Coimbra foi peça-chave da monarquia, tendo sido a segunda capital de Portugal entre 1139 e 1255. A cidade fica em uma colina, às margens do belo rio Mondego e é conhecida mundialmente por sua academia, a Universidade de Coimbra, umas das primeiras da Europa. Coimbra é chamada de “cidade dos estudantes” e, se for período letivo, é possível ver os capas negra a circular pelas ruas. Dividida entre a parte alta e a baixa medieval, é preciso ter perna forte para percorrer suas ladeiras. O tom nostálgico da guitarra portuguesa e a voz embargada podem ser ouvidas nas serenatas noturnas. O fado de Coimbra é diferente e rende, no mínimo, um bate e volta do Porto ou de Lisboa. E vamos a mais porquês.

Largo da Portagem
Largo da Portagem
Quase todos os passeios começam sob a estátua de Joaquim António de Aguiar, antigo primeiro-ministro. Situado no perímetro do centro histórico, com visibilidade para a Ponte de Santa Clara e para o rio Mondego, o largo é movimentado. Seu nome está ligado ao fato de antigamente se cobrar ali impostos sobre as mercadorias vindas do sul. Neste largo estão símbolos arquitetônicos da cidade: o Hotel Astória construído em 1926 e o Banco de Portugal, ambos de Adães Bermudes.

Paço das Escolas
Universidade de Coimbra
A Universidade de Coimbra foi fundada por D. Dinis em 1290, sendo uma das mais antigas de toda a Europa. Localizada na parte alta da cidade, antigamente fortificada pela ocupação dos mouros. A visita clássica é ao Paço das Escolas, que inclui a belíssima Biblioteca Joanina, a Capela São Miguel e outros monumentos, como a Torre da Universidade, de onde se tem uma vista panorâmica da cidade.

Biblioteca Joanina
Biblioteca Joanina
Fundada no século XVIII e situada no Paço das Escolas da Universidade de Coimbra, no pátio da Faculdade de Direito. Apresenta um estilo marcadamente barroco, sendo reconhecida com uma das mais originais e espectaculares bibliotecas europeias. Além de local de pesquisa, o espaço é ainda frequentemente utilizado para concertos, exposições e outros eventos culturais. Em 2013 o jornal britânico The Telegraph, considerou a Biblioteca Joanina como “a mais espectacular do mundo“. Devido à forte necessidade de preservação, em 2014 entrou para a lista bienal do World Monuments Watch. Reúne cerca de 70 mil volumes, a maior parte no andar nobre.

Aqueduto São Sebastião
Aqueduto de São Sebastião
Seguindo pela Rua Larga, encontramos a estátua do rei D. Dinis, fundador da Universitas Conimbrigensis, olhando do alto das Escadas Monumentais da Universidade. Logo à direita, o Museu de História Natural antecede o Aqueduto São Sebastião, popularmente conhecido como Arcos do Jardim, dada a sua localização contígua ao Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Mandado construir em 1570 pelo rei D. Sebastião para abastecer de água a Alta da cidade, o aqueduto aproveita o traçado de um precedente romano. O primeiro arco, o “arco de honra”, é rematado por uma cornija, na qual vemos o escudo de Portugal. Depois temos um detalhe baldaquino, assente sobre colunelos dóricos e coroado por cúpula e lanternim. A cada lado dos arcos vemos nichos com as imagens de São Sebastião e São Roque. Tantos detalhes não roubam o charme do jardim, que costuma estar sempre à risca.

Nova Sé de Coimbra
Nova Sé de Coimbra

Sé Velha de Coimbra
Sé Velha de Coimbra

fachada e escadaria do Convento São Francisco
Convento São Francisco

Fachada do Museu Nacional Machado de Castro
Museu Nacional Machado de Castro

Fado de Coimbra
Fado de Coimbra
Totalmente distinto do Fado de Lisboa, o Fado de Coimbra é um fado de serenata. Pauta-se por uma sonoridade mais lânguida por causa da nota abaixo a que a guitarra de Coimbra é afinada, um timbre mais soturno pois deve ser interpretado só pela voz masculina, e sempre com a temática da saudade e do amor, pela mulher, pela cidade, pela Universidade. Mais uma particularidade se lhe junta à identidade distinta: é tido como o mais erudito, ainda que nunca negando as influências populares, pois muitos dos grandes fados de Coimbra são poemas de alguns dos mais ilustres poetas portugueses que estudaram em Coimbra.

Doçaria Conventual de Coimbra
Doçaria Conventual de Coimbra
Do fado passamos às freiras. Mas o que tem uma coisa a ver com a outra? É que os estudantes de capa negra até às freiras cantavam serenatas. Essas “Tardes dos Outeiros” ou “Abadessadas” como ficaram conhecidos os recitais poéticos noturnos, eram o elo entre a universidade e a vida conventual: os rapazes traziam música e poesia e as freiras retribuíam com… Doces, obviamente! Qual o rapaz que iria recusar uma Maminha de Freira, uma Barriga de Freira, uma Encharcada, uma Arrufada ou uma Cavaca Alta? Post especial sobre a doçaria conventual de Coimbra.
Claustro da Manga
A reconstrução do lanço Norte dos edifícios do Mosteiro de Santa Cruz, no âmbito das reformas manuelina e joanina, permitiu que um segundo claustro nascesse: o Claustro da Manga, também designado por Claustra Terceira ou Claustro da Enfermaria. Este claustro é uma das primeiras obras arquitetônicas inteiramente renascentistas feitas em Portugal, obra de João de Ruão que desenha o conjunto da fonte e dos quatro relevos para os cubelos da fonte central, evocativa da Fonte da Vida. O Claustro da Manga foi entregue à Câmara Municipal em 1839 e desde essa altura tem recebido diversas intervenções de restauro e conservação.

Praça do Comércio
Praça do Comércio
Não sem antes atentarmos à Igreja de São Tiago, outra das igrejas românicas conimbricenses. A dita praça foi durante séculos o centro da vida comercial e social de Coimbra. O principal mercado da cidade tinha aqui lugar, e nela ainda se encontra o Pelourinho de Coimbra, o edifício do antigo Hospital Real e, a fechar a praça, a Igreja de São Bartolomeu. Apesar da zona estar um pouco degradada, o comércio tradicional resiste. Atente aos números 4 e 6 da Rua Sargento Mor, a Casa Medieval – um dos raríssimos exemplares das casas típicas dos bairros comerciais das grandes cidades portuguesas dos finais do século XV e início do XVI.
Mosteiro de Santa Cruz
Seminário Maior de Coimbra

Pontinha do Parque Verde
Parque Verde / Choupalinho
Daqui descemos ao Mondego, passando pelo Parque do Choupalinho, para atravessarmos a Ponte de Pedro e Inês, uma ponte pedonal que homenageia os amantes, mas vai ser a grande revelação da razão porque tantos, estudantes ou não, se apaixonam pela cidade. E ao vê-la insinuante e ondeante no topo do monte, dourada pelo sol poente, vai perceber tudo.

Choupal, o pulmão de Coimbra
Mata Nacional do Choupal
Tantas vezes cantada por poetas que ali encontraram um frondoso retiro. A sua origem está ligada às ações para atenuar os efeitos do assoreamento do rio Mondego. O Choupal foi afinal plantado, tendo como primeira função a fixação de terrenos marginais e, posteriormente, a difusão das cheias através dos valeiros que a atravessam. Foram muitas, muitas árvores que desde o século XIX desafiaram o tempo crescendo. Tem na sua composição uma coleção de espécies que integravam as matas climáticas ribeirinhas, nomeadamente o choupo, o amieiro, o freixo, salgueiros, o ulmeiro e o lodão. Atualmente as espécies vegetais presentes são: o choupo, o plátano, a nogueira-preta e o cedro dos pântanos. Com uma área de 80 hectares, bordeja o rio Mondego por 2 km. Com o crescimento do arvoredo, adveio a função de recreio e lazer, que ainda hoje se mantém: é o espaço que muitos habitantes da cidade utilizam para pôr a sua forma física em dia.

Jardim da Sereia
Jardim da Sereia
No século XVIII, por iniciativa do Prior D. Gaspar da Encarnação, no espaço que anteriormente se chamava Quinta da Ribela, procedeu-se, durante o período de 1723 e 1752, ao arranjo do que hoje conhecemos como Jardim da Sereia ou Parque de Santa Cruz. O parque destinava-se principalmente ao recolhimento e meditação dos crúzios, mas tinha também funções recreativas como por exemplo o conhecido recinto do Jogo da Pela, logo à entrada do jardim. Após a extinção das Ordens Religiosas, em 1834, o local teve vários proprietários. Em 1885 a Câmara Municipal de Coimbra compra a Quinta de Santa Cruz, tornando-o num espaço público dedicado ao lazer e descanso.

Fachada do Portugal dos Pequenitos
Portugal dos Pequenitos
Espaço mágico onde a criançadinha se diverte ao conhecer todo um Portugal de forma lúdica. Com monumentos reproduzidos ao tamanho dos pequenitos, a brincadeira cultural está mais que garantida.

Ruínas do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
Permanece como testemunha da difícil convivência com as águas do Mondego, já que desde a sua sagração no século XVI até aos nossos dias, é constantemente assolado por destrutivas inundações. As freiras Clarissas, receberam grandes privilégios da Rainha Santa Isabel, padroeira de Coimbra. Após a morte de D. Dinis, recolheu ao convento de Santa Clara-a-Velha onde pediu expressamente para ser sepultada. Aquando da transladação da Rainha Santa para o convento novo, três séculos após a sua morte, constatou-se que o corpo estava incorrupto e foi colocada num túmulo de prata e cristal.

Convento de Santa Clara-a-Nova
Convento de Santa Clara-a-Nova
O preço a pagar pela manutenção de um mosteiro constantemente “debaixo de água” levou à construção de um novo espaço no Monte da Esperança, o Convento de Santa Clara-a-Nova. As freiras abandonaram definitivamente o anterior. Para o novo convento as freiras levaram, além de peças valiosas do patrimônio religioso, os segredos da doçaria conventual que não deixaram fugir com as inclementes águas do Mondego. E ainda bem, pois hoje temos a iguaria dos Pastéis de Santa Clara.

vista noturna do Miradouro do Vale do Inferno no reveillon
Miradouro do Vale do Inferno
Situado em posição privilegiada o Miradouro do Vale do Inferno proporciona ao visitante uma das melhores vistas sobre Coimbra. Encontra-se na encosta de Santa Clara e deste local pode avistar-se a Mata do Choupal, a Lapa dos Esteios, a Quinta das Lágrimas, o desenho do rio a percorrer toda a cidade, assim como a Alta e a Baixa. Como um cartão postal a cidade desdobra-se por completo diante dos olhos do visitante. Aqui também se encontra um painel de azulejo pintado, retratando a própria panorâmica com pormenor e com legenda explicativa.
Jardim Botânico
Este espaço verde é um dos favoritos da cidade, com a larga Alameda das Tílias a convidar a um demorado passeio pela Estufa Grande e pelo Fontanário. Se lhe apetecer esticar este passeio de contato com a natureza, aproveite para explorar a Mata do Jardim Botânico. No meio do bambuzal, encontra-se a singela e modesta capela de São Bento.
Penedo da Saudade
Local romântico que representa o espírito e a singularidade da vivência estudantil, tradicionalmente ligado aos amores de Pedro e Inês, dado que, segundo a lenda, terá sido neste local que ele teria ido para chorar a morte da amada. Antes um simples miradouro, conhecido por Pedra dos Ventos. Por entre a vegetação, pequenos lagos e cascatas, vemos lápides com poemas que relembram os tempos estudantis de academia, com destaque para o Retiro dos Poetas e a Sala dos Cursos, bem como os bustos do escritor Eça de Queirós e do poeta António Nobre e a estátua do pedagogo João de Deus. Aproveite o miradouro com vistas para a Serra da Lousã para assistir ao pôr-do-sol num ambiente sereno e contemplativo.

caminho para a fonte dos amores
Quinta das Lágrimas
A Lenda de Pedro e Inês
D. Pedro, príncipe herdeiro, e Inês de Castro, aia castelhana da princesa, cederam à paixão. Desafiando os preceitos sociais, os dois encontravam-se secretamente nos jardins da Quinta das Lágrimas. A relação, condenada pelo povo e pela corte, teve um fim abrupto em 1355, quando por ordem do Rei D. Afonso IV, Inês foi degolada. No local brotou uma fonte cujas águas têm origem nas suas lágrimas. O sangue do seu corpo mancharia para sempre as pedras da fonte. Ainda hoje vê-se uma estranha mancha de algas avermelhadas na rocha. Louco de dor, e após assumir a coroa em 1357, Pedro ordenou a prisão e a morte dos assassinos, arrancando-lhes ele mesmo o coração. Jurando que se havia casado secretamente com Inês, D. Pedro impôs o seu reconhecimento como rainha de Portugal, e mandou construir no Mosteiro Real de Alcobaça, dois magníficos túmulos, para que pudesse descansar para sempre ao lado da sua eterna amada. A Fonte das Lágrimas é o símbolo do amor trágico de Pedro e Inês. Há ali a estrofe d’Os Lusíadas pela qual Luís de Camões imortalizou esta história.
Gastronomia de Coimbra
Confira também o post sobre onde comer em Coimbra com sugestões de restaurantes, cafés e tascas perfeitas para saborear as delícias típicas da cidade. E como não poderia faltar, veja ainda o post especial sobre a doçaria conventual de Coimbra.
Roteiro Poético por Coimbra
Veja também o post com o Roteiro Poético por Coimbra para conhecer a cidade dos estudantes pelo olhar de diversos escritores portugueses.
Autoria
Julia Medrado (1985–), paulistana, mãe da Patrícia e do Tarcísio, vive em Portugal, é tradutora, publicista e mestre em Literatura e Crítica Literária. Graduada em Letras pela PUC-SP, é também especialista em Gestão de Projetos Digitais pelo SENAC. Presta serviços junto a redatores, revisores e tradutores; em 2010 criou a Tradstar e, desde então, se divide entre projetos, alguns literários e absolutamente pessoais, como este site que leva seu nome.