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Leão-de-Chácara

João Antônio

João Antônio Ferreira Filho se destaca pela forma como transpõe a vida e a linguagem do “homem” para a escrita. Seus contos são narrados pelo ponto de vista e leões-de-chácara, porteiros, contínuos, sujeitos pobres, à margem da sociedade, que encontram na malandragem uma forma de sobrevivência. Leão de Chácara transita entre as boates, bares e inferninhos do Rio de Janeiro e São Paulo, fazendo uma incursão pela noite das metrópoles brasileiras, seus personagens e seus dramas.

São marafonas, bandidetes, travestidos, jogadores, gente da noite, da polícia, picaretas, jornalistas, velhos, gente descarrilada, otários, coronéis, safados, cafetões, homens fanados e com sono, bêbados — da gente abonada e alegre na bebida aos merdunchos e bicões da noite, sentados, encolhidos, esfomeados, tesos, sem pedir nada e vendo os outros comer.

João Antônio Ferreira Filho
Nascido de uma família pobre, no subúrbio de Presidente Altino, em São Paulo, deixou uma obra marcada pela extrema habilidade com que elaborou literariamente a linguagem nas cidades brasileiras. Ao longo dos anos 1970 e 80, destacou-se também como jornalista, tendo sido um dos pioneiros do Novo Jornalismo no país, e atuando intensamente na chamada Imprensa Alternativa, ou como ele dizia, “nanica”.

O amante

Marguerite Duras

Considerado o livro mais autobiográfico da escritora, dramaturga e cineasta Marguerite Duras (1914-1996), O amante, escrito em 1984, recebeu o Prêmio Goncourt, o mais importante da literatura francesa e se consagrou como sua obra mais célebre. O romance narra um episódio da adolescência de Duras: sua iniciação sexual, aos quinze anos e meio, com um chinês rico de Saigon. Se as personagens e fatos são verídicos, a escrita os transfigura e transcende; não sabemos em que medida a história é verdadeira. Os encontros amorosos são, ao mesmo tempo, intensamente prazerosos e infinitamente tristes; a vida da família contrapõe amor e ódio, miséria material e riqueza afetiva. A presença da mãe, sua desgraça financeira e moral, do irmão mais velho, drogado, cruel e venal, e do irmão mais novo, frágil e oprimido, constituem uma existência predominantemente triste, e por vezes trágica, de onde Duras extrai um esplendor artístico que se reflete em sua própria pessoa – personagem enigmática, quase de ficção. Tem sido dito que ler este livro é como folhear um álbum de fotografias – a narrativa se desenrola em torno de uma série de imagens fascinantes. Esse trabalho primoroso com as imagens também pode ser verificado nos mais de vinte filmes dirigidos por Duras e na possibilidade de seus textos se transformarem em filmes, como o fez Jean-Jacques Annaud com O amante em 1991.

O africano

Jean-Marie Gustave Le Clézio

O africano é o texto mais íntimo que Jean-Marie Gustave Le Clézio, ganhador do Prêmio Nobel de 2008, já escreveu. Em 1948, com o fim da guerra, ele embarcou com a mãe e o irmão para uma viagem que o levaria da pequena Nice, no sul da França, à Nigéria. Lá veria seu pai pela primeira vez, médico de campanha que a guerra e a ocupação haviam impedido de voltar à França. A narrativa une as emoções de pai e filho num curto e profundo relato sobre a herança que invariavelmente nos é transmitida, como afirma o próprio autor na primeira frase do livro: “Todo ser humano é um resultado de pai e mãe”.