de seu falecido pai, um profeta, pregavam a salvação através da renúncia. Certo dia, bate à porta uma desconhecida em terrível estado, refugiada da guerra civil francesa: Babette.

Certo dia, Babette recebe uma correspondência avisando-lhe que havia sido premiada na loteria com dez mil libras.

Ao invés de voltar para França como temiam suas benfeitoras, pede licença para fazer um banquete para o grupo de fiéis do falecido profeta. Num primeiro momento as irmãs se apavoram “com a perspectiva de perderem suas almas por deleitarem com prazeres terrenos”.

Um dos participantes do jantar, um general, identifica o banquete com o mesmo que havia experimentado no “Café Anglais”, que segundo ele só poderia ser preparado por “um gênio da culinária”.

No menu: sopa de tartaruga, blinis de caviar demidorf, quails en sarcophage, baba ao rum, frutas frescas, champagne Vve Clicquot e Clos des Vougeot servidos com todo requinte.

Ao fim do banquete todos estavam extasiados, “alimentados de corpo e alma”. Babette então conta o seu segredo (era ela a cozinheira do “Café Anglais”), e decide permanecer no local.

Cena do filme

 

No ensaio de Ricardo Piglia, lemos que “Toda verdadeira tradição é clandestina, se constrói retrospectivamente e assume a forma de um complô.” (in: Formas Breves)