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Nuns atalhos da tarde

Hilda Hilst
LXVI Nuns atalhos da tarde Vivendo imensidão Minha alma disse a mim Rica de sombras: Não pertencida. Exilada dos sóis Das outras vidas. / pág. 401 | grifos meus / Hilda Hilst 🇧🇷 (1930-2004) foi uma poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira, nascida em Jaú-SP. É considerada pela crítica...

Tudo se esvai

Hilda Hilst
Tudo se esvai. A hora se faz imóvel Escorrida Sobre o corpo da vida. Vou-me Pedra lisa e mar Fixa-informe Tento te segurar Tu que és minha vida. Morre O mesmismo de mim Se não me colo a ti. Vagueio. Alguém me vê E aponta: Dentro da flor aberta...

Se te pronuncio

Hilda Hilst
XXXIII Se te pronuncio Retorno um Paraíso Onde a luz se faz dor E gelo a claridade Se te pronuncio É esplendor a treva E as sombras ao redor São turquesas e sóis Depois de um mar de perdas Vigio Esta sonoridade dos avessos. Que se desfaça o fascínio...

Te pergunto: e a entranha?

Hilda Hilst
Ávidos de ter, homens e mulheres caminham pelas ruas. As amigas sonâmbulas, invadidas de um novo a mais querer, Se debruçam banais, sobre as vitrines curvas. Uma pergunta brusca, enquanto tu caminhas pelas ruas. Te pergunto: e a entranha? De ti mesma, de um poder que te foi dado...

Escreveste meu nome

Hilda Hilst
XXXIX Escreveste meu nome Sobre a água? A fogo, na alma Desenhei o teu Grafismo iluminado Imantado e novo Teu nome e o meu. Novo Porque nunca se viu Nome tão pertencido. Antigo porque há milênios Se entrelaçaram justos No infinito. E raro Porque tingido de um mosaico vivo...

Se falo é por aqueles mortos

Hilda Hilst
Se falo É por aqueles mortos Que dia a dia Em mim se ressuscitam. De medos e reguardos É a alma que nos guia A carne aflita. E de espanto É o que tecemos: Teias de espanto Ao redor da casa Onde vivemos. Trituramos cada dia (Agonizantes amenos) Constelações...

Se não vos vejo

Hilda Hilst
XII Se não vos vejo Vos sinto por toda parte. Se me falta o que não vejo Me sobra tanto desejo Que este, o dos olhos, não importa. (Antes importa saber Se o que mais vale é sentir E sentindo não vos ver.) São coisas do amor, senhor, Desordenadas,...

Sendo quem sou, em nada me pareço

Hilda Hilst
Sendo quem sou, em nada me pareço. Desloco-me no mundo, ando a passos E tenho gestos e olhos convenientes. Sendo quem sou Não seria melhor ser diferente E ter olhos a mais, visíveis, úmidos Ser um pouco de anjo e de duende? Cansam-me estas coisas que vos digo. As...

Tenho te amado tanto e de tal jeito

Hilda Hilst
Tenho te amado tanto e de tal jeito Como se a terra fosse um céu de brasa. Abrasa assim de amor todo meu peito Como se a vida fosse voo e asa. Iniciação e fim. Amo-te ausente Porque é de ausência o amor que se pressente. E se é...

Balada do Festival

Hilda Hilst
II Já não sei mais o amor e também não sei mais nada. Amei os homens do dia suaves e decentes esportistas. Amei os homens da noite poetas melancólicos, tomistas, críticos de arte e os nada. Agora quero um amigo. E nesta noite sem fim confiar-lhe o meu desejo...

Inadvertida rosa

Hilda Hilst
VII Inadvertida rosa. Quis avisar-te do roteiro sem fim das urzes e da ventania. (Já era tarde quando pensei em procurar-te. De nada adiantaria) Deixaste a terra que te alimentava e o lírio. Te lembras? Aquele que aos teus pés crescia. Nada somos sem ti. No entanto, espera. Na...

Presságio

Hilda Hilst
Estreia de Hilda Hilda, o livreto de poesia foi publicado pela primeira vez na Revista dos Tribunais, em 1950. Ilustrações de Darcy Penteado / Poemas Primeiros / À minha mãe XII Dia doze… e eu não suportarei o estado normal das cousas. O ano que vem, não vou desejar...

tua volta sinto-a num presságio

Hilda Hilst
Voltando (porque tua volta sinto-a num presságio) acenderei luzes na minha porta e falaremos só o necessário. Terás pão e vinho sobre a mesa. Virás acabrunhado (quem sabe) como o filho que retorna. Nesse dia, a lamparina de teu quarto deixarás que fique acesa a noite inteira. O amor...

Te batizar de novo

Hilda Hilst
I Te batizar de novo. Te nomear num trançado de teias E ao invés de Morte Te chamar     Insana Fulva Feixe de flautas Calha Candeia Palma, por que não? Te recriar nuns arco-íris Da alma, nuns possíveis Construir teu nome E cantar teus nomes perecíveis Palha Corça Nula...

Balada de Alzira

Hilda Hilst
IX POEMA DO FIM A morte surgiu intocável e pura. Depois, teu corpo se alongou inteiro sobre as águas. Dos teus dedos compridos estouraram flores e ficaram árvores ao sol. Escorreguei meus braços no teu peito sem queixa e cobri meu corpo com teu corpo de espuma. …………………… Ainda...

Exercícios

Hilda Hilst
Paulista de Jaú, Hilda Hilst (1930-2004) foi uma das mais versáteis escritoras brasileiras do século 20. Para o crítico Anatol Rosenfeld, “Hilst pertence ao raro grupo de artistas que conseguiram qualidade excepcional em todos os gêneros literários que se propôs – poesia, teatro e ficção”. Organizador do presente volume,...

A Obscena Senhora D.

Hilda Hilst
O livro. Escrito na particularíssima prosa de Hilda Hilst, onde todos gêneros narrativos se fundem e os recursos estéticos mais variados são usados, A Obscena Senhora D é Hillé, que após a morte do seu amante, se recolhe ao vão da escada, para falar “dessa coisa que não existe,...