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Aqueles que queimam livros

George Steiner

Os três ensaios que compõem este livreto, publicado em 2017, foram proferidos entre 1999 e 2001 (em Turin, Tel Aviv e Boston, respectivamente) e envelheceram rápido e mal.

Tratam, de maneira geral, de uma certa angústia que cerca o futuro do livro e da leitura em tempos de transformações nos modos de ler e de veicular a literatura.

Entre algumas discussões que já deixaram de ser pertinentes há uns cinco ou dez anos, surgem aqui e acolá boas considerações sobre os arbítrios da leitura ou ainda sobre aquela perene questão da censura de livros, que está longe de ser apanágio de governos totalitários. “É absolutamente impossível avaliar”, diz o autor, “a imensidão dos textos assim castrados, expurgados, falsificados ou decididamente reduzidos ao silêncio. Mas as nossas ditas democracias tampouco são inocentes. Clássicos e obras de literatura contemporânea foram retirados das estantes e das bibliotecas públicas ou escolares em nome de um ‘politicamente correto’ tão pueril quanto degradante.” (p. 72).

Os livros são a nossa chave de acesso para nos tornarmos melhores do que somos. A capacidade deles de produzir essa transcendência suscitou discussões, alegorizações e desconstruções sem fim. O encontro com o livro, assim como com o homem ou a mulher, que vai mudar a nossa vida, frequentemente em um instante de reconhecimento do qual não se é consciente, pode ser completamente casual. O texto que nos converterá a uma fé, nos fará aderir a uma ideologia, dará a nossa existência um fim e um critério, podia estar ali a nos esperar na estante dos livros em promoção, dos livros usados e em desconto. Talvez empoeirado e esquecido, na estante exatamente ao lado do livro que procurávamos.

A arte da leitura

George Steiner

As alternativas não são animadoras: de um lado, temos a vacância do intelecto, ruidosa e vulgar; do outro, o recuo da literatura para dentro das vitrines dos museus. Temos as abomináveis simplificações esquemáticas dos clássicos, com versões pré-digeridas e banalizadas, por um lado ou, por outro, as ilegíveis edições eivadas de notas de vários comentadores. A arte da leitura precisa reencontrar seu caminho, ainda que a duras penas. Se falhar, se uma leitura bem-feita passar a ser apenas um artifício do passado, um enorme vazio passará a ocupar nossas vidas e teremos perdido para sempre a serenidade e a luz que emanam da tela de Chardin.

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The alternatives are not encouraging: on the one hand, we have the vacancy of the intellect, noisy and vulgar; On the other, the retreat of literature into the museum windows. We have the abominable schematic simplifications of the classics, with pre-digested and trivialized versions, on the one hand, or, on the other, the illegible edited editions of notes by various commentators. The art of reading must find its way again, if only with difficulty. If it fails, if a well-read reading becomes just a device of the past, a great emptiness will occupy our lives and we will have lost forever the serenity and light emanating from the screen of Chardin.

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citação de / quote by GEORGE STEINER

“O filósofo lendo” (1734) – Jean-Baptiste Chardin