amar a tristeza

Emil M. Cioran

O pecado não é estar triste, mas amar a tristeza. Cultivei-a de todas as formas, por necessidade e não por coquetismo. Amo as cantilenas espanholas, húngaras e argentinas, amo a tristeza em todas as suas formas, em todas as latitudes e níveis, do mais baixo ao mais alto.

CIORAN, Cahiers: 1957-1972

Image: Kristin Vestgård


Emil M. Cioran 🇷🇴 (1911 — 1995) foi um escritor e filósofo romeno radicado na França. Em 1949, ao publicar “précis de decomposition”, passa a assinar E.M. Cioran, influenciado por E.M. Forster — esse “M” não tem nenhuma relação com outros nomes do filósofo (como Michel, Mihai, etc.) Um dos melhores conhecedores da obra de Cioran é o filósofo espanhol Fernando Savater, um de seus mais importante livros adentrando no pensamento de Cioran é Ensayo Sobre Cioran, de 1974. Ambos eram próximos e o livro termina numa entrevista com o filósofo romeno, mostrando um pouco de seu lado pessoal. Principais interesses: antinatalismo, misantropia, suicídio. Trabalhos notáveis: Breviário de Decomposição, Silogismos da Amargura, Exercícios de Admiração.

Passeio amoroso por Amarante

Portugal

Amarante é uma cidade à beira-rio do amor, da doçaria e da arte. Por isso, este roteiro é um passeio amoroso por uma aldeia que já existia em 1200, cresceu, cresceu, mas só foi elevada à categoria de cidade em 1985. Hoje Amarante tem cerca de 50 mil habitantes e a área urbana forma belos cenários junto a prédios históricos. Às margens do rio Tâmega, vemos a ponte a atravessá-lo como seta de querubim. Situada entre Peso da Régua (no vale do Rio Douro) e Guimarães, Amarante pode ser uma parada deliciosa para roteiros no Norte de Portugal. Os doces conventuais trazem lendas e formatos picantes, misturando fé com paganismo na medida certa. Os destaques culturais são o autor Teixeira de Pascoaes, no saudosismo português; a autora Augustina Bessa Luís; e o garboso pintor Amadeo de Souza Cardoso. Para mim, pessoalmente, tem um fator ainda mais intenso: é a cidade da minha bisavó materna. 🖤 Amarante é amor gigante.


Passeio bucólico à beira do rio Tâmega

Para dar um tom mais romântico ao aéreo rio, como diz o verso de Teixeira de Pascoaes, nada melhor que um passeio lânguido, mesmo à neblina, em uma das “guigas”, pequenos barcos que deslizam silenciosos. Às margens, elegantes choupos se debruçam na água. Também pontilham margaridinhas por todo o caminho. Reza a lenda que São Gonçalo, em 1250, mandou construir uma travessia entre as margens. A ponte desmoronou no século XVIII devido às cheias, mas foi recuperada.


A ardência da Invasões Francesas

Foi em Amarante que o exército português resistiu ao invasor francês, liderado por Napoleão, que acabou incendiar a cidade em 1809. Como um Soneto do poeta F. Cabral feito quando se estava defendendo a Ponte de Amarante, retirado do livro “Pequena História de Amarante, compilada por Luís Van Zeller Macedo, em 1989, relata os acontecimentos

“De uma nuvem de fumo o ar povo-a,
E do Tamega enluta as margens frias,
O Portuguez canhão quatorze dias
Que sem descanço ter fuzilla atro-a:
De hum lado para o outro a morte vo-a
No meio das crueis artilharias,
E perdendo as antigas ousadias
Ja o duro Francez acurva a pro-a:
Amigos Hespanhoes, nação brilhante!
Olhai como seguimos a vossa esteira
Eis nova Saragoça, eis Amarante:
Os olhos ponha em nós a Europa inteira;
E veja em amplo quadro flamijante
Tamega, Ebro, Palafox, Silveira.”


Dez pontos turísticos imperdíveis de Amarante

  1. Ponte de São Gonçalo
  2. Igreja e Convento de São Gonçalo
  3. Igreja de São Pedro
  4. Igreja de São Domingos e Museu de Arte Sacra
  5. Museu Municipal Amadeo de Souza Cardoso
  6. Casa da Calçada
  7. Solar dos Magalhães
  8. Praia Fluvial Aurora
  9. Parque Ribeirinho e Parque Florestal de Amarante
  10. Casa de Pascoaes

Quadras para São Gonçalo, o casamenteiro

São Gonçalo, embora não fosse amarantino, tornou-se a maior figura da cidade. Ali mora a sua imagem que é alvo de particular atenção das solteironas mais velhas. Reza a lenda que quem puxar o seu cordão encontrará marido no prazo de um ano. Outros dizem que é preciso tocar no túmulo… Depois comer o doce fálico… E tal e coisa… Esta tradição casamenteira está intimamente ligada as esperanças e promessas quase impossíveis, daí o tom jocoso e bem humorado da proposição de um compromisso tão complicado.

São Gonçalo de Amarante
Casai-me que bem podeis
Já tenho teias de aranha
Naquilo que vós sabeis

Não se sabe como começou tal especialidade do santo, e até causa alguma apreensão às moças mais novas, que já reclamam sua própria quadra, cantada nas romarias de junho. São Gonçalo, embora não fosse amarantino, tornou-se uma grande figura da cidade. A atual especialidade da confeitaria, os doces conventuais e o duro milagre de São Gonçalo. O doce fálico de Amarante é diferente de todos os outros: feito com massa fofa, visto que o original é de massa de rosquilha, mais duro, e também leva recheio de creme. Antigamente, se vendiam apenas na rua, durante as romarias, e eram compradas por gajos e raparigas. Quando eram oferecidas às escondidas, empregadas à missão específica, as “ferramentas de São Gonçalo” serviam para comunicar intenções. Durante o Estado Novo os doces fálicos foram considerados obscenos, um terrível atentado à moral.

São Gonçalo de Amarante
Casamenteiro das velhas
Porque não casais as novas
Que mal vos fizeram elas?


Doze Sugestões de Onde Comer em Amarante

  1. Pobre Tolo | $$$ | personagem do livro homônimo de Teixeira de Pascoaes
  2. Confeitaria da Ponte |  link | aberta desde 1930 e com vista privilegiada
  3. Confeitaria Lailai | decoração especial de bibelôs e doces
  4. Quelhas | cozinha tradicional
  5. Restaurante Pena | $$$ |  link  | chic
  6. A Taberna | polvo crocante e migas de bacalhau
  7. Taberna do Miranda | comida simples e clean
  8. Adega Filhos de Moura | link | leitão bísaro
  9. Craft Beer | cervejas importadas, inclusive a deliciosa belga Cup d’ Troll
  10. Quinta da Lama | rústico, carnes bonitas
  11. Casa Herédio | sandes de leitão com champanhe, ambiente classy
  12. Taberna do Coelho | link | cabrito assado, feijoada transmontana, palmier de canela com gelado de tangerina

Amarante é também um tesouro no universo do Vinho Verde. Há lugares e eventos dedicados ao vinho, onde se conhece processos de produção, provas e ainda se pode experimentar sabores únicos a partir de castas da região.


Outros Pontos de Interesse em Amarante

  1. Mercado Municipal de Amarante
    Às quartas e sábados, o Mercado Municipal de Amarante enche-se de comerciantes locais. Pastelaria, fumeiro, legumes e frutas à venda. O mercado foi inaugurado em 1963.
  2. Doces conventuais da região 
    Nas montras encontramos vasta pastelaria, mas os doces conventuais dominam: foguetes, lérias, Tinocas, brisas do Tâmega, as clássicas ferramentas de São Gonçalo e papos de anjo são os cincos doces típicos da região.
  3. Igreja de São Gonçalo
    Erguida em 1540 a mando de D. João III, a igreja foi construída no lugar onde se acredita que São Gonçalo foi sepultado. Para que o altar fosse por cima do túmulo do santo, a igreja foi construída ao contrário do que é normal – a entrada principal é na lateral. O interior da igreja foi feito ao estilo barroco, e durante as Invasões Francesas foi o abrigo dessas tropas, que a pilharam e destruíram. Os efeitos dos franceses também se podem ver no exterior, graças às marcas das balas de canhão nas paredes.
  4. Museu Amadeo de Souza Cardoso

Onde se hospedar em Amarante

  • Casa do Fontanário | super confortável, com vista do rio
  • Hotel Navarra | link  | 60 € a diária | business
  • Carvoeiro Boutique Aptos | link 106 € a diária
  • Casa Lérias | link |  75 € a diária |  soberbo
  • Des Arts | link | 80 € a diária | contexto histórico, pois foi o primeiro hotel da cidade
  • Casa de Pascoaes | link | 85 € a diária | contexto cultural, pois foi residência de Teixeira de Pascoaes

às vezes se deseja escapar da estupidez

Boris Pasternak

Como às vezes se deseja escapar da estupidez sem sentido da eloquência humana, de todas essas frases sublimes, para refugiar-se na natureza, aparentemente tão inarticulada, ou na falta de palavras de um longo trabalho árduo, de um sono profundo, de uma música verdadeira, ou de uma compreensão humana, emudecida pela emoção.

[…] E assim se concluiu que somente uma vida semelhante à vida daqueles ao nosso redor, mesclando-se a ela sem murmúrio, é vida genuína, e que uma felicidade não compartilhada não é felicidade. E isso era o mais perturbador de tudo.

In: Doutor Jivago


How one wishes sometimes to escape from the meaningless dullness of human eloquence, from all those sublime phrases, to take refuge in nature, apparently so inarticulate, or in the wordlessness of long grinding labor, of sound sleep, of true music, or of a human understanding, rendered speechless by emotion.

Dr. Zhivago


Boris Pasternak 🇷🇺 (1890-1960) Prêmio Nobel,