Vamos percorrer alguns locais, no encalço de poetas portugueses que, vivendo, estudando ou apenas visitando Coimbra, dedicaram alguns poemas à cidade. Faremos, portanto, um roteiro poético por Coimbra. Iniciaremos o itinerário nos Arcos do Jardim Botânico e, parando em alguns pontos previamente combinados, vamos seguir até o Largo da Portagem. Em cada paragem, um ou outro poema relacionado ao local poderá ser apreciado. Ao final, passaremos a conhecer melhor a cidade e também alguns poetas portugueses, com a certeza que Coimbra inspira muitas palavras bonitas. Naturalmente, esta jornada poética coimbrinha é um excelente pretexto para ler poesia e turistar ao mesmo tempo. Vamos?

O itinerário foi feito a partir da coletânea EnCantada Coimbra, organizada por Adosinda Providência Torgal e Madalena Torgal Ferreira. Parte dos poemas vieram daí. A outra parte adveio de pesquisas na internet. A seleção, a ordenação e os grifos são meus.


Lista de Poetas do Roteiro Poético por Coimbra:

  1. Moirika Reker Gilberto Reis – poema-instalação –
  2. Manuel Alegre Arcos do Jardim | Torre de Anto
  3. Alberto de Oliveira Pelo Jardim Botânico… | Entrada nas aulas
  4. António Nobre
  5. Manuel Silva-Terra –
  6. David Mourão-Ferreira –
  7. D. Dinis –
  8. Vitorino NemésioCantigas de Coimbra
  9. António de Sousa –
  10. Eugénio de Castro –
  11. Mário Saa Ali à Sé Velha
  12. Vasco Pereira da Costa Largo da Portagem
  13. Miguel Torga – Portugal

1 – ogivas de melancolia no aqueduto

O ponto de partida do nosso roteiro é o Aqueduto São Sebastião, popularmente conhecido como Arcos do Jardim, dada a sua localização contígua. Mandado construir em 1570 pelo rei D. Sebastião para abastecer de água a Alta da cidade, o aqueduto aproveita o traçado de um precedente romano. O primeiro arco, chamado “arco de honra” difere dos demais, pois é rematado por uma cornija, na qual vemos o escudo de Portugal. Depois temos um detalhe baldaquino, assente sobre colunelos dóricos e coroado por cúpula e lanternim. A cada lado dos arcos vemos nichos com as imagens de São Sebastião e São Roque. Tantos detalhes não roubam o charme do jardim, que costuma estar sempre à risca. Na rotunda de acesso, podemos ler nos muros dos arcos um poema-instalação de Moirika Reker Gilberto Reis, que foi parte da Bienal de 2015. A natureza e a intervenção do homem ocupa um papel central na sua reflexão.

 

“Escutai!
Um vento morreu.
Não vos dais conta?
Somos jardineiros e não flores.”


Arcos do Jardim

de Manuel Alegre


Todos os dias sob os Arcos do Jardim
Todos os dias eu passava e nunca via
Senão arcos e arcos entre o não e o sim
Senão arcos e ogivas de melancolia.
Eram arcos no ritmo e na palavra
Por dentro da sintaxe e em cada imagem.
Todos os dias sob os Arcos eu passava
Todos os dias para a outra margem.
Eram arcos na rima e não havia
Senão arcos e grades e arquitraves.
Mas eu passava sob os Arcos e partia
Todos os dias eu partia com as aves.

 

Manuel Alegre 🇵🇹 (1936-) nasceu em Águeda. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, tendo-se distinguido na oposição ao Estado Novo, vivendo exilado em Paris e na Argélia. Após o 25 de abril, regressou a Portugal, militando no PS, distinguindo-se em diversos momentos da vida política. Foi candidato à Presidência da República em 2006. A sua obra é extensa e traduzida em várias línguas.

2 – balouço do Seminário Maior

Bem corretinhos, vamos visitar rapidamente o balouço do Seminário maior para apreciar um poeta ligeiro que muito gosto faria de ver sua obra tratada em solo tal. De presente, ganhamos uma vista maravilhosa e uma venda poética bastante individual, que traz para o nosso roteiro um tom um bocadinho introspectivo, ainda que estejamos juntos nessa caminhada…

 

 

 

E tu baloiças pelos olhos dentro
Inundando de paisagens a ceguez

Daniel Faria 🇵🇹 (1971-1999) precocemente falecido aos 28 anos de idade, quando estava prestes a concluir o noviciado no Mosteiro Beneditino de Singeverga.

3 – toutinegras do Jardim Botânico

Partamos então como aves para este espaço verde, que é um dos favoritos da cidade. Com sua larga Alameda das Tílias a convidar a um demorado passeio pela Estufa Grande e pelo Fontanário. Se nos apetecer podemos esticar o passeio de contato com a natureza, para explorar a Mata do Jardim Botânico. No meio do bambuzal, encontra-se a singela capela de São Bento. E talvez seja possível descobrirmos afinal o que vêm a ser as toutinegras, pois o jardim frequentemente recebe estudantes e pássaros, ambos de espécimes cançonetistas.

Pelo Jardim Botânico…

de Alberto de Oliveira

Pelo Jardim Botânico, à tardinha…
É a hora ritual do sol poente,
Quando as tílias rescendem docemente
Na avenida cismática e sozinha.
Quisera ver raiar na minha frente
Alguma namorada Teresinha,
Cruzar no dela o meu olhar ardente,
Ter enlaçada na sua mão a minha.
Amam em cada ninho as toutinegras,
Chamejam, ao passar, as capas negras,
Como se a luz do amor as penetrara…
Tange um sino suave no convento…
E o sol exausto, em seu ocaso lento,
Acaba de morrer em Santa Clara.

Porta-Férrea da Universidade

E por falar em música, vamos estudar melhor a melodia da cidade. Todas as notas nos levam à Universidade, pois não? Nem sempre, mas neste caso, de certo que sim. Mas antes de entrarmos pela porta principal, a Porta-Férrea, como bons alunos que somos, vamos ainda seguir o trajeto que muita história nos conta. Sejamos boas ovelhas ou anhos, assim como o poeta deste ponto sugere que são os estudantes daqui.

Entrada nas aulas

de Alberto de Oliveira

Porta-Férrea! Gerais! Via Latina!

Nomes que só dizê-los é bastante
Para voltar ao tempo de estudante
E trajar outra vez capa e batina!

Do claustro dos Gerais a poeira fina,
Que as capas enfarinha, é semelhante
À que mais tarde, pela vida adiante,
Será neve das cãs na fronte em ruína…

À porta da aula, limiar do aprisco,
Por nós espera, gótico ou mourisco?
Pedro Penedo, o mítico Doutor.

E cada qual de nós, ovelha ou anho,
Acode pressuroso ao seu rebanho,
Chamado pela vara do pastor.

Alberto de Oliveira 🇵🇹 (1873-1940) foi um poeta português nascido no Porto, frequentou a Universidade de Coimbra, onde conheceu António Nobre e Eugénio de Castro. Das polêmicas literárias desses tempos, nasceram os movimentos simbolista e decadentista. Palavras Loucas é a sua obra mais conhecida. É considerado o fundador do neogarrettismo, defendendo, sob a inspiração literária de Almeida Garrett, o nacionalismo e a recuperação da literatura popular, bem como o abandono de modelos culturais estrangeiros.

Escadas Monumentais

Seguindo pela Rua Larga, encontramos a estátua do rei D. Dinis, fundador da Universitas Conimbrigensis, olhando do alto das Escadas Monumentais da Universidade. Logo à direita, o Museu de História Natural antecede o Aqueduto São Sebastião,

Coimbra
de Manuel Silva-Terra

Às 9h da manhã, um homem
Subia as escadas monumentais com uma
Borboleta poisada no ombro.
Nunca vi ciência mais exata.

 

 

Manuel Silva-Terra 🇵🇹 (1955-) nasceu em Orvalho, localidade do concelho de Oleiros. Estudou Filosofia na Universidade de Coimbra. Destacou-se como poeta e editor da Editora Licorne. Fragmentos, Campos Magnéticos, Condomínio, ou Lira, o seu último livro, são algumas das suas obras. Reside em Évora onde é professor do ensino secundário.

Polo I – Estátua do Dom Dinis

Fala Apócrifa de Dom Dinis
de David Mourão-Ferreira

Toda a vida cantei.
(Ou foi pedir socorro?)

Jogral,
Em meu pinhal,

O próprio vento canta.
Mas sei, enfim, que morro
Desta fome que é ter
Por mulher
Uma Santa.

Jogral,
em meu pinhal,
já só o vento canta.


David Mourão-Ferreira 🇵🇹 (1926-1996) Nasceu em Lisboa. Licenciado pela Universidade de Lisboa, onde foi professor catedrático, foi Secretário de Estado da Cultura e diretor do jornal A Capital, já desativado. Foi um dos responsáveis pelas bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi ensaísta, romancista, poeta, crítico literário e tradutor. Vencedor de vários prêmios literários, de entre a poesia destacam-se: A Secreta Viagem, Do Tempo ao Coração», Cancioneiro do Natal, Matura Idade e Ode à Música.

 

(Ai flores, ai flores do verde pinho)
de Dom Dinis

Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?

Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?

Vós me preguntades polo vosso amigo?
E eu ben vos digo que é sano e vivo.

Vós me preguntades polo vosso amado?
E eu ben vos digo que é vivo e sano.

E eu ben vos digo que é sano e vivo
e seerá vosco ante o prazo saido.

E eu ben vos digo que é vivo e sano
e seerá vosco ante o prazo passado.
Ai, Deus, e u é?

D. Dinis 🇵🇹 (1261-1325) Nada menos que o 6º rei de Portugal, filho de D. Afonso III e de D. Beatriz de Castela, nasceu a 9 de outubro de 1261 e faleceu em 1325. Aclamado em 1279, foi um dos mais longos reinados da história de Portugal. Deu um grande impulso à cultura, tornando oficial o uso da língua portuguesa, e fundando em Lisboa, em 1290, um Estudo Geral. Mandou traduzir importantes obras e foi, ele próprio, um destacado poeta.

 

Rio Mondego

Todas as tardes, vou Léman acima
 de António Nobre

Todas as tardes, vou Léman acima
(E leve o tempo passa nessas tardes)
A pensar em Coimbra. Que saudades!
Diogo Bernardes deste meigo Lima.

Na solidão, pensar em ti, anima,
Oh Coimbra sem par, flor das Cidades!
Os rapazes tão bons nessas idades
(Antes que a vida ponha a mão em cima)

Alegres cantam nos teus arrabaldes.
Por mais que tire vêm cheios os baldes,
Mar de recordações, poço sem fundo!

Freirinhas de Tentúgal, passos lentos!
E o chá com bolos, dentro dos conventos!
Meu Deus! meu Deus! E eu sempre a errar no Mundo!

Torre de Anto

Torre de Anto
de Manuel Alegre

Uma torre constrói-se com palavras
com lembranças com vírgulas
com desastres
como um corpo despido devagar
como vida virada do avesso
poisada sobre o vento e sobre a chuva
uma torre constrói-se com mãos nuas
uma torre com versos hemoptises
e com tudo o que fica depois
de tudo:
as cartas os retratos restos
pó.
Uma torre com duas letras
só.

Arco de Almedina

 

Arco de Almedina
de Manuel Alegre

Sob o Arco de Almedina entre o ditongo e o til
lá onde cheira a nardo e a jasmim
no interior dos pátios entre a cedilha e o trema
do outro lado da língua onde de súbito
o poema.

Sob o Arco da Almedina sob o Arco
entre azulejo e álgebra
lá onde mora aquela que não vem
sob o Arco de Almedina onde de súbito
ninguém.

Sol e sombra no canto e no silêncio
sob o Arco de Almedina onde o alaúde
canta um amor perdido entre o salgueiro e o barco.
Sob o Arco de Almedina. Sob
o Arco.

 

 

 

Cantigas de Coimbra

Rio que corres tão fundo,
Erva e choupos corcovados,
Nem toda a água do mundo
Faz os meus versos lavados!

Coimbra, minha madrinha!
Mondego, meu coração!
Ó Alta, a noiva que eu tinha
Morreu e pura paixão!

O meu amor que é Letrado,
Mandou-me dizer a mim
Que não me quer (desalmado!)
Com proclames em latim!

O meu bem anda em Direito
Aprende para juiz:
Mostra que guarda preceito
Nas sentenças que me diz.

O meu amor é estudante,
Caloiro de Medicina:
Já me opera o coração
Com sua lanceta fina.

O meu amor é estudante,
Vai-se formar em Ciências:
Não quero que se adiante,
Que as fitas medem ausências.

Amor que não quer sarar
Passa com panos de arnica:
Por isso eu quero casar
Com quem me ponha botica.

Já me formei em amores,
Tomo capelo em saudades:
Deitei fitinha de cores
Pelas cinco Faculdades.

As tricanas são da Alta,
Os futricas de Sansão,
O Mondego deu à malta
Um choupo por coração.


António de Sousa 🇵🇹 (1898-1981) Nascido na cidade do Porto, licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, colaborou em diversas revistas literárias. A sua poesia revela influência de António Nobre. Trabalhos mais importantes: Caminhos, Sete Luas, O Náufrago Perfeito, Jangada, Livro de Bordo, Linha de Terra, Terra ao Mar.

 

 

Trovas de Coimbra

Meu destino de estudante,
que hei de ser por toda a vida,
foi ir passando adiante
duma Coimbra perdida.

Fui às aulas nos Gerais
– a Cabra a chamar por mim. –
Lá me formei por demais,
mas só Deus sabe o meu fim.

Minha Coimbra, quem prova
como eu provei teu sabor?
António da Lua Nova,
menino do teu amor.

Só tu, meu Anto moreno,
Lá da Torre a vigiar
Se o luar voga sereno,
Se já passou o luar.

Coimbra – Santa Isabel,
como tu, linda e doente!
De manhã – favo de mel;
cravo roxo ao sol poente.

Ó Coimbra do Mondego
e dos amores que lá tive!
Quem te não viu anda cego;
quem te não ama, não vive.

Do Choupal até à Lapa
foi Coimbra os meus amores.
A sombra da minha capa
deu no chão, abriu em flores.

 

Palácios Confusos

Na minha doce Coimbra, a sul virado,
Dominando o Mondego e os seus salgueiros,
Há um bairro de humildes pardieiros,
Que Palácios Confusos é chamado.

Tão belo nome evoca no passado
Rica chusma de paços altaneiros
Com torres, grimpas, varandins ligeiros
E flâmulas a arder no céu lavado.

O tempo voador, que tudo come,
De tais riquezas só poupou o nome;
Tudo ali hoje é pobre, velho e estreito,

Sem um vislumbre do esplendor extinto!
Ó Palácios Confusos, também sinto
Uns palácios confusos no meu peito!

 

Epígrafe

Murmúrio de água na clepsidra gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre…

Homem, que fazes tu? Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa…

 

 

Eugénio de Castro 🇵🇹 (1869 -1944). Nasceu e morreu em Coimbra. Licenciado na Faculdade de Letras, foi seu professor e diretor. Considerado o fundador do Simbolismo na literatura portuguesa, polemizou com António Nobre e Alberto de Oliveira. Oaristos é o seu livro mais famoso. A casa onde nasceu o poeta fica na rua Ferreira Borges.

Sé Velha

Ali à Sé Velha
de Mário Saa

Bocas e violas, num rojar de rondas,
Timbram de outrora o luar duma cantiga;
Mulheres formosas da cidade antiga
Estendem-se mortas, rígidas de lua!

Ergue-se a abóbada da arcaria às ondas,
Tangem violas os chorões da rua;
É a hora em que a saudade se insinua
Como um vislumbre num canal de gôndolas.

Amainaram as violas, na noite alta.
Quem assobia assobiadelas de ópera.
Quem passa, agora, nos desvãos da rua?…

Vão-se apagando as luzes da ribalta,
Sobre o pano de boca o vento sopra,
Pintada e trémula a Catedral flutua…

Mário Saa 🇵🇹  (1893-1971) Nasceu em Caldas da Rainha, vindo a falecer em Avis, no Alentejo, de onde era originária a sua família. Foi onde viveu a maior parte da sua vida, numa grande propriedade familiar. Frequentou vários cursos que nunca concluiu, desenvolvendo a sua atividade cultural em muitos domínios, desde a arqueologia à poesia. O anti-semitismo é uma das facetas menos divulgadas do seu pensamento. Como poeta, frequentou as principais tertúlias do seu tempo, publicando nas revistas mais famosas, entre elas a Presença.


 

Largo da Portagem

O poema pode ser lido em frente ao local onde o poeta Miguel Torga mantinha o seu consultório médico, no Largo da Portagem.


Largo da Portagem,
de Vasco Pereira da Costa

Desperta o rio
Ao lado da cidade quieta

Esvai-se a noite em amor
Em quimera e desafio
Numa balada do Zeca

Uma vela de sol moço
Acorda
E repõe o alvoroço
Na barca da rebeldia

Trás da janela do Torga
Portugal parte à poesia.

Vasco Pereira da Costa 🇵🇹 Natural de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, e vive em Coimbra desde 1966, onde se licenciou na Faculdade de Letras em Filologia Românica. Publicou Nas Escadas do Império, Amanhece a Cidade, Venho cá mandado do Senhor Espírito Santo, Memória Breve, Riscos de Marear, Sobre-Ripas/Sobre-Rimas, Terras e My Californian Friends. Em 1984, recebeu o Prémio Literário Miguel Torga.

 


Portugal
de Miguel Torga

Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.

 

Miguel Torga é pseudônimo de Adolfo Correia Rocha 🇵🇹 (1907-1995) Nasceu em S. Martinho de Anta, viveu no Brasil durante a infância, vindo a licenciar-se em Medicina, em Coimbra, onde passou a viver. Foi autor de peças dramáticas e ficcionista, além de poeta.  Estreou-se com Ansiedades, destacando-se no domínio da poesia com Orfeu Rebelde, Cântico do Homem, bem como através de muitos poemas dispersos pelos dezasseis volumes do seu Diário. Recebeu o Prémio Camões em 1989 e o prêmio Vida Literária (atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores) em 1992.


Chegam e logo partem,
de José Ribeiro Ferreira

Um dia os vê chegar, no outro partem.
Povoam-nos a vida de sonhos ano a ano
E a luz conforta os olhos.

Algo de nós se vai, ou nos fica deles parte?

Sobre cada um o silêncio cai fecundo
E sem espera a partida erma nossos passos.

Dos sonhos que trouxeram crescem sonhos?
Dentro de alma livre voa o pensamento?
Alongue-se o tempo,
Esfumem-se as imagens,
Diluam-se as palavras…

Não é ermo,
Não limita o silêncio que se cria.

José Ribeiro Ferreira 🇵🇹 ( ) Nascido em Santo Tirso, é professor catedrático jubilado na Faculdade de Letras de Coimbra. Tem mais de uma centena e meia de trabalhos publicados – entre livros, artigos em revistas e enciclopédias. No domínio da poesia é autor de Ulisses sem Feaces, Os Olhos no Presente, Pesa o Momento a Eternidade, Telhas de Outro Alpendre, A Outra Face do Labirinto.

 

 


 Onde Comer em Coimbra

Confira o post onde comer em Coimbra com sugestões de restaurantes, cafés e tascas perfeitas para saborear as delícias da cidade. Veja ainda o post especial sobre a doçaria conventual. Veja também o post Coimbra, a cidade dos estudantes para conhecer alguns pontos turísticos da cidade. E há ainda uma lista completa dos autores portugueses cujos trabalhos foram marcados ou estudados neste site.


Autoria

Julia Medrado (1985–), paulistana, atualmente vive em Portugal, é tradutora, publicista e mestre em Literatura e Crítica Literária. Graduada em Letras pela PUC-SP, é também especialista em Gestão de Projetos Digitais pelo SENAC. Presta serviços junto a redatores, revisores e tradutores; em 2010 criou a Tradstar e, desde então, se divide entre projetos, alguns literários e absolutamente pessoais, como este site que leva seu nome.