Esta tetralogia reúne quatro livros publicados individualmente: Sabedoria do nunca (1999), Ignorância do sempre (2000), Certeza do agora (2002) e Instabilidade perpétua (2009).


“Agradeço o vento esquivo que me varreu do mundo:
ele me deu a perplexidade, o olho sem pálpebra
e um coração abissal para ressoar
a imensidão da noite sem resposta.”


Esta tetralogia transita por diferentes gêneros como aforismo, poesia em prosa, conto, ensaio filosofico, auto e heterotanatografia. O que constitui sua peculiaridade está no hibridismo de formas em que diferentes gêneros aparecem simultaneamente. Assim, o que poderia ser classificado como escrita de si e ao mesmo tempo um ensaio sobre Heidegger e a atualidade, ou um ensaio sobre Kafka e também uma autobiografia. Esse procedimento se baseia na ideia de emprestar sua própria ferida e marca para ler os autores a partir de comunhões de posição. Não se trata, portanto, de uma intertextualidade pos-moderna e livresca, mas visceral, que autoriza a incorporação de vários eus. A temática central da obra de Juliano Garcia Pessanha está ligada a questão da diferença entre nascer para fora e nascer para dentro do mundo. Investigação que do ponto de vista filosófico equivale a uma onto-topologia testemunhal. Quem segue o percurso desses escritos acompanha os deslocamentos pelos quais o próprio corpo e escrito em uma poética do encontro.


“Entrelaçando poesia, ficção, psicanálise e filosofia, os livros aqui reunidos atestam a pujança da escrita de Juliano Garcia Pessanha. Trata-se de uma escrita visceral em que a forma de expressão se articula profundamente com a experiência do corpo, do mundo, da história, da morte, da subjetividade, da linguagem, testemunhando um sentimento de estranheza e o desejo de uma intensidade desconcertante.
A estranheza vem da afirmação de uma experiência abissal contra as tentativas de normalização e de identificação que nos são impostas. Assim, a figura que emerge da escrita é marcada pela catástrofe, pelo desastre, pela dor, pelo cansaço, pelo sentimento de ser uma sombra, sem nome, agonizante, desabitado de tudo.
Mas, na expressão desse dilaceramento, desse desmoronamento, a intensidade de uma linguagem amorosa traz a possibilidade de aliança, de união, ou melhor, e paradoxalmente, de uma proximidade que não venha abolir a distância. Assim, o desejo que transparece nesse saber paradoxal é de que o homem possa viver a experiência da alteridade e do encontro por meio da palavra vigorosa, vulcânica, capaz de dizer o indizível, pensar o impensado e instaurar nova relação com o tempo e com o mundo.
Fui conquistado pela dimensão trágica desses textos marcados pela exigência de abandono do eu e da racionalidade. Mas também pela reflexão que há neles sobre as palavras. Pelo desejo de depurá-las, festejar seu enigma, exibir o embate com o outro que lhe resiste. Uma das maravilhas da escrita de Juliano é que, através dela, ele enfrenta o monstro e mesmo assim às vezes se vislumbra um sorriso delicado.”


— ROBERTO MACHADO


Juliano Garcia Pessanha 🇧🇷(1962–) nasceu em São Paulo, estudou direito e filosofia, e é mestre em Psicologia. É professor e dirige oficinas de escrita. Também é autor da trilogia: Sabedoria do Nunca (1999, com textos que ganharam o Prêmio Nascente, promovido pela Abril/USP), Ignorância do Sempre (2000) e Certeza do Agora (2002), todos publicados pela Ateliê Editorial. Depois, escreveu Recusa do Não-Lugar e mais recentemente O filósofo no porta-luvas (2021). Nesses livros de difícil classificação, ele mistura ensaio, poesia e ficção.