jamais se desculpar, jamais se explicar

Textos curtos, aparentemente independentes formam uma leitura dos desejos, funções e possibilidades do texto. Através de sua fruição, Barthes monta sua teoria no texto analisando a literatura em instantes diferentes, vê na sua marginalidade, estuda a mistificação da novidade. E o jogo que se estabelece entre o texto e leitor. Sua duplicidade. O autor excrutiniza o “texto‐tagarelice” (p. 10) de um modo guiado e sensual.

“quem suporta sem nenhuma vergonha a contradição?”

O texto de prazer, para Barthes (2010, p. 20) é “aquele que contenta, enche, dá euforia, aquele que vem da cultura, não rompe com ela”. Este texto do prazer “seria irredutível a seu funcionamento gramatical (fenotextual), como o prazer do corpo é irredutível à necessidade fisiológica. O prazer do texto é esse momento em que meu corpo vai seguir suas próprias ideias – pois meu corpo não tem as mesmas ideias que eu” (BARTHES, 2010, p. 24).

De acordo com Barthes (2010, p. 42) “o texto é a linguagem sem o seu imaginário, é o que falta à ciência da linguagem para que seja manifestada sua importância geral”. Barthes (2010, p. 62) nota que “o prazer do texto pode definir-se por uma prática: lugar e tempo de leitura”. O autor também argumenta que nada garante que um texto vai me proporcionar prazer duas vezes. Pois a segunda vez que irei lê-lo eu já serei outra pessoa, com outras ideias, outras vivências, e assim, o texto não fará o mesmo sentido que um dia já fez. Para Barthes (2010, p. 77) “o prazer do texto é isto: o valor passado ao valor suntuoso de significante”.

A fenda é que se torna erótica.

tmese, fonte ou figura do prazer

BARTHES, Roland. O prazer do texto. Tradução J. Guinsburg. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1996. (1973)


Roland Barthes 🇫🇷(1915-1980) foi um escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês. Formado em Letras Clássicas e Gramática e Filosofia na Universidade de Paris, fez parte da escola estruturalista, influenciado pelo lingüista Ferdinand de Saussure. Um dos mais importantes intelectuais franceses, foi professor da École Pratique des Hautes Études e do Collège de France. Além de colaborações para diversos periódicos (Esprit, TelQuel etc.), é autor de, entre outras obras, O grau zero da escritura (1953), Mitologias (1957), Crítica e verdade (1966), Sistema da moda (1967), O prazer do texto (1973) e Fragmentos de um discurso amoroso (1977).